Polícia investiga participação de terceiro suspeito em assalto a hotel no Norte do RS onde professores foram mortos
Possível auxílio de um motorista na fuga de dois assaltantes não é descartado
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A Polícia Civil confirma participação de dois homens no assalto a um hotel que resultou na morte dos professores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Fabiano de Oliveira Fortes e Felipe Turchetto, na madrugada de quinta-feira, em Mato Castelhano. O desfecho do crime, entretanto, levanta suspeitas que nenhum dos bandidos tinha experiência em roubos do tipo. O envolvimento de uma terceira pessoa não é descartado.
A investigação está sob comando do titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Passo Fundo, delegado Diogo Ferreira. Ele afirma que os dois assaltantes fugiram a pé depois do crime. Há possibilidade deles terem embarcado em um veículo guiado por outro comparsa.
"O que posso dizer é que estamos empenhados em prender os responsáveis e solucionar o caso da forma mais rápida possível. Em relação ao envolvimento de um motorista, ainda estamos averiguando se realmente houve essa atuação e qual tipo de carro teria sido utilizado”, afirmou o titular da Draco de Passo Fundo.
Diogo Ferreira destaca ainda que nenhuma das vítimas estava hospedada no hotel. Ocorre que os professores, acompanhados de um grupo de alunos, retornavam de uma visita de campo e, pouco após o início do assalto, teriam ido a uma confraternização no bar do estabelecimento.
Ambos docentes e parte dos estudantes acabaram sendo rendidos e tiveram as mãos amarradas. Um dos professores ainda conseguiu desamarrar as mãos e avançou contra um dos bandidos, mas acabou sendo morto a tiros junto ao colega que o tentava auxiliar.
"Eles estavam no lugar errado na hora errada. Foi uma tragédia”, constatou o delegado.
Reação de professores foi paternal, diz chefe de Polícia
O chefe de Polícia, delegado Fernando Sodré, ressalta que é pouco provável que os fugitivos façam parte de uma quadrilha especializada em assaltos ou que ocupem posição de destaque na hierarquia de alguma facção. Ele acredita que a reação dos docentes teve o intuito de proteger os alunos.
"Acredito que a reação dos professores tenha sido semelhante a um instinto paternal em relação aos alunos. Provavelmente, o objetivo deles era proteger os estudantes que também foram feitos reféns”, avaliou o chefe da Polícia Civil.
Cerco fechado na região Norte
De acordo com o subcomandante-geral da Brigada Militar, coronel Douglas da Rosa Soares, barreiras para a captura dos suspeitos foram montadas em vias na localidade. O oficial também acredita que o desfecho do crime está relacionado com o amadorismo dos bandidos.
"O que surpreende é a violência dos assaltantes. Talvez eles sejam sociopatas ou simplesmente não tenham experiência com esse tipo de ação. Estou inclinado a crer na segunda opção. Isso porque a morte dos professores indica que os criminosos foram surpreendidos com a reação. Possivelmente eles ficaram com medo de perder o controle dos reféns e, sem saber como agir, acabaram atirando e depois fugiram”, ponderou o subcomandante-geral da BM.
Uma das dificuldades enfrentadas pelas forças de segurança foi a análise dos depoimentos das testemunhos, por veze conflituosos. Soma-se a isso fato do hotel não ter ata de registro de hóspedes nem câmeras de segurança no entorno.
“Os depoimentos são conflituosos, o que é compreensível frente a um caso como esse. Outra dificuldade é que houve bastante tempo decorrido entre os fatos e o momento em que a guarnição foi acionada. Além disso, há poucas câmeras no local. Por isso, temos priorizado o uso do serviço de inteligência para rastrear os fugitivos”, disse o coronel Douglas da Rosa.
O crime
Na noite de quarta-feira, dois homens deram entrada em um hotel, na avenida Presidente Getúlio Vargas, em Mato Castelhano. Eles chegaram ao estabelecimento em um Fiat Uno roubado e com placas clonadas, que permaneceu estacionado em frente ao local e foi apreendido.
Na madrugada de quinta-feira, próximo às 4h11min, a dupla teria ido ao restaurante da hospedagem e anunciado o roubo aos presentes. Os dois professores e um grupo de alunos teriam chegado no local poucos momentos depois, quando se depararam com um dos assaltantes na porta do estabelecimento. Alguns deles conseguiram fugir, mas outros acabaram sendo rendidos.
O grupo de reféns, entre eles os dois professores, foi obrigado a deitar no chão e teve as mãos amarradas. A proprietária do hotel foi levada a um cômodo separado, onde houve tentativas de transferir valores via Pix que acabaram falhando.
De acordo com registros do 3º Regimento de Polícia Montada (3º RPMon), as duas vítimas teriam sido baleadas e mortas após terem reagido. A Polícia Civil constatou que um dos professores conseguiu se desvencilhar das amarras e entrou em luta corporal com um bandido, enquanto o outro teria reagido ao ver o colega baleado. Os criminosos fugiram antes da chegada dos policiais ao hotel.
Conforme a UFSM, os docentes estavam no município para uma viagem de estudos. Eles e mais um professor acompanhavam um grupo de 15 estudantes do curso de Engenharia Florestal para uma visita de campo à Floresta Nacional de Passo Fundo, que fica em Mato Castelhano. A excursão era parte da disciplina de Práticas Florestais.
As vítimas
Felipe Turchetto tinha 35 anos e era professor adjunto no Departamento de Ciências Florestais na UFSM. O velório dele ocorre na capela de Linha Zanatta, no município de Taquaruçu do Sul e o sepultamento será às 17h, no mesmo local.
Fabiano de Oliveira Fortes, tinha 46 anos e era professor Associado I da instituição. Ele foi velado no Salão Imembuí (2º andar do prédio da Reitoria), em Santa Maria até o final da manhã. Depois, houve cerimônia de cremação.