Lavagem de dinheiro de organização criminosa do Norte do RS é alvo de operação

Lavagem de dinheiro de organização criminosa do Norte do RS é alvo de operação

Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Passo Fundo deflagrou operação com o cumprimento de 925 ordens judiciais em 113 cidades de 23 estados

Correio do Povo

Houve bloqueio de contas bancárias de 188 suspeitos, além de indisponibilidade de 42 imóveis e 86 veículos

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A Polícia Civil desencadeou ao amanhecer desta quarta-feira uma ofensiva contra uma organização criminosa que atua na região Norte do Rio Grande do Sul e possui ligações com as facções Os Manos, do Vale do Rio dos Sinos, e Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo. A quarta fase da operação Fim da Linha-Do Oiapoque ao Chuí, coordenada pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Passo Fundo, mirou a lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de drogas, contrabando de cigarros e tráfico de armas.

Cerca de 1,3 mil agentes de várias forças policiais civis estaduais foram mobilizados. Houve o cumprimento de 925 ordens judiciais, sendo 403 mandados de busca e apreensão e quatro prisões preventivas, além do sequestro judicial de 187 veículos, sete embarcações e nove aeronaves, em 113 cidades de 23 estados.

A ação resultou ainda no bloqueio de contas bancárias de 188 suspeitos, entre pessoas físicas e jurídicas, bem como indisponibilidade de 42 imóveis e 86 veículos. Com exceção dos imóveis, os demais bens apreendidos ou indisponíveis estão avaliados em aproximadamente R$ 43 milhões.

Segundo o titular da Draco de Passo Fundo, delegado Diego Medeiros, a investigação começou em 2021 e constatou a existência de quatro pessoas físicas e jurídicas consideradas importantes. Um deles movimentou em poucos meses a quantia de mais de R$ 6 milhões. Já um outro indivíduo operou R$ 36,5 milhões.

Por sua vez, uma empresa fantasma foi responsável pela movimentação de R$ 94,9 milhões, enquanto uma outra apresentou operações financeiras de R$ 27,7 milhões. O trabalho investigativo apurou também extratos bancários que somaram R$ 293,3 milhões em apenas nove meses. O delegado Diego Medeiros observou ainda que mais de R$ 2 bilhões foram verificados em transações suspeitas em um ano.

Segundo o delegado Diogo Ferreira, o trabalho policial identificou diversas ramificações desta organização criminosa, sendo possível “comprovar que muitos criminosos comandavam o comércio ilícito de drogas de dentro do sistema prisional, com vinculação, num primeiro momento, a duas das facções criminosas do país: uma delas atuante no RS e outra a nível nacional”.

As subdivisões do grupo foram então verificadas pelos policiais civis. A investigação recaiu principalmente sobre o líder da célula da organização criminosa que comanda o narcotráfico na região Norte do Estado. “A partir daí, foram realizadas diversas diligências para verificar quem lhe fornecia as drogas, para quem ele as revendia, quem trabalhava para ele, quem transportava seu dinheiro e o dinheiro que dele partia para as instâncias superiores da facção criminosa”, explicou.

Nesta quarta fase da operação, que recai sobre a lavagem de dinheiro, os agentes buscam farto conteúdo relacionado ao tráfico de drogas, compra e venda de armas de fogo, contrabando de cigarros e inúmeras operações bancárias, transferências de dinheiro, depósitos, PIX e números de contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas, algumas criadas exclusivamente para “lavar o dinheiro” das organizações criminosas.

Conforme o titular da Draco de Passo Fundo, no decorrer da apuração, foi verificada a existência de vários “laranjas” de alto escalão, responsáveis por fornecer suas contas bancárias para o recebimento e repasse dos valores provenientes do tráfico de drogas para outros escalões da organização.
“Muitas vezes eram pessoas que movimentam vultosas quantias em dinheiro, mas que moram em locais simples, totalmente incompatíveis com as movimentações. Assim como foi constatada a existência de pessoas jurídicas que são tipicamente empresas fantasmas ou que têm suas contas utilizadas exclusivamente para atos de lavagem de dinheiro”, esclareceu o delegado.

“As ramificações em quase todos os estados demonstram a capilaridade dessas organizações criminosas, tanto no recebimento, quanto na remessa de valores para criminosos associados. Além disso, o esquema não envolve apenas médias ou grandes cidades, mas até em pequenas cidades do Brasil foram identificados indivíduos que remeteram ou receberam dinheiro do crime organizado, e isto tudo vinculado  principalmente ao tráfico de drogas e armas”, acrescentou.

A primeira fase da operação foi realizada em 02 de fevereiro de 2022, sendo cumpridos 73 mandados de busca e apreensão e 35 mandados de prisões preventivas. “Tratava-se de uma extensa rede criminosa com ramificações em vários estados da federação e conexões para a remessa de drogas com as cidades de Capitán Bado, Pedro Juan Caballero e Ciudad del Este, todas no Paraguai”, recordou o delegado Diego Medeiros. Um total de 37 líderes do tráfico foram presos no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Já a segunda fase aconteceu em 10 de fevereiro de 2022 com cumprimento de dez mandados de busca e apreensão nas cidades de Goiânia, em Goiás; Campo Grande, no Mato Grosso do Sul; Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul; Itapema, em Santa Catarina; Joinville, em Santa Catarina, e Gaspar, em Santa Catarina. A terceira etapa da operação foi em 12 de julho de 2022. Os agentes cumpriram 24 mandados de busca e apreensão, sendo presos mais 18 indivíduos.

De acordo com o titular da Draco de Passo Fundo, as três primeiras ações resultaram em 65 prisões e na apreensão de 720 quilos de maconha e 26,8 quilos de cocaína, além do recolhimento de dezenas de veículos e bloqueios de contas bancárias.

Toda a investigação tem o apoio logístico e operacional da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Foto: Joana / Polícia Civil / Divulgação / CP 

Foto: PC / Divulgação / CP


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