Vítimas dos atentados extremistas de Paris relembram trauma em audiência

Vítimas dos atentados extremistas de Paris relembram trauma em audiência

O tribunal julga 20 acusados dos ataques que deixaram 130 mortos

AFP

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As vítimas dos atentados extremistas de 13 de novembro de 2015 começaram, nesta terça-feira (28), a descrever aos juízes seu enorme "choque", seis anos depois de uma noite de horror que ensanguentou Paris.

O tribunal, que julga os 20 acusados dos piores ataques em Paris desde a Segunda Guerra Mundial, começou a ouvir as testemunhas do primeiro atentado daquela noite, nos arredores do Stade de France.

"Um homem-bomba se explodiu na nossa frente. Ainda lembro da explosão, o barulho, o cheiro. Fiquei chocado com esse corpo humano partido em dois, com os pedaços de carne espalhados", disse Pierre ao tribunal.

Este gendarme aposentado, que afirma ainda estar "traumatizado", patrulhava na noite do ataque junto a outros membros da Guarda Republicana em frente ao estádio, onde se disputava uma partida amistosa de futebol entre França e Alemanha.

Em "33 anos de carreira", Philippe, um veterano da gendarmaria aposentado, relatou nunca ter sentido esta "comoção". "Não somos treinados para ver um kamikaze", destacou sobre o ataque que deixou um dos 130 mortos que haveria naquela noite.

Cerca de 350 partes civis, entre sobreviventes e familiares dos falecidos, pediram para falar no tribunal, lembrou o presidente do tribunal Jean-Louis Périès, antes de dar início às cinco semanas de audiências.

"O desafio duplo é saber o que queremos dizer e não dar muita importância ao que os outros consideram importante", estimou antes da audiência Arthur Dénouveaux, presidente da associação Life for Paris.

Este sobrevivente do massacre na sala de espetáculos Bataclan explicou que disse às vítimas: "O que interessa é falarem o que viveram, sem se preocupar com os outros".

"Apavorada" 

Tentar explicar com palavras o horror que viveram e suas vidas destruídas parece complicado, especialmente quando, além dos magistrados, estão na sala os próprios acusados, entre eles Salah Abdeslam, o único membro com vida dos comandos que promoveram o ataque.

"Quero fazer isso, faz parte do meu trabalho de reconstrução", explicou Marko, de 31 anos, dias atrás. "Quero enfrentar essas pessoas, que vejam quem são as vítimas. O que aconteceu conosco e com quem não está mais aqui".

Em 13 de novembro de 2015, estava no bar La Belle Équipe junto a um grupo de amigos. Um deles, Victor, está entre as pessoas que morreram na noite do ataque a bares e restaurantes da capital. Edith Seurat, de 43 anos, confessou estar "apavorada" com seu depoimento, mas se convenceu da importância prestar testemunho ao constatar a solenidade do julgamento.

Uma pergunta que surgiu com frequência dias atrás foi se os depoentes poderiam se dirigir aos acusados. Todos têm em mente Abdeslam, que desde o início do julgamento não hesita em interromper para tomar a palavra. Na semana passada, este homem de 32 anos disse ao tribunal que os atentados eram "inevitáveis", mas defendeu o "diálogo" para evitar outros.

Marko estava na sala, fora de si: "Me levantei e comecei a insultá-lo. Uma amiga ferida me acalmou, mas permaneci de pé até o final, olhando fixamente para ele".

As normas estabelecem, no entanto, que as testemunhas se dirijam ao tribunal. Seu banco se encontra, inclusive, mais à frente do banco dos réus, portanto precisariam girar para dirigirem-se a eles.

O julgamento dos atentados extremistas de Paris começou em 8 de setembro e deve durar até o final de maio. Os acusados começarão a depor a partir de 2022.


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