O vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, disse nesta sexta-feira (14) que Washington está pronto para pressionar a Rússia em futuras negociações sobre o fim da guerra na Ucrânia, pouco antes de se reunir com o presidente Volodimir Zelensky em Munique.
Vance procurou assegurar aos europeus que 'é claro' que eles terão seu papel a desempenhar nas negociações sobre o fim das hostilidades, mas lembrou-os de que terão de assumir maiores responsabilidades na Otan para 'dividir o fardo' da defesa do continente.
O fracasso na Ucrânia 'enfraqueceria' a Europa, mas também os Estados Unidos, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.'Uma paz que seja uma capitulação' seria 'uma má notícia para o mundo inteiro', disse o presidente francês, Emmanuel Macron, ao Financial Times.
A reunião telefônica de quarta-feira entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e seu colega russo, Vladimir Putin, fez com que Kiev e os europeus temessem uma saída para o conflito que prejudicasse seus interesses.
Zelensky observou que Kiev conversará com Moscou assim que tiver acordado posições comuns com os Estados Unidos e seus outros aliados. 'Então, com essa posição unificada, estaremos prontos para conversar com os russos', disse ele.
Nesse contexto, a intervenção de Vance na Conferência de Segurança de Munique, que teve início nesta sexta-feira, será observada de perto.Vance poderia anunciar a retirada da Europa de grande parte das tropas americanas atualmente posicionadas, disse nesta sexta-feira o diplomata alemão Christoph Heusgen, que está presidindo a conferência.
Atualmente, há mais de 65.000 soldados americanos permanentemente estacionados na Europa, além de pessoal em rotação e reforços, elevando o total para 100.000.'Agora é a hora de investir [em defesa], porque não se pode dar por certo que a presença dos EUA durará para sempre', alertou o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, em Varsóvia.
O problema é que os europeus não podem substituir militarmente o destacamento dos EUA da noite para o dia, alertou o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, que disse ter 'proposto um roteiro' para esse fim.Para maximizar o peso das conversas, e com a situação militar no local se deteriorando constantemente em favor das tropas russas invasoras, Zelensky se reunirá com Vance em Munique na tarde desta sexta-feira.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, que partiu na noite de quinta-feira após um incidente com o avião que o transportava, também é esperado na capital da Baviera e atrasará sua chegada à Alemanha.
Enquanto isso, a valsa diplomática está se acelerando.Na cidade alemã, o chefe da administração presidencial ucraniana, Andrii Yermak, disse que já havia se reunido com o emissário especial de Trump para a Ucrânia, Keith Kellogg.
'O principal tópico da conversa foi a coordenação de esforços comuns para alcançar uma paz justa e duradoura' na Ucrânia, explicou Yermak no Telegram.
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Pressão Militar
O vice-presidente dos EUA também procurou garantir a Kiev que os Estados Unidos levarão sua soberania a sério ao conversar com a Rússia, depois que outras autoridades de alto escalão disseram abertamente que a Ucrânia poderia ter que abrir mão de territórios ocupados pela Rússia, começando pela Crimeia, que foi anexada em 2014.'Há ferramentas econômicas de pressão e, é claro, há ferramentas militares de pressão', disse Vance ao Wall Street Journal.
Essas declarações foram aplaudidas por Zelensky, que as descreveu como um 'sinal forte'. A Ucrânia continua a exigir uma 'paz justa' três anos após a invasão russa, bem como garantias de segurança da Europa e dos Estados Unidos na forma de tropas para garantir a manutenção da paz. Washington já deixou claro que não enviará soldados para a Ucrânia e deixou claro que não considera realista a entrada da Ucrânia na Otan.
A Rússia, que não estará representada na conferência de Munique, quer manter os territórios ocupados e abordar as 'raízes do conflito', começando pela presença da Otan ao longo de suas fronteiras.De acordo com Timothy Ash, professor de estudos europeus em Oxford, a mensagem da Casa Branca para a Europa 'é muito clara em relação à Ucrânia: o problema é seu. Nós o ajudaremos a fazer um acordo com a Rússia, mas cabe a você garantir que ele seja feito.
O terremoto que Trump causou no multilateralismo e na ordem internacional significa que são esperados debates intensos entre as dezenas de chefes de governo, diplomatas e altos funcionários reunidos em Munique.O governo dos EUA 'não leva em conta as regras estabelecidas', e a Europa terá de 'lidar' com essa nova realidade, refletiu o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier ao abrir a conferência de Munique.bur-smk/roc/dbh/ag/zm/pb/fp/dd