Caso Seu Jorge: Polícia confirma racismo, mas não consegue identificar autores

Caso Seu Jorge: Polícia confirma racismo, mas não consegue identificar autores

Imagens e áudios periciados não possibilitaram indicação precisa da origem das ofensas contra cantor e banda

Marcel Horowitz / Rádio Guaíba

Coletiva apresentou resultado das investigações

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A Polícia Civil revelou, nesta sexta-feira, que não conseguiu identificar os autores dos ataques racistas contra o cantor Seu Jorge, em um show em 14 de outubro, no Grêmio Náutico União, em Porto Alegre. Mesmo sem indiciados, o trabalho investigativo constatou prática de racismo por parte da plateia. Os dados foram divulgados em coletiva no Palácio da Polícia, na tarde desta sexta-feira, na Capital.

Segundo a delegada Andrea Mattos, as imagens disponibilizadas pelo clube e pela produtora do evento captaram apenas o cantor, impossibilitando a identificação de pessoas na plateia. Ela destacou que, com base em 17 depoimentos, concluiu pela materialidade do crime.

“Minha conclusão é que houve a materialidade (do racismo), em virtude da prova testemunhal. Não temos uma pessoa física para atribuir tais ofensas e, infelizmente, a própria vítima não conseguiu ouvir as ofensas, pois estava com o ponto (no ouvido)”, declarou a titular da Delegacia de Combate à Intolerância.

A policial reafirmou que parte das testemunhas alegou ter ouvido com clareza a palavra "macaco" sendo proferida contra o cantor. Ela também mencionou os relatos sobre pessoas imitando sons de macaco em direção ao artista.

Segundo o laudo do Instituto Geral de Perícias, a pluralidade de sons registrada na ocasião também dificultou a identificação das ofensas relatadas pelas testemunhas. Após horas de procedimentos para reduzir ruídos e ajustar as frequências, o IGP captou a continuidade de vozes proferindo emissões semelhantes ao som da vogal "u". De acordo com o órgão,  não é possível atestar se os áudios referem-se a vaias, a vocalizações que reproduzem o som emitido por macacos ou a pedidos de “mais um”.

Relembre o caso

No dia 14 de outubro, Seu Jorge realizou uma apresentação no Clube Grêmio Náutico União. Os ataques começaram após uma manifestação do cantor contra a redução da maioridade penal, defendida pelo presidente e então candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). No discurso, Seu Jorge fazia referência à defesa de jovens negros de comunidades pobres ao justificar o posicionamento.

Após o término do final de semana, o músico se pronunciou sobre o caso e lamentou o ocorrido através de um vídeo – que dias depois ele mesmo deletou de uma rede social.


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