Autor de ataque em Saudades escolheu creche por fragilidade das vítimas, diz Polícia Civil de SC
Com raiva e ódio do mundo, jovem agiu sozinho, queria matar o máximo de pessoas e planejou chacina desde o ano passado
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O autor do ataque à creche infantil que deixou cinco mortos na cidade catarinense de Saudades, na manhã do último dia 4, queria matar rapidamente o máximo possível de pessoas, planejou o atentado desde o ano passado e agiu sozinho. Em coletiva concedida nesta sexta-feira, a Polícia Civil de Santa Catarina explicou que Fabiano Kipper Mai, de 18 anos, escolheu a creche Pró-Infância Aquarela porque seria um alvo mais fácil.
“Ele deixou bem claro que foi pela fragilidade das vítimas no local. Isto mostra que o autor foi covarde pois foi contra crianças e mulheres que não tinham como se defender”, afirmou o delegado Jerônimo Marçal Ferreira na Delegacia Regional de Polícia em Chapecó. O anúncio do encerramento do inquérito ocorreu na manhã de hoje e agora o procedimento segue agora para o Judiciário e o Ministério Público.
Ferreira comentou que Kipper Mai tinha plena consciência do que fez em Saudades. "Ele tinha consciência do que fez e de que foi errado. Isto mostra também que era uma pessoa normal. Ele agiu consciente do que fez o tempo todo. Foi um crime premeditado”, frisou.
“A raiva dele era contra qualquer pessoa que ele atacaria em algum momento. A intenção dele em um primeiro momento foi contra pessoas que tinham certo convívio com ele”, observou, acrescentando que a raiva foi então descarregada em quem não tinha nenhuma ligação com o jovem. “Foi com inocentes...um ato mais covarde ainda. Ele tem sim que ser responsabilizado pelos crimes graves e cruéis que cometeu no dia 4”, disse. “Era uma pessoa normal, tinha autodeterminação desde o princípio. O planejamento dele deixou muito claro: ele sabia o que estava fazendo”, concluiu.
Motivação
Segundo o delegado Jerônimo Marçal Ferreira, o autor da chacina era uma pessoa isolada e com dificuldade de relacionamento em “um nível muito acima do normal”. Citou como exemplo que o rapaz sequer jantava na mesa com a família e ficava no quarto.
“Nos últimos tempos, ele cada vez mais foi se isolando no mundo dele”, sintetizou. “Família, colegas de escola e trabalho... ninguém tinha ideia, ninguém sabia o que se passava na cabeça dele e o que ia acontecer...Ele nunca demonstrou, nunca exteriorizou…”, assinalou.
“Ele começou a ter contato com muitos materiais e ideias violentas, com pessoas sentimentos e pensamentos ruins. Tinha acesso a muito conteúdo inapropriado e contato com pessoas que pensavam como ele. Começou a alimentar este ódio a ponto de querer descarregar em alguém. Não era alguém específico...era um ódio generalizado “, afirmou o delegado Jerônimo Marçal Ferreira.
Investigação
A investigação “complexa e trabalhosa” contou com os depoimentos de 20 pessoas e análise dos laudos periciais do material apreendido na residência do agressor, como computador. Houve ainda o interrogatório com o acusado quando estava hospitalizado, mas cujo teor não foi divulgado. “Basicamente ele confessou crime e admitiu todo planejamento e que agiu sozinho. Não há qualquer indicativo de que alguém tenha o auxiliado”, enfatizou o delegado Jerônimo Marçal Ferreira. Até a intenção de tirar a própria vida estava prevista pelo jovem depois que cometesse o ataque. Uma psicóloga policial atuou junto no caso.
Com a prisão preventiva decretada, Fabiano Kipper Mai deve permanecer no presídio até a data do julgamento. A Polícia Civil indiciou-o por cinco homicídios triplamente qualificados e uma tentativa de homicídio triplamente qualificada.
Alerta
Em sua explanação na entrevista coletiva, o delegado regional Ricardo Casagrande trouxe a informação que a análise do material apreendido na casa do acusado levantou a possibilidade que ataques semelhantes poderiam ser cometidos por indivíduos em outros quatro estados do país. Nenhum detalhe disto foi repassado à imprensa.
Ele confirmou que, após a troca de informações, as autoridades desses estados agiram rapidamente para impedir ações parecidas com a cometida em Saudades. Salientou, porém, que não existiam ainda atentados planejados.
O trabalho investigativo dos policiais civis catarinenses teve apoio da Homeland Security Investigations na Embaixada dos Estados Unidos em Brasília. O Delegado Geral da Polícia Civil de SC, Paulo Koerich, destacou a integração de todas as forças de segurança pública catarinense no caso do ataque à creche infantil em Saudades. “Temos de agradecer o auxílio e parceria”, declarou.
“Somamos esforços visando minorar a dor, responsabilizar o autor e principalmente salvar vidas”, avaliou. O delegado Paulo Koerich aproveitou para divulgar que o Governo do Estado de SC adotou providências para assegurar a segurança nas 1.064 escolas da rede estadual de ensino, como monitoramento eletrônico e vigilância nos locais.
Vítimas
As vítimas foram a professora Keli Adriane Aniecevski, 30 anos; a agente educadora Mirla Amanda Renner Costa, 20 anos; além dos bebês Sarah Luiza Mahle Sehn, de um ano e sete meses; Anna Bela Fernandes de Barros, de um ano e oito meses; e Murilo Massing, de um ano e nove meses. Todas foram golpeadas até a morte dentro da creche Pro-Infância Aquarela, na manhã do dia 4 deste mês, na cidade de Saudades, na região Oeste de Santa Catarina.