PF investiga agressão contra indígena em Porto Alegre

PF investiga agressão contra indígena em Porto Alegre

Aluno da Ufrgs foi agredido em frente à Casa do Estudante

Luiz Felipe Mello

Polícia Federal deve investigar crime de ódio em Porto Alegre

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A agressão a um estudante indígena da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), ocorrida na noite do último sábado em Porto Alegre, será investigada pela Polícia Federal (PF), que já abriu inquérito por tentativa de homicídio e injúria racial. O crime será apurado pela Delegacia de Defesa Institucional. 

A violência contra Nerlei Fidelis, 31 anos, de origem Caingangue e cotista do curso de medicina veterinária, foi registrada pelas câmeras de monitoramento da Casa do Estudante, que mostram ao menos seis agressores, que seriam estudantes da própria universidade e da PUCRS. O vídeo foi publicado nas redes sociais e, no Facebook, teve mais de 1,8 mil compartilhamentos, além de 2,8 mil comentários.  

Apesar de ter ocorrido no sábado, o crime só foi registrado na superintendência regional da Polícia Federal na terça-feira. Fidelis, que não recebeu atendimento médico, teve um derrame no olho esquerdo por conta das agressões, além de escoriações pelo corpo. O sobrinho dele, Katã (nome indígena), de 19 anos, também foi atingido por socos e pontapés, segundo informações do advogado Onir Araújo, que atendeu nesta quinta-feira a reportagem do Correio do Povo. 

De acordo com Araújo, Fidelis, Katã e um segundo sobrinho, que é estudante da Ufrgs, haviam jantado na noite de sábado no Harmonia, local onde a tribo Caingangue se concentra para definir a comercialização de produtos artesanais durante a Páscoa. Os três caminhavam em direção à Casa do Estudante, no Centro da Capital, onde o outro sobrinho de Fidelis mora. 

No caminho, o sobrinho deixou a companhia do tio e do primo e se perdeu. Fidelis e Katã seguiram até Casa do Estudante para encontrar o parente. "Neste momento, quando ingressaram no prédio à procura do outro sobrinho, Fidelis e Katã foram ofendidos por estudantes que estavam ali. Um deles disse: 'O que estes índios estão fazendo aqui'. Foram ditas outras ofensivas também", explicou Onir Araújo. 

Conforme o advogado, Fidelis e Katã deixam a Casa do Estudante e vão até rua André da Rocha, na esperança de encontrar o outro sobrinho. Sem conseguir localizá-lo, os dois retornaram até o prédio e neste momento Fidelis pergunta ao grupo de estudantes que havia proferido as ofensas o motivo das agressões. "Naquele instante, uma discussão se estabeleceu ali entre eles. Por alguma razão, o Katã levanta a camisa para mostrar que não estava com algum tipo de arma. Tão logo os outros percebem isso, o Nerlei foi gravateado e desmaiou", relatou Araújo. 

Agressões ignoradas 

De acordo com Araújo, Fidelis desmaiou por cerca de 10 minutos e durante esse período foi agredido com pisões e chutes no corpo e na cabeça. "Acredito que um dos agressores tenha conhecimento em artes marciais porque Nerlei desmaiou rapidamente. Depois disso, recebeu chutes e socos sem esboçar reação. Além dos agressores, havia uma mulher que assistiu a tudo e parecia se comunicar com os amigos", argumentou. 

O advogado reclama da omissão da segurança da Casa do Estudante, que pertence à Ufrgs. "Não foi feito nada naquele momento. O Samu não foi acionada ou a polícia. O menino (Katã), que viu o tio ser agredido ficou em estado de choque e só minutos depois é que tomou consciência e foi acudir o tio. O próprio Katã levou Nerlei para o Harmonia, onde foi atendido por integrantes da aldeia", acrescentou. 

Após as agressões, Araújo contou que Fidelis tem vergonha de ir às aulas. O advogado afirmou que ainda conversa com caciques da tribo para que ele receba atendimento médico. Ele garantiu que irá tomar providências em relação aos agressores. "Nós vamos trabalhar este caso como uma tentativa de homicídio. E até onde eu sei, isto é caso de expulsão. Eu vou trabalhar para que os agressores sejam presos preventivamente", completou.  

Ufrgs emite nota 

A Ufrgs emitiu uma nota em relação ao caso e informou que todos os procedimentos para apuração dos fatos estão sendo tomados, bem como as providências necessárias pelas instâncias pertinentes. "A UFRGS torna público seu repúdio a práticas violentas envolvendo a comunidade acadêmica, em seu ambiente ou fora dele", disse o comunicado. 





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