Operação contra guerra de facções é retomada na zona Norte de Porto Alegre

Operação contra guerra de facções é retomada na zona Norte de Porto Alegre

Nova fase da Operação Saturação de Área ocorre após ataques deixarem quatro mortos no bairro Mario Quintana

Marcel Horowitz

Operação Saturação de Área busca coibir escalada de conflito entre facções no bairro Mário Quintana

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Entrou em vigência o novo ciclo da Operação Saturação de Área, deflagrada em caráter permanente pela Brigada Militar e Polícia Civil, no bairro Mario Quintana, na zona Norte de Porto Alegre. O objetivo é intensificar o policiamento ostensivo e reduzir homicídios. A ação é uma resposta à nova escalada das disputas entre duas facções, iniciadas em setembro. Não há prazo de término para a ofensiva.

A fase mais recente da operação ocorre após atentados em série que deixaram quatro mortos e dois feridos no final de semana. Os ataques foram o recrudescimento da guerra do tráfico, que havia arrefecido em dezembro.

Segundo dados do 20º BPM, o bairro registrou três homicídios em setembro, um em outubro, quatro em novembro e dois em dezembro. As quatro mortes registradas em janeiro, ocorridas em menos de 18 horas, igualaram a primeira semana de 2024 ao mês mais violento do ano passado.

“Faremos abordagens e patrulhamento em todos os locais do bairro. O viés é trazer mais segurança para a população da zona Norte”, afirmou o comandante do 20º BPM, tenente-coronel Rafael Tiaraju de Oliveira.

Uma etapa anterior da ação já havia sido deflagrada, entre os meses de setembro e outubro. Na ocasião foram presos 75 criminosos e apreendidas 62 armas de fogo, em um período de dez dias.

Quatro homicídios em 18 horas

Desde que foi retomada, a operação já teve três edições. As ações ocorreram na quarta-feira, segunda e no sábado, quando houve dois tiroteios. Na data, próximo às 17h, quatro pessoas foram alvejadas na rua A. Os disparos foram efetuados por uma dupla, que fugiu a pé.

Dois homens, ambos de 18 anos, morreram. Também ficaram feridos outro jovem, de 19 anos e sem antecedentes, e uma mulher, de 22, com registros por receptação e tráfico. Ambos sobreviveram.

Segundo moradores, o grupo foi atacado quando transportava móveis para uma residência. A suspeita é que eles se mudariam para o local, como forma de garantir a presença da facção que pertenciam em uma área disputada por rivais. Cinco suspeitos foram presos no dia seguinte ao crime.

Ainda no sábado, um homem de 38 anos foi baleado, próximo às 11h30min, na rua Manoel Marques. A vítima foi identificada como Leandro Costa da Silva, que tinha antecedentes por tráfico. Ele foi encaminhado para o Hospital Cristo Redentor, onde passou por cirurgia, mas não resistiu e acabou morrendo. O autor dos disparos fugiu em um Ford Ka, de cor preta.

Na noite anterior, às 23h40min, uma mulher de 35 anos foi baleada e morta na Vila Alzira Rosa. Ela foi identificada como Sabrina Moraes, vulgo Bina. A ficha criminal dela tem registros por tráfico de drogas e dano qualificado.

Os autores dos disparos fugiram em um veículo de cor prata. Antes do homicídio, eles entraram em uma residência utilizada como ponto de venda de drogas, aparentemente à procura de um rival. A mulher foi morta, com tiros no rosto, quando o bando deixava o imóvel.

A investigação aponta que todas as vítimas tinham vínculo com uma facção criada no bairro Bom Jesus, na zona Leste, mas que também criou ramificações no bairro Mário Quintana.

Conforme o Departamento Estadual de Homicídios, a zona Norte é a região que mais concentra casos de assassinatos em Porto Alegre. Aproximadamente 80% dessas mortes ocorrem dentro do contexto do crime organizado.

Guerra do tráfico

O bairro Mário Quintana passa por uma guerra de facções desde o final de setembro. O pivô do conflito é Maicon Donizete Pires dos Santos, o Red. Ele atuava como gerente do tráfico, subordinado a José Dalvani Nunes Rodrigues, o Minhoca.

Minhoca foi preso em 2016 e transferido para a Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, no ano seguinte. A ausência do líder fez com que Red expandisse sua influência, a ponto de sair do grupo e formar uma nova quadrilha, intitulada Comando Nova Geração. Desde então, as duas facções travam disputas pelo controle de pontos de tráfico na região.

Atualmente, Red é considerado o foragido mais procurado de Porto Alegre. Segundo a Polícia Civil, a facção comandada por ele arrecada R$ 1 milhão por semana com a venda de drogas. A corporação suspeita que o criminoso possa estar escondido em outros estados ou no Paraguai.

Em dezembro, a família de Red foi alvo da Operação Alerta Vermelho. A ação mirou empresas que eram usadas para dar aparência legítima ao lucro do tráfico. Na ocasião, ocorreram 79 sequestros de veículos. Os investigados lavaram cerca de R$ 50 milhões em um ano.


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