Trump é acusado de comprometer segurança dos EUA em benefício próprio

Trump é acusado de comprometer segurança dos EUA em benefício próprio

Declaração ocorreu durante debates que irão determinar abertura de um processo de impeachment contra presidente

AFP

Declaração ocorreu durante debates que irão determinar abertura de um processo de impeachment contra presidente

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Os democratas no Congresso dos Estados Unidos acusaram o presidente Donald Trump de estar disposto a comprometer a segurança nacional para favorecer sua reeleição em 2020, durante a abertura, nesta quarta-feira, dos debates para determinar se há méritos para um processo de impeachment do chefe de Estado. Esta avaliação das provas reunidas acontece em um clima hostil, que reflete a profunda divisão entre os campos democrata e republicano.

Em meio ao início da revisão das evidências reunidas pela investigação para um eventual julgamento político do presidente - iniciada há dois meses -, os republicanos afirmaram que os democratas estavam fazendo pressão para um demitir um presidente eleito democraticamente. Ao pedir a Kiev que investigasse Hunter Biden, filho de Joe Biden, um potencial adversário nas eleições presidenciais do próximo ano, Trump "incitou direta e explicitamente uma interferência estrangeira em nossas eleições", afirmou Jerry Nadler, presidente do Comitê Judiciário da Câmara dos Deputados, na abertura da audiência pública. "Ele usou os poderes de seu gabinete para tentar alcançar seu objetivo. Ele enviou seus emissários para deixar claro que era isso que ele queria", enfatizou. "Ele estava disposto a comprometer nossa segurança e sua posição para benefícios pessoais e políticos", acrescentou.

Mas o número dois do Comitê Judiciário, Doug Collins, tomou da palavra para rejeitar essas acusações, sugerindo que os democratas querem organizar um "golpe de Estado" através desse procedimento. "É uma farsa", disse o legislador republicano. Então, ironicamente, ele citou uma declaração antiga de Nadler durante o processo de impeachment do presidente Bill Clinton em 1998: "O golpe partidário cairá em infâmia na história da nação", disse ele, lembrando suas palavras. "Estamos fazendo um julgamento político sem fatos", afirmou, rejeitando o relatório final sobre a investigação contra Trump, publicado na terça-feira. "Temos um ódio profundamente enraizado por um homem que veio à Casa Branca e fez o que ele disse que faria", disse Collins, referindo-se a Trump. "Este não é um julgamento político, mas uma perda de tempo".

Os democratas publicaram seu relatório de investigação na terça-feira, alegando ter "evidências esmagadoras" do "comportamento inadequado" do presidente, e apontando que ele deveria ser destituído do cargo por abusar de seus poderes, ao pressionar a Ucrânia para prejudicar um adversário eleitoral. No Reino Unido, onde se encontrava participando na cúpula da Otan, Trump disse que o relatório é uma "piada" e criticou que a audiência seja realizada enquanto ele se encontra fora do país. "O que eles estão fazendo é algo muito ruim para o nosso país", disse Trump.

A oposição democrata, por outro lado, está convencida de que Trump pressionou Kiev e abusou de seus poderes, em particular congelando uma ajuda militar de quase 400 milhões de dólares destinados a este país em conflito com a Rússia.

Rei em solo americano

Com base neste relatório investigativo, quatro juristas - três escolhidos pelos democratas e um pelos republicanos - determinarão se as acusações contra Trump correspondem a um dos motivos de destituição citados na Constituição dos Estados Unidos: atos de traição, corrupção ou outros crimes e delitos graves. Os três estudiosos de Direito convidados pelos democratas dizem que seria apropriado iniciar esse procedimento. "Envolver um governo estrangeiro em nosso processo eleitoral é um abuso de poder particularmente sério porque enfraquece a democracia", disse Pamela Karlan, professora da Universidade de Stanford. "Se o Congresso não destituí-lo, o processo de destituição terá perdido seu significado, assim como as garantias constitucionais destinadas a impedir a instalação de um rei em solo americano", disse, por sua vez, Michael Gerhardt, da Universidade da Carolina do Norte.

Mas outro acadêmico, convidado pelos republicanos, considerou as evidências "insuficientes" e lamentou a precipitação dos democratas. "Não é assim que um presidente deve ser demitido", disse Jonathan Turley, da Universidade George Washington. Convidados por Nadler, os advogados da Casa Branca se recusaram a participar da audiência denunciando um procedimento "injusto".

Americanos divididos

O Comitê Judiciário poderá discutir pelo menos quatro possíveis acusações contra Trump: abuso de poder, corrupção, obstrução do Congresso e obstrução da justiça. Uma vez redigidos, os artigos de acusação serão submetidos à votação em plenário na câmara baixa do Congresso, o que pode ocorrer mesmo antes do Natal. O magnata entraria, assim, para os livros de história como o terceiro presidente americano a enfrentar um processo de impeachment, depois de Andrew Johnson em 1868 e Bill Clinton em 1998. Ambos foram absolvidos.

Os democratas provavelmente aprovarão o processo sem problemas na Câmara dos Representantes, onde são maioria. Mas é improvável que Trump seja destituído pelo Senado, liderado por republicanos. Como os legisladores, os americanos estão muito divididos quanto à possibilidade de um processo de impeachment contra Trump: 49% da população apoia contra 44% dos que se opõem a isso, de acordo com uma média de pesquisas elaborada pelo site RealClearPolitics. 


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