Denarc faz nova ofensiva contra facções gaúchas que movimentaram mais de R$ 700 milhões

Denarc faz nova ofensiva contra facções gaúchas que movimentaram mais de R$ 700 milhões

Grupos do RS trabalharam em parceria com o PCC no tráfico de drogas e lavagem de dinheiro

Correio do Povo

Houve cumprimento de 304 ordens judiciais no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul

publicidade

As facções gaúchas Os Manos e V7 e a organização criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC), que movimentaram cerca de 705,3 milhões em lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de drogas, foram os alvos ao amanhecer desta quarta-feira da segunda fase da megaoperação Pegasus do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) da Polícia Civil. A primeira etapa ocorreu em junho do ano passado.

Houve o cumprimento de 304 ordens judiciais, entre quebras de sigilos bancários, fiscais, financeiros, telemáticos, mandados de busca, prisões, indisponibilidade de bens móveis, imóveis e ativos financeiros e mobiliários na bolsa de valores e em criptomoedas. Entre as medidas cautelares estão também 23 prisões preventivas e temporárias e 67 mandados de busca e apreensões, além de 45 alvos para indisponibilidade de ativos dentre bens móveis, imóveis, contas bancárias, ações e criptomoedas.

A ação, conduzida pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Lavagem de Dinheiro (DRLD) e Divisão de Inteligência Policial e Análise Criminal (DIPAC), ambas do Denarc, coordenada pelos delegados Adriano Nonnenmacher e Wagner Dalcin, ocorreu no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. No RS, as ordens judiciais foram executadas em Porto Alegre, Canoas, Eldorado do Sul, Alvorada, Caxias do Sul, Xangri-Lá, Sarandi, Bagé, Dom Pedrito, São José do Norte e Santa Vitória do Palmar.

Cerca de 200 agentes foram mobilizados. Houve apoio logístico e operacional da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Entre as prisões preventivas estão três grandes operadores financeiros da facção paulista, que concentravam a maior parte dos valores pagos pelos traficantes gaúchos. As quantias eram redistribuídas depois para outros estados onde a facção paulista agia e com retorno para o Rio Grande do Sul através do Chuí, Santa Vitória do Palmar e Rio Grande. Um desses operadores movimentou aproximadamente R$ 101,2 mil e outro em torno de R$ 50,6 mil em alguns meses.

A investigação nesta segunda fase da operação Pegasus identificou também dois moradores de São José do Norte, que recebiam valores de São Paulo e são suspeitos de subsidiar ações da facção paulista no tráfico internacional de drogas pelo porto de Rio Grande. Na primeira fase já tinha sido identificado e indiciado um morador de Rio Grande e atuava na rota do narcotráfico via porto de Paranaguá, no Paraná.

Conforme os delegados Adriano Nonnenmacher e Wagner Dalcin, o modus operandi principal é uma lavagem de capitais sofisticada, não fixando grande patrimônio imobiliário veículos em nome próprio ou de laranjas, mas usando o sistema financeiro nacional através de centenas de transações bancárias diárias dissimuladas, pulverização, fracionamentos, smurfing, uso de cheques ao portador para saques e depósitos em espécie em vários estados, fronteiras, zonas portuárias.

O esquema consistia ainda na utilização de bancos digitais com dezenas de transações em um mesmo CPF ou CNPJ para burla à fiscalizações administrativas, uso de financeiras, depósitos e saques em lotéricas, mescla de ativos ilícitos e lícitos em empresas reais, integralização de capital espúrio em algumas destas pessoas jurídicas, uso de criptoativos e envio de ativos, bem como pagamentos a transportadores de drogas nas fronteiras do Mato Grosso do Sul, Rondônia e Amazonas, e ainda nos portos de Paranaguá e Rio Grande.

O trabalho investigativo do Denarc comprovou que as facções gaúchas enviavam pagamentos de logística e distribuição de lucros à facção paulista. Na apuração, os policiais civis constataram milhares de transações bancárias com valores baixos para não chamar a atenção e outras formas de impedir o rastreio contábil, sendo empregados até doleiros.

Durante a investigação, um grande operador logístico e financeiro de Porto Alegre foi preso pelo Denarc com 1,5 tonelada de maconha e R$ 500 mil em dinheiro. Ele teria movimentado cerca de oito toneladas de drogas ao Rio Grande do Sul, através de uma transportadora de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. Fuzis, munições e cocaína também foram recolhidos no período.

Segundo os delegados Adriano Nonnenmacher e Wagner Dalcin, a ação desta quarta-feira se interliga com as investigações na operação Irmandade, Borgata e Magna Ópera, realizadas pela DRLD do Denarc em anos anteriores.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895