Como um ex-interno se tornou artesão metalúrgico através de oficinas na Fase

Como um ex-interno se tornou artesão metalúrgico através de oficinas na Fase

Christian Alisson Maciel dos Santos foi aluno do Centro de Convivência e Profissionalização (Ceconp), revitalizado após investimento de R$ 7,3 milhões

Marcel Horowitz

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A chance de se tornar artesão metalúrgico transformou a vida de Christian Alisson Maciel dos Santos. Aos 24 anos, além de ser proprietário de uma empresa do segmento, ele também ministra oficinas para adolescentes no Centro de Convivência e Profissionalização (Ceconp) da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase), onde foi aluno em 2017, quando permaneceu internado por sete meses. 

"Graças a essa instituição, tive o prazer de sair daqui diferente de como eu era quando cheguei", declarou o jovem, durante a reinauguração da Ceconp, na noite dessa quarta-feira. Desde março de 2022, o espaço passava por reformas, que tiveram investimento de aproximadamente R$ 7,3 milhões.  

O evento, que contou com a presença do governador Eduardo Leite e do ex-técnico da seleção brasileira Dunga, celebrava a recuperação da estrutura física da unidade, que recebeu melhorias como impermeabilização, pintura e troca de revestimentos, além da modernização das instalações sanitárias e elétricas, incluindo as áreas de tecnologia da informação, telefonia e de combate a incêndios.

"Temos uma grande missão, que é transformar a vida dos nossos socioeducandos, qualificando-os  para ter novas alternativas. A formação profissional é um dos principais instrumentos para a recuperação", declarou o presidente da Fase, José Luiz Stédile.

O caráter pedagógico e educativo do Ceconp é atestado por Christian. O artesão metalúrgico conta que fez diversas oficinas - como cursos de gastronomia, percussão, rádio, entre outros - até encontrar a profissão que decidiu seguir. "O Ceconp foi muito importante para mim. Através disso, consegui tocar minha vida e sustentar a minha família", destacou. 

"Em 2017, montei uma oficina no Ceconp. Desde o início vi que ele [Christian] estava focado e tinha vontade de aprender. A partir de então, comecei a ensinar ele", relatou Ricardo Soares Cardoso, que é proprietário de um ateliê onde produz esculturas de Ferro."Ele começou a trabalhar comigo, como terceirizado. Montamos uma empresa para ele, em 2019, e seguimos trabalhando juntos." 

O artista conta que os laços profissionais entre os dois se estreitaram ainda mais em 2021, a partir de um trabalho de restauração de postes na Praça da Matriz, no Centro de Porto Alegre. "Ali conheci o caráter dele. Ele chefiou as equipes e coordenou os trabalhos, se mostrando um cara super maduro. Tenho certeza que ele não está mais no crime, boto minhas duas mãos no fogo por isso", enfatizou. 

Christian e Ricardo | Foto: Ricardo Cardoso / CP
O exemplo de reinserção do jovem no mercado de trabalho, conta o artista, não se aplica à maior parte dos internos. Ricardo, no entanto, não tem planos de interromper o trabalho voluntário que realiza desde 1998. "Já ministrei mais de 200 cursos na Fase e o retorno é baixo. Mas minha motivação, além de social, é também espiritual. Acredito que a vida é um organismo e somos como células, todos precisam ajudar e fazer sua parte."

Na visão de Christian, um dos obstáculos para a recuperação dos internos são famílias desestruturadas que, por vezes, também são envolvidas com a criminalidade. "Muitos [internos] têm a família inteira envolvida [no crime]. Isso define bastante, pois dificulta que as pessoas sigam caminhos diferentes. Tenho alguns parentes envolvidos mas, graças a Deus, meus pais são trabalhadores." 

O ex-interno conta que, em 2017, quando foi detido, praticava atividades ilícitas por conta de necessidades financeiras. Morando sozinho desde os 15 anos, relata, começou a cometer furtos após ter sido demitido de um emprego, sendo apreendido após assumir o roubo de um veículo em nome de um conhecido, que já era maior de idade. 

Questionado sobre qual mensagem gostaria de deixar aos adolescentes apreendidos, Christian os alerta para que encarem com seriedade os cursos profissionalizantes.

"As vezes as pessoas fazem os cursos no Ceconp apenas como passatempo, no começo era o meu caso. Quando comecei a focar no que eu podia aprender, percebi que aquilo poderia me oferecer um rendimento e me proporcionar uma vida melhor. Temos que aproveitar as oportunidades, as vezes elas estão na nossa frente e não conseguimos visualizar."  

 


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