Inteligência artificial pode ajudar no combate à criminalidade, aponta consultor
Seminário que ocorre hoje em Porto Alegre discute formas de barrar o avanço de delitos no País
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Segundo João Henrique Martins, a movimentação financeira somente em nove mercados ilícitos - tabaco, eletrônicos, vestuário, químicos, automotivo, alimentos, higiene, brinquedos e medicamentos - ficou em cerca de R$ 15 bilhões em 2016. “Em São Paulo, os mercados ilegais de eletrônicos e automóveis são responsáveis por quase 40% da violência criminal. Existe uma demanda para que esse mercado se forme. Só existe mercado ilícito por que existe uma demanda. Na hora em que a pessoa compra na ponta, na outra está incentivando a criminalidade. As pessoas precisam criar consciência de que estão alimentando a violência que paira sobre elas”, afirmou.
“O criminoso é estimulado por incentivos principalmente econômicos. Temos um problema que é a cultura do brasileiro mas também temos um problema que é inadequação ou omissão de algumas autoridades, em especial a legislativa”, acrescentou. Na opinião do cientista político, “vale a pena cometer o crime por que a punição é muito baixa e o custo é pequeno”. Para ele, é preciso “redefinir a resposta que damos ao crime”.
Em sua palestra, João Henrique Martins abordou o uso da Inteligência Artificial (IA) no processamento de dados na área da segurança pública. O coordenador do Observatório de Mercados Ilícitos da FIESP/SP assinalou que a IA ajuda a explicar e mapeia a atividade criminal. Ele citou, como exemplo, o celular roubado. “Ele alimenta um mercado e forma uma cadeia. Se analisarmos os dados do jeito certo e na velocidade necessária, buscando dados que estão fragmentados em várias fontes, a gente consegue entender e mesurar se o mercado dele está aumentando ou diminuindo”, observou. “A inovação da inteligência artificial é o uso dela”, apontou, lembrando que o Brasil ainda está atrasado nesta questão. “Depende de desenvolvimento tecnológico, do fomento, da comunidade privada e acadêmica, e do governo implementar e absorver essa inovação. Estamos engatinhando. Os Estados Unidos tem banco de dados desde os anos 30”, recordou.
Já o Procurador do Ministério Público do Rio de Janeiro, Marcelo Rocha Monteiro, que fará palestra na tarde de hoje, pretende comparar os modelos de segurança norte-americano e brasileiro. “São modelos e culturas diferentes no combate à criminalidade. Os Estados Unidos, desde o início dos anos 90, vem adotando uma política de tolerância zero com punição efetiva a todas as infrações penais desde os crimes de menor potencial ofensivo até os mais graves. Se você não pune de forma efetiva a infração mais leve, você estimula a prática de crimes cada vez mais graves”, considerou.
“No Brasil adotamos o caminho oposto”, lamentou. “Toda nossa legislação passou a ser no sentido do desencarceramento e da não adoção de pena privativa de liberdade. Parece que os resultados não foram muito bons por que nossa criminalidade explodiu”, frisou. “Enquanto isso nos Estados Unidos a criminalidade despencou de uma forma tão impressionante que hoje é objeto de estudo”, ressaltou o Procurador do Ministério Público do Rio de Janeiro, Marcelo Rocha Monteiro.
O Seminário Internacional Um Pacto Brasileiro pela Segurança, que conta com vários convidados entre a manhã e tarde de hoje no Plenário Otávio Rocha da Câmara Municipal de Porto Alegre, tem como objetivo compartilhar a experiência de especialistas na área de segurança pública e debater a adaptação de medidas utilizadas com sucesso na luta pela diminuição dos índices de violência em outras cidades do mundo.