Falta de luz encobre atuação de facções, dizem moradores da zona Norte de Porto Alegre

Falta de luz encobre atuação de facções, dizem moradores da zona Norte de Porto Alegre

Parte do bairro Mario Quintana está sem energia desde a última terça-feira

Marcel Horowitz

Moradores do bairro Mario Quintana relatam movimentação de facções durante falta de luz

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A falta de luz encobre a atuação das facções, afirmam os moradores do bairro Mario Quintana, na zona Norte de Porto Alegre. Eles contam que traficantes se valem da escuridão para ameaçar rivais, efetuar disparos e ostentar armamento de grosso calibre em via pública. Parte da região permanece sem energia desde o temporal, na última terça-feira.

Um morador relata que, à noite, os criminosos aproveitam a falta de iluminação nos postes para sair às ruas. O objetivo é localizar rivais. As buscas são feitas com pistolas em punho e fuzis a tiracolo.

“A falta de luz facilitou muito a atividade dos traficantes. Sem iluminação nas ruas, eles desfilam com armas pesadas, todas à mostra”, destacou, em condição de anonimato.

Ainda segundo ele, as incursões noturnas visam conquistar pontos de tráfico. As patrulhas incluem ameaças de morte em voz alta, contou. “Gritam que quem estiver nas ‘biqueiras’ [pontos de tráfico] vai morrer, não importa quem for.”

Outro morador disse, também sob sigilo, que a venda e distribuição de entorpecentes aumentou após a falta de energia. Um dos indícios seria o maior fluxo de veículos na região, durante o turno da noite. “Houve aumento na movimentação de motos e carros. Isso vem ocorrendo desde quando faltou luz”, afirmou ele.

BM impede atentado

Ainda na noite de domingo, a Brigada Militar frustrou um ataque a tiros no bairro Mario Quintana. A suspeita é que o atentado ocorreria na Vila Safira. Foram presos quatro homens de 24, 31, 35 e 43 anos. Todos eles já tinham antecedentes criminais.

Na ocasião, a Força Tática do 19º BPM interceptou o veículo dos criminosos na avenida Protásio Alves. Houve perseguição e os bandidos acabaram se chocando contra um poste, na esquina entre as ruas Bom Jesus e Alfredo Ferreira Rodrigues. Eles atiraram contra os soldados, que revidaram.

Dois criminosos foram baleados. Ambos receberam atendimento no HPS e não correm risco de morrer. Nenhum policial militar ficou ferido.

Foram apreendidos dois fuzis, duas pistolas, seis carregadores de pistola, dois carregadores de fuzil e aproximadamente 200 munições.

Os presos haviam saído do bairro Bom Jesus, na zona Leste. Desde setembro, a facção que eles integram está em guerra com o grupo da zona Norte.

Operação permanente

Segundo o 20º BPM, os últimos dias não registraram aumento de ocorrências no Mario Quintana. O major Hélcio Gaira não descarta que o crime organizado tire proveito da falta de luz, mas enfatiza que a segurança foi reforçada na localidade.

"Não deixamos de fazer nosso trabalho por causa do temporal. Estamos cuidando de perto da comunidade. Contamos com seis guarnições a mais no Mario Quintana, com apoio 24 horas”, declarou.

O major destaca que o reforço do policiamento é fruto da Operação Saturação de Área, deflagrada em caráter permanente pela BM e Polícia Civil. Não há prazo de término da ação.

A ofensiva é uma resposta à nova escalada da guerra entre facções. Desde janeiro, o confronto já deixou 11 mortos na região.

Conforme o Departamento Estadual de Homicídios, a zona Norte é a que mais concentra assassinatos em Porto Alegre. Aproximadamente 80% dessas mortes ocorrem dentro do contexto do crime organizado.

Entenda a guerra do tráfico

O bairro Mário Quintana passa por uma guerra de facções desde o final de setembro. O pivô do conflito é Maicon Donizete Pires dos Santos, o Red. Ele atuava como gerente do tráfico local, subordinado a José Dalvani Nunes Rodrigues, o Minhoca.

Minhoca foi preso em 2016 e transferido para uma penitenciária federal, no ano seguinte. A ausência dele fez com que Red expandisse sua influência, a ponto de abandonar os aliados e formar a própria quadrilha. Desde então, as duas facções travam disputas pelo controle do tráfico.

O novo grupo se intitula Comando Nova Geração. Atualmente, Red é considerado o foragido mais procurado de Porto Alegre. Segundo a Polícia Civil, a facção comandada por ele arrecada R$ 1 milhão por semana com a venda de drogas. A corporação suspeita que o criminoso possa estar escondido em outros estados ou no Paraguai.


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