Ato protesta por desfecho pacífico para tensão entre agricultores e índigenas no RS

Ato protesta por desfecho pacífico para tensão entre agricultores e índigenas no RS

Cerca de 600 pessoas se concentraram em São Valentim em solidariedade a mortes em Faxinalzinho

José Adelar Ody/Correio do Povo

publicidade

Mais de 600 pessoas participaram, no início da tarde desta sexta-feira, de um ato público no trevo de acesso a São Valentim, às margens da RSC 480. A manifestação ocorreu em solidariedade aos familiares dos dois agricultores mortos em suposto confronto com indígenas na última segunda-feira, no interior de Faxinalzinho. O clima era de indignação com as autoridades que, no entender dos participantes, não tomaram medidas que poderiam ter evitado a tragédia.

Cartazes e faixas com frases pedindo justiça e paz, fitas preta em todos os veículos e até um pequeno caixão foi carregado ao final dos discursos durante caminhada até o Fórum no centro da cidade. Deputados, sindicatos, cooperativas, representantes da Fetraf, Fetag, prefeitos e agricultores estiveram presentes. Antes das manifestações, o vice-prefeito de Faxinalzinho, James Ayres Torres, organizava a chegada de delegações de municípios da região. Ele foi taxativo: “Lá nunca foi área indígena. A área é nossa”. Ele não garantiu a volta às aulas na próxima semana, porque em algumas escolas, há alunos filhos de agricultores que estudam com filhos de indígenas.

Elaine de Souza estava cercada por amigas, vizinhas e curiosos, que diziam palavras de conforto e solidariedade. Sempre junto da filha de 13 anos, a esposa de Alcemar Batista de Souza, falava em justiça e punição para quem matou seu marido.“Todos queremos que isso se resolva de uma vez, antes que mais inocentes morram tentando defender algo que já é nosso”, enfatizou. Ela disse que, por enquanto, a família está recebendo apoio e atenção de cunhados até como forma de dar mais tranquilidade à noite. Elaine ainda não foi procurada por nenhuma autoridade para falar sobre o episódio que resultou na morte do marido Alcemar e do cunhado Anderson Batista de Souza. Ainda de acordo com Eliane, sua filha não sabe quando voltará à Escola Estadual de Ensino Médio Faxinalzinho onde cursa a 8ª série. A menina não estaria disposta a se reencontrar com colegas indígenas no educandário estadual.

Fetraf pede audiência com Dilma

O presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf) no estado, Rui Valença, disse que a entidade solicitou uma audiência com a presidente Dilma Rousseff. Ele relatou que o Ministério da Justiça “já nos ouviu, conhece o problema”, mas não estaria resolvendo nada. “O que está faltando não sei”, observou. De acordo com Rui Valença o que aconteceu em Faxinalzinho não foi um fato isolado. “É uma situação que vem se arrastando há anos.” Segundo Valença, só no RS são 10 mil agricultores sujeitos a perder terras. Também observou que “falamos várias vezes com a Funai, mas eles entendem que os colonos deviam sair”.

O presidente da Associação dos Moradores do Município de Faxinalzinho, Ido Marcon, disse que o episódio de segunda-feira era uma questão de tempo. “E não foi por falta de aviso. Estávamos prevendo isso há 12 anos”, definiu. Ele criticou o Cimi (Conselho Indigenista Missionário). “Não vi ninguém dos direitos humanos, do Cimi, aparecer. Será que não somos humanos?” questionou.

Bookmark and Share

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895