Delegada alerta sobre necessidade de denúncias para evitar feminicídios

Delegada alerta sobre necessidade de denúncias para evitar feminicídios

Crime contra a vida da mulher registrou forte alta em janeiro deste ano, conforme dados da SSP

Eduardo Amaral

publicidade

Delegada que responde pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), Cristiane Pires Ramos atribuiu à falta de denúncias prévias o alto índice de feminicídios registrado no início deste ano. De acordo com ela, das 10 vítimas de janeiro, apenas uma tinha medida protetiva e oito nunca tinham sequer feito qualquer registro de agressão. Conforme a Secretaria de Segurança Pública, o número de feminicídios em janeiro saltou de três para dez na comparação com o mesmo mês do ano passado, no RS. 

“Pela nossa experiência o feminicídio é o último fato de uma cadeia de violência”, explicou a delegada, ressaltando a importância de que as vítimas façam as denúncias. Cristiane avalia que é necessário um investimento em melhorias na rede de atenção às vítimas que passam por outros órgãos além dos ligados diretamente com a segurança. “Temos que qualificar o atendimento para que a vítima tenha confiança nos órgãos públicos não só na polícia. Ela tem muito medo de denunciar, então ela tem que ter essa certeza e essa confiabilidade maior na rede de proteção.” 

A delegada também chama a atenção para necessidade de a sociedade e os familiares estarem mais atentos aos sinais de agressão, que iniciam de forma sutil: “O agressor começa a trabalhar o isolamento da vítima, nem sempre começa com o tapa ou a lesão corporal”, explicou ela, que destacou que denúncias também podem ser feitas por terceiros e de forma anônima.

Em relação ao atendimento nas delegacias, Cristiane afirmou que a Polícia Civil tem buscado criar espaços mais apropriados para o atendimento a essas vítimas: “A gente tenta pegar um policial que tenha um perfil mais humanizado, até mesmo gentil. O olhar para a vítima que está em vulnerabilidade é totalmente diferente, é preciso olhar a vítima e não apenas o fato”. 

Na avaliação da delegada, já houve uma melhora “significativa” neste atendimento. Uma das ações destacada por ela é a criação das Salas Margaridas, espaço destinado exclusivamente para mulheres que buscam denunciar seus agressores. Elas estão sendo implementadas nas cidades que não têm uma delegacia especializada para atender as mulheres. “É um espaço onde ela será separada, com uma policial que já terá um tratamento mais humanizado e que vai entender melhor e não ser vitimizada pelo Estado.”

O vice-governador e também secretário de Segurança, Ranolfo Vieira Júnior, lamentou o crescimento nos feminicídios, mas destacou a importância de separar este crime de outros assassinatos. “Se não tivéssemos o recorte de gênero eles entrariam na vala comum e mesmo assim teríamos uma redução, então é importante definir corte de gênero para termos ações em relações.” 


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895