Entenda o modus operandi de ataques que vitimaram adolescentes no bairro Cascata

Entenda o modus operandi de ataques que vitimaram adolescentes no bairro Cascata

Facção responsável por atentados na zona Sul de Porto Alegre é alvo da Operação Per La Madre

Marcel Horowitz

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Os ataques feitos por uma facção na zona Sul de Porto Alegre, que resultaram nas mortes de um menino de 12 anos e dois irmãos adolescentes, eram planejados com antecedência e executados através de método. O modus operandi foi relevado pela Polícia Civil que, nesta terça-feira, deflagrou a Operação Per La Madre, em 11 municípios gaúchos e em Santa Catarina, tendo como principal alvo o grupo, apontado por uma série de atentados no Bairro Cascata.

De acordo com a corporação, a ofensiva foi motivada por um ataque ocorrido no dia 19 de abril, quando os irmãos Marina Maciel dos Santos, de 16 anos, e João Francisco Maciel dos Santos, de 14, foram baleados e mortos por cinco traficantes guiando um Ford Ecosport, na avenida Herval. Na ocasião, outro adolescente, de 17 anos, e um casal, também foram atingidos mas sobreviveram. Nenhuma das vítimas tinha envolvimento com o tráfico de drogas.

O grupo também participou de um atentado no dia 15 de maio na rua Francisco Martins, dessa vez guiando um Chevrolet Prisma branco e com placas clonadas, quando uma idosa, que sobreviveu, foi baleada no ombro. 

Quinze dias depois, utilizando o mesmo veículo, eles efetuaram mais um ataque a tiros, dessa vez contra uma loja de conveniência - onde estavam cerca de 30 pessoas - também no bairro Cascata. Mais uma vez, nenhum dos alvos tinha envolvimento com o crime organizado. 

Um caso até então não solucionado também tem a autoria do grupo. As investigações revelaram que, no dia 12 de setembro de 2022, a facção determinou um ataque a tiros contra uma barbearia, que vitimou Eliezer Samuel Lucas, de 12 anos. O barbeiro Edgar Rodrigues Lisboa, de 26, também morreu, atingindo pelos disparos enquanto tentava proteger o menino.

Por mais que as vítimas desses crimes pareçam ter sido atingidas de forma aleatória, a delegada Clarissa Demartini, titular da 1ª DP de Homicídios, explica a logística dos ataques. 

De acordo com a delegada, que comandou as investigações, os ataques do grupo eram executados com modus operandi. Antes dos crimes serem efetivamente realizados, explica Clarissa, um criminoso, se infiltrava no bairro com uma câmera e registrava imagens que, posteriormente, eram enviadas para os líderes da facção, que cumprem pena no sistema penitenciário.

"Na gíria do crime, o responsável por fazer esse tipo de filmagem é chamado de drone”, afirmou ela. “ As imagens eram enviadas para dentro das cadeias, onde eram analisas pelos líderes, que planejavam e determinavam os pontos em que os ataques seriam feitos.”

Ainda segundo Clarissa, após os líderes da facção terem decidido onde os atentados ocorreriam, tinha início a segunda etapa do plano. A partir de então, um grupo de criminosos se reunia em um local pré-determinado, onde seguia de carona com outro integrante da facção, que guiava um carro roubado e fazia o papel de motorista. O condutor era o encarregado por levar os comparsas até a área onde aconteceria o ataque e, também, por retirá-los do local, uma vez concretizado o plano. 

Após a execução dos atentados, motorista e executores seguiam para outro local, chamado por eles de “base”. Ali o  veículo era abandonado e, por vezes, incinerado. “Isso dificultava o monitoramento deles, uma vez que se desfaziam do carro utilizado nos ataques”, disse Clarissa.

Foi a partir de um coquetel molotov, localizado pelos policiais dentro do Ecosport utilizado no crime do dia 19 de abril, que foi possível se chegar na identidade do grupo. O objeto continha as digitais dos criminosos, que foram analisadas pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP). "O molotov provavelmente seria utilizado para destruir o veículo e eliminar, até até mesmo para a realização de outro ataque", destacou. 

Todos os alvos da Operação Per La Madre são integrantes de uma facção criada no bairro Bom Jesus, na zona Leste, mas que também criou ramificações na zona Sul. Até o momento desta publicação, 49 dos 66 alvos da ação já haviam sido presos.


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