Tecido egípcio conserva qualidade após 4 mil anos

Tecido egípcio conserva qualidade após 4 mil anos

Tecido funerário repousa desde 1929 nas coleções do Museu do Louvre, em Paris

AFP

publicidade

Um tecido de linho do antigo Egito conservou qualidades mecânicas notáveis após 4.000 anos, o que justifica o uso crescente dessa fibra em materiais compósitos. A informação consta em um estudo divulgado no periódico Nature Plants, nesta segunda-feira (13). De cor bege e datado de entre 2140 e 1976 a.C., o tecido funerário repousa desde 1929 nas coleções do Museu do Louvre, em Paris.

Uma equipe de cientistas do Instituto de Pesquisa Dupuy de Lôme (IRDL), da Université Bretagne Sud, submeteu-o a toda uma bateria de testes para comparar sua resistência e a conservação de sua estrutura com as de um tecido de linho moderno. Os pesquisadores ficaram "muito surpresos, quando observaram propriedades semelhantes da fibra após quatro mil anos de envelhecimento, e quase nenhuma diferença em seu desempenho mecânico", disse à AFP Alain Bourmaud, engenheiro de pesquisa do IRDL e principal autor do estudo.

A observação das fibras pelos meios mais modernos, do microscópio eletrônico à tomografia (técnica de exame de tecidos) por raios X, passando por ressonância magnética nuclear, confirmou o "know-how" dos antigos egípcios. Eles sabiam extrair a fibra do linho de uma forma que possibilitava a obtenção de fios "de grande finura, muito difícil de reproduzir mesmo com os meios atuais", segundo o pesquisador. Mas, apesar de sua durabilidade, os fabricantes ainda temem que a fibra sofra com a passagem dos anos.

"Através do estudo do envelhecimento dessas fibras antigas, queremos aprender lições para desenvolver materiais mais eficientes", explicou Bourmaud. A fibra de linho já é encontrada em um grande número de materiais compósitos para os setores automotivo, náutico, ou aeroespacial. "No seu carro, provavelmente, você tem fibras de linho, misturadas com polímeros, no porta-malas e nas portas, mas também nas peças injetadas", segundo Bourmaud.

Há um forte argumento a favor de seu uso. A fibra de linho tem desempenho equivalente ao da fibra de vidro, muito utilizada na indústria, mas é muito mais leve. E este é um "argumento forte que interessa aos utilizadores de materiais compósitos", afirma Bourmaud, acrescentando que sua capacidade de amortecimento é maior que as fibras de vidro, ou de carbono.

O estudo do tecido mortuário egípcio também revelou pontos fracos, que a equipe do IRDL pretende explorar mais, com testes de ruptura em particular. Para isso, recuperaram minúsculas amostras de outros tecidos, dos quais os mais antigos têm 5.000 anos. E esperam estudar outros com a colaboração do Instituto Francês de Arqueologia Oriental, no Cairo.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895