Líder do Comando Vermelho, Edgar Alves de Andrade, o Doca, era um dos principais alvos da operação Contenção, realizada nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. Para o secretário da Polícia Civil, Felipe Curi, a prisão do criminoso de 55 anos é uma questão de tempo.
"Nós não prendemos o Doca por um triz. A prisão dele é uma questão de tempo. A hora dele vai chegar, assim como chegou para outros”, comentou Curi em entrevista coletiva nesta sexta-feira.
O secretário definiu Doca como a “personificação do narcoterrorista”. “É um homem que tem 260 anotações criminais, mais de 100 mandados de prisão em aberto. Em operações recentes, teve de 15 a 20 novos mandados de prisão”, disse ao falar do histórico do líder do CV.
Conforme Curi, Doca teria sido responsável por um crime bárbaro ocorrido no final de 2020. “Para quem não sabe, o Doca está envolvido no desaparecimento e morte daqueles meninos de Belford Roxo por causa do furto de uma gaiola de passarinho. Aí já podemos ver o que um cara desses é capaz de fazer”, afirmou.
Doca e Pedro Bala: o primeiro escalão
Os traficantes Doca e Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala, de 43 anos, são apontados na denúncia como integrantes do primeiro escalão do grupo na Penha e em outras comunidades cariocas.
O Estadão teve acesso a um recorte de 74 páginas da investigação, que teve início na Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). A liderança de Doca e Pedro Bala é indicada em prints de conversas de WhatsApp que constam na denúncia.
Em uma mensagem, o recado é claro: "ninguém dá tiro sem ordem do Doca ou do Bala." Fotos obtidas pelos investigadores mostram que homens armados com fuzis e até cachorros fazem a segurança desses líderes, em casas no alto dos morros.
Para os promotores, ambos dão ordens diretas "sobre a dinâmica do tráfico de drogas no Complexo da Penha e comunidades adjacentes, inclusive sobre venda e guarda de drogas, armas de fogo de grosso calibre e contabilidade da facção criminosa."
Conforme a denúncia, mesmo com a posição de chefia de Pedro Bala, Doca é a principal liderança do Comando Vermelho na Penha e nas comunidades do Juramento, Quitungo, Alemão, Gardênia Azul e César Maia - as duas últimas conquistadas recentemente da milícia.
No dia da megaoperação, o Disque Denúncia do Rio de Janeiro divulgou o cartaz de procurado de Doca, oferecendo recompensa de R$ 100 mil por informações que levem a polícia até ele.
Trata-se da maior recompensa da história do Disque Denúncia, ao lado dos mesmos R$ 100 mil, sem considerar a inflação, oferecidos por informações que levassem a Fernandinho Beira-Mar, em 2000.
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Síndico e Gardenal: homens de confiança de Doca
Abaixo de Doca e Pedro Bala, estão, segundo as autoridades, Washington Cesar Braga da Silva, o Grandão ou Síndico da Penha, de 35 anos, e Carlos Costa Neves, o Gardenal, de 30 anos, que seria também um dos comandantes da expansão da facção sobre áreas de milícia na zona oeste, em guerra que se arrasta há cerca de três anos e já deixou dezenas de mortos.
Os dois são descritos na denúncia como "os homens de maior confiança de Edgar Doca".
"Eles ostentam a função de gerente-geral do complexo da Penha", diz o documento. Entre as atividades, estão ordens sobre a venda de drogas, determinar escalas de plantão nas bocas de fumo e pontos de monitoramento e contenção (segurança armada, inclusive na mata).
Uma conversa obtida pela investigação mostra Síndico determinando que os membros da facção não portassem fuzis e não consumissem bebidas alcoólicas durante um baile para os moradores da Penha.
"Outra função exercida por ele é organização dos pagamentos dos traficantes locais." Além de gerente-geral, a investigação mostra que Gardenal é responsável por liderar a expansão violenta e criminosa do Comando Vermelho na região de Jacarepaguá.
Ele também atua na organização do poder bélico do CV e orienta traficantes sobre a compra de armas e drones de vigilância. "Em diversas fotos vindas da quebra da telemática, é possível verificar que ele ostenta armamentos de alto calibre, bem como lida com vasto montante de dinheiro, vindo, principalmente, do tráfico ilegal de drogas e atividades criminosas adjacentes. Ele ostenta carros de luxo e vistosas joias", diz a denúncia. Gardenal comanda os subordinados com violência, aponta as autoridades.
Os investigadores interceptaram ordens de execução de subalternos e orientações sobre como gerentes locais devem lidar com seus comandados de modo a manter a disciplina.
"Ele demonstra liderança e frieza ao determinar a execução de vapor tão somente por estar supostamente "perdendo" carregamento, orientando que o gerente "da boca" o mate na frente de "geral", justamente para dar exemplo aos demais", indica a denúncia.