Inteligência artificial pode ajudar no combate à criminalidade, aponta consultor

Inteligência artificial pode ajudar no combate à criminalidade, aponta consultor

Seminário que ocorre hoje em Porto Alegre discute formas de barrar o avanço de delitos no País

Correio do Povo

Seminário Um Pacto Brasileiro pela Segurança acontece nesta sexta-feira, em Porto Alegre

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Paralelo e à margem da lei, o mercado ilícito de produtos e bens roubados em São Paulo cresce 14% ao ano enquanto a economia legal está em recessão. A avaliação é do cientista político e consultor João Henrique Martins, coordenador do Observatório de Mercados Ilícitos da FIESP, que participa do seminário internacional Um Pacto Brasileiro pela Segurança, promovido hoje pela Escola do Legislativo Julieta Battistioli da Câmara Municipal de Porto Alegre. “Estamos lutando contra verdadeiros empreendedores do crime”, sintetizou.

Segundo João Henrique Martins, a movimentação financeira somente em nove mercados ilícitos - tabaco, eletrônicos, vestuário, químicos, automotivo, alimentos, higiene, brinquedos e medicamentos - ficou em cerca de R$ 15 bilhões em 2016. “Em São Paulo, os mercados ilegais de eletrônicos e automóveis são responsáveis por quase 40% da violência criminal. Existe uma demanda para que esse mercado se forme. Só existe mercado ilícito por que existe uma demanda. Na hora em que a pessoa compra na ponta, na outra está incentivando a criminalidade. As pessoas precisam criar consciência de que estão alimentando a violência que paira sobre elas”, afirmou.

“O criminoso é estimulado por incentivos principalmente econômicos. Temos um problema que é a cultura do brasileiro mas também temos um problema que é inadequação ou omissão de algumas autoridades, em especial a legislativa”, acrescentou. Na opinião do cientista político, “vale a pena cometer o crime por que a punição é muito baixa e o custo é pequeno”. Para ele, é preciso “redefinir a resposta que damos ao crime”.

Em sua palestra, João Henrique Martins abordou o uso da Inteligência Artificial (IA) no processamento de dados na área da segurança pública. O coordenador do Observatório de Mercados Ilícitos da FIESP/SP assinalou que a IA ajuda a explicar e mapeia a atividade criminal. Ele citou, como exemplo, o celular roubado. “Ele alimenta um mercado e forma uma cadeia. Se analisarmos os dados do jeito certo e na velocidade necessária, buscando dados que estão fragmentados em várias fontes, a gente consegue entender e mesurar se o mercado dele está aumentando ou diminuindo”, observou. “A inovação da inteligência artificial é o uso dela”, apontou, lembrando que o Brasil ainda está atrasado nesta questão. “Depende de desenvolvimento tecnológico, do fomento, da comunidade privada e acadêmica, e do governo implementar e absorver essa inovação. Estamos engatinhando. Os Estados Unidos tem banco de dados desde os anos 30”, recordou.

Já o Procurador do Ministério Público do Rio de Janeiro, Marcelo Rocha Monteiro, que fará palestra na tarde de hoje, pretende comparar os modelos de segurança norte-americano e brasileiro. “São modelos e culturas diferentes no combate à criminalidade. Os Estados Unidos, desde o início dos anos 90, vem adotando uma política de tolerância zero com punição efetiva a todas as infrações penais desde os crimes de menor potencial ofensivo até os mais graves. Se você não pune de forma efetiva a infração mais leve, você estimula a prática de crimes cada vez mais graves”, considerou.

“No Brasil adotamos o caminho oposto”, lamentou. “Toda nossa legislação passou a ser no sentido do desencarceramento e da não adoção de pena privativa de liberdade. Parece que os resultados não foram muito bons por que nossa criminalidade explodiu”, frisou. “Enquanto isso nos Estados Unidos a criminalidade despencou de uma forma tão impressionante que hoje é objeto de estudo”, ressaltou o Procurador do Ministério Público do Rio de Janeiro, Marcelo Rocha Monteiro.

O Seminário Internacional Um Pacto Brasileiro pela Segurança, que conta com vários convidados entre a manhã e tarde de hoje no Plenário Otávio Rocha da Câmara Municipal de Porto Alegre, tem como objetivo compartilhar a experiência de especialistas na área de segurança pública e debater a adaptação de medidas utilizadas com sucesso na luta pela diminuição dos índices de violência em outras cidades do mundo.

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