Chacina em Porto Alegre está ligada ao tráfico de drogas, conforme Polícia

Chacina em Porto Alegre está ligada ao tráfico de drogas, conforme Polícia

Quatro pessoas foram mortas na zona Leste

Franceli Stefani

Local de chacina na madrugada desta terça-feira em Porto Alegre

publicidade

A Polícia Civil acredita que as quatro mortes registradas na zona Leste de Porto Alegre, na última madrugada, tenham sido cometidas por integrantes de um grupo criminoso que domina o tráfico de drogas na região. O delegado plantonista da Delegacia de Homicídios, Gabriel Bicca, explica que o primeiro assassinato ocorreu na rua Comendador Eduardo Secco, no bairro Jardim Carvalho, pouco depois da meia-noite. Diego Pedro Cavitione Rodrigues, 22 anos, foi morto a tiros na casa em que vivia. Outras duas pessoas que estavam na rua durante a madrugada chuvosa, sendo um reciclador e um morador da localidade, foram baleados pelo grupo. “O lugar é bem conhecido da polícia por ser uma área conflagrada. Há algum tempo houve até cancelamento das aulas de um colégio estadual devido a confronto entre criminosos”, expressou.

De acordo com Bicca, os homens armados saíram de um carro branco, chamaram pelo nome de Diego e ingressaram na casa já efetuando disparos. “Todos eles usavam máscaras e usavam pistolas com calibres .380 e 9 milímetros. Um dos baleados conversou conosco e afirmou que não conhecia nenhum dos atiradores e não soube declinar nenhuma característica”, detalhou.

A outra vítima fatal da madrugada, Pablo Nunes de Almeida, 22 anos, foi sequestrada pelos criminosos ou na mesma região do primeiro homicídio ou na Bom Jesus, onde residia. A polícia já tem o ponto do arrebatamento, mas não divulga para não atrapalhar as investigações. Uma hora depois do primeiro chamado, o plantão da Delegacia de Homicídios foi acionado mais uma vez. Dessa vez, a Brigada Militar informou que três pessoas foram assassinadas em uma ocupação junto ao Jardim Botânico da Capital. Conforme o diretor de investigações do Departamento de Homicídios, delegado Eibert Moreira Neto, Pablo foi capturado para que pudesse apontar a casa de Paulo Ricardo Lima de Oliveira, 32 anos, onde ele vivia com a esposa, Karine de Oliveira da Silva, 32, em uma travessa da avenida Cristiano Fischer, no bairro Jardim Botânico. “Ele foi torturado para que falasse onde Paulo Ricardo morava. Quando chegaram ao endereço acabaram executando a mulher porque ela estava no local”, expressou.

Bicca, que foi até o endereço, disse que o cenário era de horror. “Paulo foi alvejado por mais de 20 disparos, a companheira pelo menos uma dezena e Pablo também. A perícia verificou ainda que Pablo tinha sinais de tortura. Havia muitas lesões no rosto e um dos seus dedos da mão foi amputado. Ele acabou sendo localizado, ensacado, nas vestes. A cena era de muita violência”, pontuou. O trio não tinha nenhum antecedente criminal. Os bandidos chutaram a porta para acessar a residência e já iniciaram os disparos. Eles chegaram ao endereço com Pablo já ferido, tanto que havia marcas de sangue no trajeto percorrido até acessar a moradia. Um fio de luz, usado para amarrá-lo, foi encontrado no lado externo. “O casal não tinha nenhum registro que os desabonasse. Ele tinha um trabalho informal e ela tinha um filho, que não ficou ferido na execução. Pablo não foi reconhecido como alguém que transitava ou convivia com pessoas daquela região”, explicou. A polícia não revelou se o menino estava no local na hora do crime.

Ligação entre os fatos

Bicca informou que os relatos das testemunhas apontavam para o mesmo veículo e a mesma quantidade de pessoas em ambos os locais dos assassinatos. O carro era branco e, em ambos, os bandidos desceram armados e desferiram os disparos. “Com receio, as pessoas não deram detalhes. Pelo que apuramos até agora tudo indica que haja relação. Os estojos recolhidos foram de .380, mas tudo vai ser objeto de perícia balística, que poderá determinar se foram ou não as mesmas armas”, afirmou. Ambas regiões são dominadas por um grupo criminoso. “As informações coletadas apontam que os ocupantes do carro eram jovens, algumas referências que pareciam adolescentes, estavam com vestes esportivas e sempre com máscaras ou pano no rosto, para não serem reconhecidos.” 

A colaboração da comunidade é fundamental, segundo o delegado, para chegar a autoria dos delitos. O número 0800 642 0121 está disponível 24 horas e não necessita de identificação. “Os casos são recentes, mas todos os elementos foram coletados. Vamos esperar o luto acontecer e trabalhar com as testemunhas que devem ter receio de falar. Denúncias são importantes, se alguém souber a autoria, motivações e envolvimentos, é importante que nos informem. Sigilo é garantido.” 

Semana violenta

Desde a manhã do domingo, houve uma explosão de mortes e ataques violentos. O primeiro caso vitimou um casal, o jogador de base do São José, Wesley Sampaio, 19 anos e a namorada, Sara Moreira de Oliveira, 16, ambos enterrados na manhã da segunda-feira, na Zona Sul de Porto Alegre. Eles não tinham envolvimento com o crime, porém estavam dentro de um automóvel interceptado por criminosos na Avenida Doutor Carlos Barbosa, próximo ao Estádio Olímpico. O alvo seria o condutor do automóvel, que foi ferido, mas não corre risco de morte.

Para o delegado Bicca, há declínio de mortes violentas no Estado. De acordo com ele, quando há fatos que envolvem mais de uma pessoa em sequência, há impressão que a violência “tomou conta”, mas afirma que é cedo demais para qualquer avaliação. “Seria um falso alarme que houve perda de controle. A investigação apontará as causas. No contexto indica que há, por trás das execuções da madrugada desta terça, uma organização criminosa. A Brigada Militar e a Polícia Civil trabalham fortemente no combate contra a criminalidade”, ponderou. Segundo ele, a questão agora é avaliar as circunstâncias dos casos e verificar se as ações são pontuais ou intensificação dos conflitos. No caso  do atleta e a namorada, ele reiterou que o motorista era o alvo porque ele teria participado de um homicídio no Extremo Sul de Porto Alegre. “Era algo pontual, mas infelizmente expôs ao perigo o casal. Duas vidas que se perderam, sem ligação com a criminalidade. A resposta foi rápida, imediatamente os suspeitos foram detidos pela BM e a investigação vai apurar o envolvimento deles no ataque.”

Além desses conflitos, em Gravataí, na Região Metropolitana, na noite do domingo, bandidos invadiram um campo de futebol, logo após uma partida, e atiraram contra quem estava no local, na Rua Três Estrelas, no bairro Santa Cruz. Duas pessoas morreram, Maiara Emili Silveira da Silva, 20 anos, sem antecedentes e Adelio Junior Souza Antunes, 28, que foi encontrado morto no dia seguinte. Ele tem antecedentes por roubo, receptação e porte ilegal de arma de fogo de calibre restrito, segundo a Polícia Civil. Na Capital, no mesmo dia, dois criminosos morreram após entrar em confronto com a BM na rua Canudos, no bairro Cascata, no morro da Embratel, zona Sul de Porto Alegre. Segundo as informações da polícia, pelo menos seis homens atiraram contra uma viatura a paisana.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895