Trump chama juiz da Suprema Corte de "desequilibrado" em depoimento sobre fraude

Trump chama juiz da Suprema Corte de "desequilibrado" em depoimento sobre fraude

O ex-presidente classificou o caso como "interferência eleitoral" e se queixou de um "julgamento muito injusto"

AFP

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Um combativo Donald Trump enfrentou reiteradamente o juiz, ao se apresentar a um tribunal de Nova York para depor em um caso de fraude financeira que ameaça paralisar seu império imobiliário, nesta segunda-feira, 6.

O bilionário, de 77 anos, é acusado de inflar o valor de seus ativos para beneficiar a empresa da família, em um dos muitos casos que podem afetar sua pretensão de voltar à Casa Branca no próximo ano.

"Isto não é uma manifestação política", recriminou-o, durante a audiência, o juiz da Suprema Corte de Nova York, Arthur Engoron, após adverti-lo que fosse breve em suas respostas.

"Por favor, só responda às perguntas, nada de discursos", disse Engoron, antes de se dirigir a um dos advogados do ex-presidente para pedir que controlasse seu cliente.

Primeiro ex-presidente americano a sentar no banco dos réus em um processo judicial em mais de um século, Trump se queixou, em seu depoimento, do que chamou de um "julgamento muito injusto" e "louco", realizado por democratas que, segundo ele, estão atrás dele "por 15 lados diferentes".

Ele chegou às 10h locais (12h de Brasília) ao tribunal de justiça do sul de Manhattan e, perante a imprensa, voltou a atacar a procuradora-geral de Nova York, Letitia James, que exige uma multa de US$ 250 milhões (R$ 1,2 bilhão na cotação atual).

Depondo sob juramento, o magnata rejeitou as acusações de que as declarações da situação financeira da empresa fossem fraudulentas e disse que "na verdade não eram documentos aos quais os bancos tenham prestado muita atenção".

Também garantiu que não levou em consideração o valor da "marca Trump". "Me tornei presidente graças à minha marca", respondeu a Kevin Wallace, advogado da Procuradoria-Geral de Nova York.

Antes de depor, o republicano, favorito à indicação do partido para concorrer nas eleições de 2024, conversou com jornalistas do lado de fora do tribunal e denunciou o caso como uma "interferência eleitoral".

"É uma situação muito triste para nosso país. Geralmente ocorre em países de terceiro mundo e repúblicas bananeiras", declarou.

"Os números não mentem"

Tanto a procuradora-geral quanto o juiz responsável pelo caso são regularmente alvo da ira do republicano desde o início do julgamento em outubro.

O magistrado impôs duas multas ao bilionário, US$ 5.000 e US$ 10.000 (R$ 24,5 mil e R$ 49 mil), ao determinar que o empresário violou uma ordem de silêncio imposta depois de atacar o escrivão do juiz nas redes sociais.

O ex-presidente já chamou Engoron de "desequilibrado" e de "agente democrata, da esquerda radical, que odeia Trump".

Em trechos da primeira declaração, ele qualifica o processo como "a maior caça às bruxas da história do país" e afirma que James está "fora de controle".

"No final, a única coisa que importa são os fatos e os números. E os números, meus amigos, não mentem", disse a procuradora-geral de Nova York, nesta segunda, ao chegar à corte.

Até agora, dois de seus filhos testemunharam: Donald Jr. e Eric, executivos da Trump Organization, um conglomerado que administra arranha-céus, hotéis de luxo e clubes de golfe em todo o mundo.

Antes dos argumentos iniciais, Engoron decidiu que o gabinete da procuradora-geral havia apresentado "evidências conclusivas" de que Trump inflou seu patrimônio líquido em documentos financeiros, entre US$ 812 milhões e 2,2 bilhões (R$ 3,9 bilhões e R$ 10,7 bilhões) entre 2014 e 2021.

Como resultado, o juiz ordenou a liquidação das empresas que administravam os ativos em questão, como a Trump Tower e os 40 arranha-céus de Wall Street, em Manhattan, entre outros bens.

- Julgamentos criminais -

 

Esta ordem está suspensa até a conclusão do recurso, mas suas consequências ressaltam o quanto está em jogo para o ex-presidente, que construiu a sua figura política com base na imagem dos sucessos descritos em seu livro "A arte da negociação".

Trump tem outros quatro casos em aberto. Mas, até o momento, estes processos não afetaram sua popularidade nas pesquisas eleitorais para as próximas eleições.

Em março, o bilionário - que foi submetido a processos de impeachment enquanto ainda estava na Casa Branca, embora não tenha sido condenado - foi intimado a depor em um tribunal de Washington por tentar anular os resultados das eleições de 2020, que perdeu para o atual presidente americano Joe Biden.

Ele repete que sua residência de Mar-a-Lago, na Flórida é, de fato, "provavelmente a casa mais valiosa dos Estados Unidos", uma informação questionável.

- Assunto de família -

 

Os advogados de Trump rejeitam as acusações de fraude, argumentando que as avaliações imobiliárias são subjetivas e que os bancos que concedem empréstimos à organização não perderam dinheiro.

Donald Jr. e Eric basearam sua defesa no argumento de que deixaram a cargo de contadores a tarefa de preparar as declarações financeiras da empresa familiar, embora os procuradores tenham confrontado Eric sobre e-mails que parecem contradizer essas afirmações.

A filha de Trump, Ivanka, que já não tem responsabilidades oficiais dentro da Trump Organization, também poderá ser convocada, apesar das múltiplas tentativas de evitar a sua intimação.

No processo, Engoron também deverá se pronunciar sobre se outros crimes financeiros foram cometidos, assim como sobre qualquer outro tipo de multa. A promotoria pediu multa de até US$ 250 milhões (R$ 1,22 bilhão na cotação atual).

arb/caw/sst/dga/arm/tt/aa/yr/aa/mvv/rpr

 


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