Crimes cibernéticos exploram fragilidades no ambiente virtual

Crimes cibernéticos exploram fragilidades no ambiente virtual

Estima-se que ocorram 500 mil novos ataques por dia em todo mundo

Cíntia Marchi

Crimes cibernéticos exploram fragilidades no ambiente virtual

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Estima-se que 500 mil novos ataques ocorram por dia aos computadores pessoais ou de empresas em todo o mundo. É como se a cada minuto, 347 novos códigos maliciosos - armadilhas na Web - fossem lançados na rede de computadores, visando causar algum dano ou roubar informações. Com o aumento do número de brasileiros conectados, os cibercriminosos têm feito cada vez mais vítimas ao explorarem as fragilidades no ambiente virtual.

Fábio Picoli, especialista em análise de sistema e responsável no Brasil pela operação de uma empresa de segurança digital, diz que relatórios extraídos pela empresa mostram que 87% dos empreendimentos analisados possuem pelo menos uma máquina sendo controlada por algum golpista. “O cibercriminoso tem o mesmo poder de controle do computador do que o usuário”, afirma. “O objetivo não é a máquina em si, mas ele (criminoso) vai usar o equipamento para tirar informações da empresa ou do usuário. Esse ataque permanece por meses, sem ser detectado”. Para roubo de dados, segundo Picoli, existem desde ataques simples, de metodologia conhecida, a golpes avançados.

Um dos tipos de ataque é o sequestros de dados. Neste caso, o hacker bloqueia um computador, tablet ou celular e congela todo o banco de dados, arquivos, senhas de acesso do usuário. Em seguida, exige pagamento de valores para o resgate dos conteúdos. Levantamento do FBI revelou que este tipo de golpe movimentou o equivalente a R$ 70 milhões em resgate em todo o mundo, nos últimos anos.

Segundo a Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos da Polícia Civil gaúcha, os principais crimes são estelionato, furto mediante fraude e extorsão. Estes são praticados por criminosos, que podem estar em outro estado ou no Exterior, por meio da Internet e com auxílio de tecnologia. “Os delitos mais comuns são fraude em boletos bancários e clonagem de dados de cartão de crédito, por meio da invasão de dispositivo informático”, diz o delegado Arthur Hermes Reguse.

O cibercriminoso especializou-se

Correio do Povo: Como atuam os golpistas?
Fábio Picoli: Percebemos que o cibercriminoso está se especializando. Em vez de ficar criando códigos aleatoriamente, ele direciona os ataques. O número de golpes sobe, o lucro dos golpistas aumenta, fazendo sempre com que as empresas tenham que investir em novas tecnologias para combater os ataques. Hoje, estamos oferecendo análises em tempo real contra novos códigos que estão tentando atacar dentro da rede do cliente. Infelizmente, ainda não é possível levar esta estrutura para a casa de um consumidor.

Correio do Povo: Quais empresas são mais vulneráveis?
Fábio Picoli: A grande e a pequena empresa enfrentam o mesmo cenário. Normalmente, a grande tem uma infraestrutura mais desenvolvida. O cibercriminoso tem atacado a empresa menor para chegar a grande. Exemplo muito conhecido foi o vazamento de dados em uma cadeia de varejo dos Estados Unidos, na Target. Este ataque começou por uma empresa de refrigeração que atendia a Target. Às vezes, o golpista escolhe este caminho antes de chegar ao alvo maior.

Correio do Povo: Existe colaboração entre empresas especializadas e Polícia no combate aos crimes?
Fábio Picoli: Existe uma atuação cada vez mais efetiva por parte das autoridades policiais, não só conhecendo os problemas, mas buscando parceiros com foco em tecnologia que possam ajudar na descoberta dos criminosos. No entanto, estamos longe de estar 100% seguros.

Correio do Povo: Os crimes no Exterior são parecidos com os aplicados no Brasil?
Fábio Picoli: De maneira abrangente são parecidos. Temos algumas características no mercado brasileiro. Uma é o ataque a sistemas financeiros utilizando malwares bancários, não para atacar o banco em si, mas os usuários. Estamos sempre atrás das novidades criadas pelos atacantes.

Correio do Povo:
Dos valores roubados, quanto consegue ser recuperado?
Fábio Picoli: Se o usuário é vitima de alguma fraude bancária pela Internet, geralmente ele tem o seu dinheiro devolvido pelo banco. Mas, aí quem fica prejudicada é a instituição financeira. Sempre alguém perde dinheiro.

Correio do Povo: Qual o refúgio da maioria dos criminosos?
Fábio Picoli: Tem muita gente espalhada em vários estados. Alguns trabalham de maneira muito reservada. Outros são vaidosos. Muitos são descobertos porque gostam de mostrar o que conseguem fazer. O Brasil, infelizmente, é bem representativo. 

Como o usuário pode se proteger

O delegado Arthur Hermes Reguse dá dicas para o usuário se proteger dos crimes cibernéticos.

• Oferta demasiadamente atraente, com preço fora do padrão de mercado, geralmente é isca para este tipo de crime.

• Manter antivírus instalado, ativado e atualizado no seu computador.

• Manter o sistema operacional atualizado. As versões novas de sistemas e, mesmo os softwares, geralmente corrigem vulnerabilidades existentes e já exploradas em versões anteriores.

• Manter o navegador e seus plug-ins (flash player, por exemplo) atualizados. Existem hackers que exploram falhas de vulnerabilidade que são corrigidas ao longo das novas versões destes softwares.

• Na dúvida, não clique. Busque orientação com pessoa com maior conhecimento em informática.

• Sempre verificar a URL, ou seja, a barra de endereço do site em que está fazendo a compra, e confirmar se é um site oficial.

• Não utilizar computadores públicos ou computadores desconhecidos para transações de compras e bancárias.
• Verificar todos os campos do boleto bancário, em caso de pagamento desta forma, e confirmar se o banco e a conta do beneficiário são realmente aqueles para os quais a pessoa realiza o pagamento.

• É essencial manter uma rotina de backup para dados importantes. Ou seja: salvar as informações em local diverso e seguro.


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