Senado italiano descarta moção de censura a governo e se reúne em uma semana

Senado italiano descarta moção de censura a governo e se reúne em uma semana

Parlamento se recusou a submeter o Giuseppe Conte a uma moção de censura solicitada pelo ultra-direitista Matteo Salvini

AFP

Senado italiano adiou qualquer decisão sobre a crise do governo até 20 de agosto

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O Senado italiano, convocado em caráter de urgência, rejeitou nesta terça-feira (13) o pedido da extrema-direita de submeter o governo de Giuseppe Conte a uma moção de censura, e convocou o premiê para explicar a nova situação política em uma semana. Depois de o homem forte da Itália, o ultradireitista Matteo Salvini, fazer seu próprio governo implodir ao romper inesperadamente sua aliança com o Movimento 5-Estrela (M5E, antissistema), a crise passou para o Parlamento, como determinado pela Constituição para um regime parlamentar.

A tática de Salvini de pedir eleições antecipadas imediatas fracassou e acabou levando as demais forças políticas, particularmente o Partido Democrata (PD, de centro esquerda), a se aliarem para impedir que o país seja governado pelo líder de extrema direita. O temor é que se imponha um personagem como Salvini, que na semana passada chegou a pedir "plenos poderes" ao povo, uma frase que foi como um balde d'água fria, pois o único que o fez na Itália foi Benito Mussolini, em 1922, abrindo a via para a ditadura fascista.

"Primeira derrota de Salvini", intitulou o jornal Il Fatto Quotidiani, ligado ao M5E, que apoia abertamente uma nova aliança política entre os antissistema e os social-democratas do PD. Salvini goza de enorme popularidade e em 14 meses no poder, graças a uma campanha incessante em todos os veículos possíveis, colheu, segundo as pesquisas, 36% de popularidade com sua política de linha dura contra a migração e sua diretriz, "os italianos primeiro".

Esta terça-feira foi um dia chave também porque o ex-premiê Matteo Renzi (2014-2016), dirigente do PD, pediu para formar um "governo institucional" com vistas à crise política, o que descartaria a queda do governo de Conte. A manobra de Salvini, de desatar a crise e pedir eleições antecipadas imediatas em plena temporada de férias, gerou paradoxalmente a formação de uma frente com setores do PD e do M5E, dispostos a conter sua ascensão junto com a extrema esquerda.

"O homem invencível fracassou, desatou uma crise inexplicável e agora sua popularidade nas pesquisas despenca notavelmente", comentou Renzi ao se referir ao ministro do Interior e líder da Liga. "A Itália corre o risco de cair em uma grave recessão em caso de eleições antecipadas em outubro", advertiu Renzi, que teme o aumento do IVA para 25% pelas cláusulas de salvaguarda.

Negociações na sombra

"Com o debate para 20 de agosto ganham uma semana para negociar", explicou à AFP Aldo Garzia, que cobriu o Parlamento por anos. Para romper a eventual aliança entre o PD e os populistas do M5E, que foram inimigos íntimos, Salvini ofereceu aos antissistema para apoiar sua proposta principal de redução do número de parlamentares de 925 a 625 e celebrar sucessivamente eleições antecipadas.

Uma estratégia que obriga o M5E a tomar uma decisão ante o novo panorama político. O PD se tornou um elemento-chave para a saída da crise e apesar de suas divisões, se apresentou unido. A ideia de uma aliança assim já recebeu o beneplácito do fundador do M5E, o comediante Beppe Grillo, que, após permanecer afastado da política italiana por vários meses, ressurgiu para exortar que se faça o necessário para evitar que "os novos bárbaros" cheguem ao poder.

Vários parlamentares de partidos pequenos, inclusive da extrema esquerda, também se pronunciaram a favor de uma aliança entre o M5E e o PD. A nova situação política oferece muitas margens de manobra ao presidente da República, Sergio Mattarella, árbitro acima das partes e com a faculdade constitucional de propor saídas. Várias hipóteses continuam sendo avaliadas, entre elas a de um governo técnico, outro retocado, novamente presidido por Conte e com ministros do M5E e com o apoio externo do PD e outras formações, e inclusive eleições antecipadas.

Como sinal de que esta é uma crise inédita, o jornal La Repubblica sustenta em um editorial que o sistema político está para mudar a geografia, após a invasão do antipolítico nas instituições e na democracia, "com promessas de uma falsa revolução que são, na verdade, a deslegitimação da República", escreveu o diretor Ezio Mauro.


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