Ameaças, agressões e tumultos: servidores relatam insegurança na Fase de Porto Alegre

Ameaças, agressões e tumultos: servidores relatam insegurança na Fase de Porto Alegre

Falta de efetivo e de equipamentos coloca em risco funcionários da instituição, alegam socioeducadores

Marcel Horowitz

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Ameaças feitas por adolescentes da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase) são corriqueiras, relatam agentes socioeducadores. Nessa semana, no entanto, as bravatas se tornaram realidade quando um servidor foi agredido com socos e chutes na cabeça. O caso ocorreu 15 dias após ele ter registrado um boletim de ocorrência, por conta de outra agressão. 

O Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas e Fundações (Semapi) alega que a insegurança no estabelecimento, localizado na zona Sul de Porto Alegre, é uma constante. " Agressões, motins e tumultos voltaram a ser uma realidade. A Fase é um local onde esse tipo de coisa é rotina", afirma o diretor do Semapi, Edgar Costa. 

O último caso de violência na instituição aconteceu na quinta-feira. Um interno de 17 anos, com registros por tráfico e roubo, atacou um funcionário da unidade chamada Centro de Atendimento Socioeducativo 2 (Case Poa 2), que registrou três motins desde o início do ano. O homem agredido foi levado ao Hospital de Pronto Socorro, sem ferimentos graves. O agressor foi transferido a uma casa de internação para perfis violentos.

Quando foi atacada, Gustavo Toreti conta que apenas ele e uma colega eram responsáveis por 13 adolescentes. As agressões teriam ocorrido após a vítima ter pedido para que dois internos parassem de simular uma luta, comportamento proibido dentro da instituição. "Inicialmente relevei as ameaças de morte, pois isso é algo comum na Fase, mas acabei sendo agredido. Com dois agentes, seria impossível contê-lo. O ataque só cessou quando o adolescente quis", disse.   

Conforme o socioeducador, além do baixo efetivo, não há equipamentos para serem utilizados em caso de urgência. "Não temos rádios comunicadores para alertar sobre situações extremas, como agressões". Ele também sustenta que não reagiu por receio de ser afastado pela 3ª Vara do Juizado da Infância e Juventude. "Um colega foi afastado após tentar conter um ataque, em março. Preferi ser agredido para não perder o trabalho."

Gustavo trabalha há nove anos na Fase. Antes da agressão ele estava alocado no Case Poa 1, unidade para internação de adolescentes menos agressivos, que foi desativada. "A gestão disse que seríamos transferidos para melhor auxiliar outras unidades. Alertamos que de nada adiantaria. Ter sido agredido, em menos de um mês após a transferência, é a prova disso. Para piorar, ninguém da direção ligou ou mandou mensagem perguntando se eu estava bem", desabafou. 

"As tensões são frequentes e essa unidade [Poa 2], está mal há meses. O pessoal que saiu do Poa 1 não foi suficiente para compensar a falta de profissionais. Faltam servidores e os aprovados do concurso não são chamados", reforçou a socioeducadora Alessandra Maia. 

Conforme a diretora socioeducativa, Cláudia Redin Patel, o fato foi encaminhado para apuração de uma comissão de avaliação disciplinar e é tipificado como grave. Ainda segundo ela, embora a unidade tenha registrado três fatos graves ao longo do ano, agressões não são frequentes.

"A atual gestão da diretoria socioeducativa, que assumiu em setembro, vem desenvolvendo iniciativas junto ao Case Poa 2 para fortalecer procedimentos de segurança. Estão sendo realizadas reuniões com a equipe diretiva e chefias para análise dos fatos ocorridos, reforço de estratégias preventivas e formação em gerenciamento de crise", enfatizou a diretora. "Somos sensíveis a todas as demandas, inclusive as dos trabalhadores. Estamos trabalhando com prioridade os procedimentos de segurança socioeducativa, para evitar intercorrências graves e garantir um ambiente seguro a jovens e servidores."


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