Familiares e amigos deram adeus a Allan dos Santos Lucas, baleado e morto aos 21 anos na zona Sul de Porto Alegre. Entre choro inconsolável e lamentos em voz alta, era possível observar expressões de revolta e incredulidade no rosto dos presentes no Cemitério São Miguel e Almas, onde atos fúnebres ocorreram nesta terça-feira. O jovem foi sepultado próximo ao corpo da avó.
No início da manhã, dezenas de motociclistas percorreram as ruas da Capital em homenagem à memória de Allan. Isso porque ele era motoboy e produzia conteúdos da área nas redes sociais.
Allan nasceu no bairro Restinga, onde morava na avenida Luiz Francisco Zanella. Ele fazia telentrega de pizzas e lanches, além de atuar em serviços de aplicativo. No último domingo, quando foi assassinado em um ataque a tiros, estava no trabalho.
Ele não tinha antecedentes criminais nem era envolvido com facções. Após o crime, um vídeo gravado com celular registrou os últimos momentos do rapaz, que foi ferido no peito e ainda conseguiu atravessar uma rua. Chegou a ser socorrido, mas não resistiu.
De acordo com a Polícia Civil, Allan foi uma vítima inocente da rivalidade entre dois grupos criminosos que atuam na região. O atentado também matou Cristiano Machado Henriques, que tinha 43 anos e que somava antecedentes por crimes diversos. Outras cinco pessoas ficaram feridas, mas receberam atendimento no Hospital da Restinga e sobreviveram.
Cristiano Goulart, de 36 anos, é tio de Allan. Com lagrimas nos olhos, ele destacou que o sobrinho era conhecido por ser trabalhador e que pretendia economizar dinheiro para investir em um futuro ao lado da esposa. Ela tem a mesma idade de Allan, sendo que o casal se relacionava desde os 16 anos.
"Allan não usava drogas nem se envolvia em confusão. Era um guri que só pensava em trabalhar. Ele se esforçou muito para comprar uma moto e para construir um lar com a esposa. Morreu de uma forma absurda e sem sentido, enquanto tentava fugir dos disparos. Não é possível que essa situação vá continuar igual. Pelo visto, a gente não pode mais sair na rua sem ter medo de morrer”, desabafou o tio.
Como foi o ataque a tiros
O atentado ocorreu na avenida Vereador Milton Pozzolo de Oliveira, no entorno da Escola de Samba Estado Maior da Restinga, por volta das 17h30min de domingo. Segundo a Brigada Militar, três atiradores e mais um motorista estavam em um Renault Sandero branco. Ninguém havia sido preso até o momento desta publicação.
Além dos dois mortos, cinco sobreviventes foram internados no Hospital da Restinga. Conforme boletim médico, apenas um dos pacientes requer cuidados redobrados. O quadro de saúde dele é considerado grave, porém estável. As outras pessoas que foram baleadas não correm risco de morrer. Um última vítima não foi atingida, mas sofreu fratura no pé ao tentar fugir dos tiros.
ASSASSINATOS NA RESTINGA
Disputa de gangues
A investigação trata o ocorrido no contexto dos grupos criminosos. Não é descartado que a motivação possa ter sido a rivalidade entre duas gangues oriundas da Restinga. Uma destas surgiu na área da Primeira Unidade. Outra, tem nome inspirado em uma madeireira.
O ataque teria sido feito por traficantes da Primeira Unidade. Ainda segundo apuração policial, a intenção deles seria retaliar a tentativa de homicídio de um comparsa, que aconteceu em outra ocasião e que supostamente foi cometida por integrantes da segunda quadrilha. A 4ª Delegacia de Homicídios (DHPP) investiga o caso.