Apreensão de R$ 5 milhões em drogas em Palmares do Sul evidencia rota do PCC pela Estrada do Inferno

Apreensão de R$ 5 milhões em drogas em Palmares do Sul evidencia rota do PCC pela Estrada do Inferno

Cerca de 21,7 quilos de cocaína e 15 quilos de crack eram transportados por duas paulistas, sendo que uma delas tinha a tatuagem de um carpa, que é característica da facção paulista

Correio do Povo

Abordagem de Jeep Renegade ocorreu em ação conjunta da Brigada Militar, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Civil

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A apreensão de cerca de R$ 5 milhões em cocaína e crack, na tarde da última sexta-feira em Palmares do Sul, no Litoral Norte, evidenciou a existência da rota terrestre do narcotráfico da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC), que passa pela BR 101 (antiga Estrada do Inferno) e chega até o porto da cidade de Rio Grande, no Litoral Sul. Reportagem do Correio do Povo no dia 9 deste mês apontou a suspeita de que Rio Grande esteja cada vez mais na mira do PCC para o escoamento de drogas para outros países.

Na manhã desta segunda-feira, em entrevista à reportagem do Correio do Povo, o responsável pela DP de Palmares do Sul, delegado Antônio Carlos Ractz, confirmou que a cidade é utilizada pelo narcotráfico. “Ali é rota de tráfico sim…”, enfatizou. Ele não descartou inclusive a possibilidade de propriedades rurais serem empregadas como aeroporto, com pista de pouso.

O flagrante da apreensão de 21,7 quilos de cocaína e 15 quilos de crack ocorreu após um Jeep Renegade, com placas de São Paulo, ser abordado pela Força Tática do 8º BPM em Palmares do Sul. O veículo vinha sendo monitorado pela Brigada Militar, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Civil, depois de ter desviado de vários postos rodoviários policiais na região litorânea.

Duas mulheres paulistas foram detidas. “Uma das presas tinha uma tatuagem característica do PCC, que é a carpa”, constatou o delegado Antônio Carlos Ractz, acrescentando que já foi decretada a prisão preventiva delas.  Os entorpecentes foram encontrados escondidos sob os assoalhos do banco dianteiro da Jeep Renegade. Os compartimentos foram “especialmente preparados para isso”.

O uso da antiga Estrada do Inferno driblaria sobretudo a fiscalização policial nas rodovias mais conhecidas. A região carece inclusive de efetivo das forças policiais para fazer uma maior vigilância. A DP de Palmares do Sul, por exemplo, tem apenas um agente. A distância entre Palmares do Sul e Rio Grande pelo BR 101 é de cerca de 277 quilômetros e a viagem dura em torno de quatro horas. 

O comandante do CRPO Litoral da Brigada Militar, tenente-coronel Ney Humberto Fagundes, lembrou que os traficantes “têm um leque grande de opções” para transportar as drogas por via terrestre na região. “São várias possibilidades de rotas por caminhos principais, que são as ERS ou BRs, mais aqueles caminhos vicinais e pequenos acessos…”, citou, observando ainda que se trata de “uma região de grande fluxo de veículos”.

Ele destacou a importância de um trabalho de inteligência e parceria entre as forças de segurança pública. “São várias ações conjugadas”, resumiu, ressaltando ainda a “troca de informações” e os esforços conjuntos da Brigada Militar, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal e Comando Rodoviário da Brigada Militar.

O tenente-coronel Ney Humberto Fagundes disse também que o inquérito da Polícia Civil poderá descobrir se a região litorânea é apenas “um ponto de passagem” ou existem locais de paradas e descansos dos traficantes. Nesse sentido, o comandante do CRPO Litoral pede que a comunidade acione o telefone 190 em casos de circulação de veículos suspeitos e que fujam da “rotina e normalidade”.

Já no Podcast Direto ao Ponto, do Correio do Povo, o comandante do 6º BPM de Rio Grande, major Marcelo Nunes Ferreira, observou que a cidade “é muito atrativa estrategicamente” devido ao porto, mas também por estar próxima da fronteira”.

“No porto tem o tráfico internacional de drogas...Com certeza, é um atrativo para as grandes organizações criminosas terem o domínio em Rio Grande e um acesso ao porto”, avaliou.

Existem indícios de que a facção gaúcha Os Manos preste algum tipo de apoio logístico na atuação do PCC no porto de Rio Grande. Cocaína em bolsas que seria enviada de navio já foi interceptada antes em poder justamente de integrantes da organização criminosa nascida no Vale do Rio do Sinos. Um reflexo da atividade portuária do narcotráfico pode ser o atual conflito entre facções criminosas em Rio Grande, que resultou até o momento em 52 homicídios desde o começo deste ano. 


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