Yulia Skripal sai do silêncio e Moscou exige respostas da ONU

Yulia Skripal sai do silêncio e Moscou exige respostas da ONU

Envenenamento deflagrou onda de expulsões cruzadas da Rússia e de países ocidentais, envolvendo 300 diplomatas

AFP

Yulia estava visitando o pai em Londres quando os dois foram envenenados

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Yulia Skripal saiu do silêncio para dizer que está "a cada dia melhor", após ter sido envenenada na Inglaterra com o pai, um ex-espião russo, a algumas horas da reunião do Conselho de Segurança da ONU nesta quinta-feira dedicada a esse assunto. Acusada por Londres de ser responsável por este envenenamento na origem de uma das mais graves crises diplomáticas entre Moscou e os países ocidentais desde a Guerra Fria, a Rússia advertiu o Reino Unido de que suas "questões legítimas" não podem ser ignoradas.

"Eu acordei há mais de uma semana e estou feliz em poder dizer que me sinto cada dia melhor", declarou Yulia, de 33 anos, citada em um comunicado da Polícia britânica. Pouco antes, a televisão pública russa havia divulgado uma gravação que seria uma conversa por telefone entre Yulia Skripal e sua prima Viktoria, que mora na Rússia. No áudio, aquela que seria Yulia Skripal afirma que ela e seu pai, Serguei, encontram-se em fase de recuperação, e que ela poderá, em breve, deixar o hospital.

Depois do fracasso da Rússia de convencer a Organização para Proibição de Armas Químicas (Opaq) a pôr fim à sua investigação, o novo corpo a corpo diplomático na ONU nesta quinta-feira, a partir das 19h GMT (16h em Brasília), anuncia-se tenso. O envenenamento dos Skripal em solo britânico em 4 de março deflagrou, desde o dia 14, uma onda histórica de expulsões cruzadas da Rússia e de países ocidentais, envolvendo cerca de 300 diplomatas. Os 60 diplomatas americanos com postos na Rússia expulsos por Moscou embarcavam de volta com suas famílias nesta quinta de manhã.

O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, afirmou que a situação atual do caso Skripal "cria uma ameaça para a paz e para a segurança no mundo". Segundo ele, "o Conselho de Segurança deve examinar essa questão sob todos os aspectos e de maneira objetiva". No dia 14, o Conselho de Segurança já havia tido uma reunião de urgência sobre o imbróglio - então convocada por iniciativa do Reino Unido. "Insistimos para que seja realizada uma investigação substancial e responsável", frisou Lavrov, acrescentando que "não será possível ignorar as questões legítimas que nós colocamos".

"Investigação transparente"

Na última quarta-feira, a Rússia convocou os Estados-membros da Opaq, sem conseguir convencê-los a engavetar a investigação. Nesta quinta-feira, Lavrov afirmou que a Rússia "aceitaria os resultados de qualquer investigação, desde que fosse transparente e que pudéssemos participar dela de maneira justa". Moscou nega, categoricamente, qualquer ligação com o envenenamento dos Skripal e denuncia "uma provocação" ocidental e "uma campanha antirrussa".

Na Opaq, Moscou propôs, em vão, que a Rússia fizesse uma investigação conjunta com a Grã-Bretanha, mediada por essa organização internacional. Apresentada junto com Irã e China, a proposta russa foi classificada como "perversa" e como uma "tentativa de distração" pela delegação britânica. Acabou rejeitada em votação na Opaq. Além disso, a Grã-Bretanha manteve suas acusações contra a Rússia. Já Moscou disse se considerar isenta, sobretudo, após as declarações do laboratório especializado britânico, que analisou a substância usada contra o espião.

Para a instituição, tratou-se de Novitchok, um agente nervoso do tipo militar de concepção soviética. O laboratório reconheceu, porém, não ter provas de que a substância usada contra os Skripal tenha sido fabricada na Rússia, enquanto o ministro britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, parece sugerir o contrário.

Segundo a imprensa britânica, os serviços de Inteligência conseguiram determinar a localização do laboratório russo, onde esse agente foi fabricado. A substância estaria sob supervisão da Inteligência estrangeira de Moscou. O presidente russo, Vladimir Putin, apontou que uma substância como a que foi usada em Salisbury poderia ter sido fabricada "em pelo menos 20 países".

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