Alvos de operação realizavam tráfico e lavagem de dinheiro para levar vida de luxo, aponta Denarc
Empresários e profissionais liberais considerados idôneos participaram no processo de limpeza do lucro obtido com o comércio de entorpecentes
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Um complexo esquema de lavagem de dinheiro de uma célula da facção criminosa do Vale do Rio dos Sinos, envolvendo empresas de fachadas e pessoas aparentemente idôneas, foi descoberto pelo Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) da Polícia Civil com a megaoperação Erga Omnes. Cerca de R$ 20 milhões foram movimentados nos últimos cinco anos, com valor anual em torno de R$ 4 milhões. “Foi um duro golpe ao crime organizado, desarticulando um grupo criminoso que atua há pelo menos uma década”, avaliou o delegado Gabriel Borges. Ao longo de um ano de trabalho investigativo, a equipe do Denarc identificou os envolvidos e constatou que levavam uma vida de luxo e ostentação ao se beneficiarem da "limpeza" de capital oriundo do tráfico de drogas com entorpecentes de altos graus de pureza, via tele entrega, para uma clientela de alto poder aquisitivo da Capital e Região Metropolitana.
Na manhã desta quarta-feira, a operação Erga Omnes resultou em 32 prisões, incluindo empresários, comerciantes, profissionais liberais, advogados, veterinários, contadores e bioquímicos, durante o cumprimento de mais de 350 ordens judiciais, sendo 43 mandados de prisão e 54 mandados de busca e apreensão, além de 47 bloqueios de contas bancárias, sequestro de 34 bens e 188 quebras de sigilo fiscal, bancário e de ações na bolsa de valores. Houve o recolhimento de documentos, quantias em dinheiro, veículos, cartões de banco em nome de terceiros, telefones celulares, mídias, computadores, drogas e armas.
A ação, que mobilizou 300 agentes do Denarc em 100 viaturas, com apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE), foi deflagrada com o cumprimento das ordens judiciais no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e no Paraná. No Rio Grande do Sul, os mandados ocorreram em Porto Alegre, Taquara, Xangri-Lá, Tapes, Osório, Santa Cruz do Sul, Cachoeirinha, Gravataí, Canoas, Eldorado do Sul e Capão da Canoa. Em Santa Catarina, foi em Balneário Camboriú e no Paraná em Cascavel.
Contatos na América do Sul e na China
Os policiais civis constataram, por exemplo, que a cocaína pura era proveniente do Peru, maconha de qualidade superior do Uruguai e drogas sintéticas de Santa Catarina. Já insumos para a produção de entorpecentes, como cafeína e tetracaína, vinham da China.
A investigação apontou que o esquema sofisticado de tele entrega de drogas e de lavagem de dinheiro tinha funções definidas dentro da célula da facção. “Tinham núcleos de gerência, apoio operacional, logística e transporte de drogas, conversão dos valores do tráfico de drogas, tudo isso ramificado em funções com base em uma hierarquia”, detalhou o delegado Gabriel Borges. “Conseguimos alcançar o alto núcleo dessa organização criminosa, quem realmente mandava e ditava as regras. Indivíduos com aparência lícita que movimentavam cifras milionárias do tráfico de drogas”, enfatizou.
Nova fase
O delegado Gabriel Borges explicou que a operação Erga Omnes terá agora uma nova fase, com análise da documentação e material apreendido e verificação das contas bancárias bloqueadas, entre outras diligências. “Existem outros alvos, mais pessoas envolvidas”, adiantou. “Já prendemos todos os principais envolvidos”, sublinhou.
Já o diretor de investigações do Denarc, delegado Alencar Carraro, ressaltou que “foi um trabalho muito importante e extremamente complexo”. Segundo ele, os responsáveis pela lavagem de dinheiro do narcotráfico não tinham antecedentes. “Eles estão sendo agora responsabilizados e presos, tendo as contas bancárias bloqueadas e bens retirados”, salientou.
“São pessoas que se apresentavam como idôneas e usufruíram do dinheiro do crime”, resumiu. “Esse é o recado que a gente passa para a sociedade: não só os traficantes serão responsabilizados, mas as pessoas que estão ocultando os bens oriundos do tráfico de drogas, envolvidas direta ou indiretamente. Novas ações serão norteadas nesse sentido”, garantiu o delegado Alencar Carraro.
“Era um esquema extremamente organizado. Eles tinham toda uma estrutura com pessoas fazendo exclusivamente a lavagem de dinheiro, fazendo a abertura de empresas de fachada e lícitas que acabavam misturando os negócios para fazer o branqueamento de capital”, destacou o diretor do Denarc, delegado Carlos Wendt. “Muitos deles tinham um padrão de vida de luxo, moravam em mansões e apartamentos luxuosos, viajavam para o exterior e faziam festas e passeios de iate”, observou. Um dos presos, citou como exemplo, é um empresário que viajava até aos Estados Unidos, onde chegou a abrir uma empresa.