"O pior é a saudade", afirma mãe de gaúcho preso há nove meses no Líbano

"O pior é a saudade", afirma mãe de gaúcho preso há nove meses no Líbano

Natural de Carazinho, Igor Antônio dos Santos Cabral e a companheira Juliana Nunes do Nascimento foram presos em Beirute no dia 19 de dezembro

Marcel Horowitz

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Há nove meses, o único contato de Claudete Aparecida dos Santos com o filho tem sido através de chamadas de vídeo. Preso em Beirute, desde o dia 19 de dezembro, Igor Antônio dos Santos Cabral só consegue conversar com a mãe quando é visitado por uma funcionária da embaixada brasileira no Líbano, que empresta o aparelho celular para que os dois possam aliviar a saudade por alguns minutos.

"Ele está bem. Apenas está um pouco mais magro, mas isso é normal. Afinal, ele não está em casa se alimentando como deveria. Mas ele está bem de saúde e vivo, graças a Deus", desabafa Claudete, que mora em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos.

Antes da prisão, o rapaz de 26 anos vivia em Carazinho, cidade onde nasceu, com a companheira Juliana Nunes do Nascimento, de 31, que é natural de Belém, no Pará. Os dois moravam juntos no município da região Norte há quase dois anos, no bairro Operária. "Ele era músico, tocava com o pai dele. Serviu ao Exército e foi reconhecido por boa conduta", destaca a mãe de Igor.

De acordo com o boletim da ocorrência, o casal embarcou para São Paulo, no dia 13 de dezembro, supostamente para fazer compras. Eles mantiveram contato com familiares até o dia 18, quando pararam de retornar mensagens e ligações. No dia 22, a irmã de Igor fez o registro do desaparecimento com a Polícia Civil. O paradeiro da dupla só foi revelado no dia 29, quando autoridades libanesas entraram em contato com o Itamaraty para informar que ambos haviam sido presos.

Segundo o Jornal do Líbano, site com enfoque na comunidade libanesa-brasileira, o casal foi detido no dia 19 daquele mês, no Aeroporto Internacional de Beirute Rafic Hariri, após desembarcar de um voo da Qatar Airways, que saiu do Aeroporto Internacional de Guarulhos, com escala em Doha. Ainda conforme o portal, os dois foram flagrados transportando, cada um, 500 gramas de cocaína no estomago.

"É o que a gente sabe também, mas eu ainda não posso acreditar. Vou defender ele com unhas e dentes. Era um menino que mal saia de dentro de casa. Ele caiu em um golpe. Não vou comentar sobre isso, mas ele caiu em um golpe sim", limitou-se a afirmar a mãe do rapaz.

Para atuar na defesa do filho, Claudete contratou um advogado que mora no Líbano, com quem se comunica em inglês, acrescentando ainda que a opção de procurar um defensor particular decorre da morosidade das autoridades brasileiras perante o caso. O julgamento do casal, segundo ela, deve ocorrer até o final do ano. "O Líbano não tem acordo de extradição com o Brasil. No momento que sair [a sentença], eles vão ter que cumprir lá", explicou.

"O que tínhamos era uma ocorrência de desaparecimento. Então, quando eles foram localizados, o inquérito perdeu o objeto", declarou a delegada Rita De Carli, titular da Delegacia de Polícia de Carazinho."As únicas informações que sabemos são as que os familiares deles nos passaram. O Itamaraty e as autoridades libanesas dizem que a apuração do caso é sigilosa", destacou.

O Correio do Povo ligou para o chefe de gabinete do Ministro das Relações Exteriores, Ricardo de Souza Monteiro, mas ele se recusou a falar com a reportagem. 

Enquanto aguarda a confirmação de uma data na Corte libanesa, Claudete garante que o filho está sendo bem tratado pelas autoridades do país estrangeiro. "Querem ele muito bem lá. Ele até já fez amizade com outros detentos. O pior mesmo é a saudade", concluiu.


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