Segundo dia de julgamento de skinheads é marcado por fortes depoimentos
Bandeiras apreendidas nas casas dos suspeitos foram exibidas pela acusação
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O segundo dia do julgamento dos réus envolvidos nas agressões contra três jovens judeus, em maio de 2005 no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, teve fortes depoimentos na manhã desta quarta-feira. "Eram dois, três batendo em um. Foi uma covardia. Não era briga, era um massacre, uma surra covarde", afirmou uma testemunha, arrolada pela assistência de acusação, na oitiva diante da Juíza de Direito Lourdes Helena Pacheco da Silva, titular do 2º Juizado da 2ª Vara do Júri da Comarca de Porto Alegre. O júri acontece no plenário de grandes júris da Capital, no 2º andar do Foro Central I. A previsão é que a sessão termine na noite desta quinta-feira ou na madrugada da próxima sexta-feira.
Já a segunda testemunha, ex-cunhada de uma das vítimas na época, disse que os jovens receberam ameaças por muito tempo, mesmo depois do ataque. O jovem foi alertado de que “os dias dele estavam contados”. A depoente fez ainda um desabafo. “Tenho medo todos os dias da minha vida. Esse é um medo que nunca vou perder", declarou.
Nesta manhã, a advogada das vítimas e assistente da acusação, Helena Druck Sant’Anna, exibiu duas bandeiras apreendidas nas residências dos suspeitos durante a investigação policial. Já os advogados de defesa questionaram sobre procedimentos de reconhecimentos feitos pelas testemunhas, tanto na fase policial quanto na fase judicial.
Na noite dessa terça-feira, primeiro dia do julgamento, outras duas testemunhas foram ouvidas. Ambas eram estudantes de medicina na época dos fatos e estavam no local onde ocorreu o crime, tendo inclusive prestado os primeiros atendimentos de saúde.
Uma das testemunhas destacou a violência. “Não chamaria de agressão, parecia uma cena de filme de terror. Tinha um grupo de pessoas uniformizadas, atacando um cara, chutando muito. Outro grupo fazia uma barreira, ameaçando quem tentasse ajudar. Xingavam a pessoa agredida. Eles não paravam”, recordou.
Ele destacou que, na época dos fatos, conseguiu identificar com facilidade alguns dos agressores que não utilizavam máscaras. “Demorou para cair a ficha que era um crime de ódio. Tentamos chegar perto para ajudar e fomos ameaçados”, lembrou.
“Me dei conta de que as pessoas que agrediam estavam com similaridades, sapatos, roupa, calças camufladas e cabeças raspadas. Ao chão, ao lado da pessoa agredida, tinha um quipá e um caderno com escritos em hebraico. Foi quando percebemos que era um crime racial”, relatou a outra testemunha. Três réus estão sendo julgados por tentativas de homicídio qualificado (motivo torpe, meio cruel, recurso que dificultou a defesa dos ofendidos), associação criminosa e crime de discriminação ou preconceito racial.
Segundo a acusação do Ministério Público do Rio Grande do Sul, os três jovens judeus caminhavam na esquina das ruas Lima e Silva e República, bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, na madrugada do dia 8 de maio de 2005. Eles foram atacados por um grupo de skinheads, de ideologia neonazista.
As vítimas usavam quipá, que é um pequeno chapéu em forma de circunferência, usado pelos judeus. O grupo de agressores estava dentro de um bar e avistaram os rapazes em frente ao estabelecimento. Uma das vítimas foi golpeada com arma branca, socos e pontapés. O crime só não se consumou devido à intervenção de terceiros que estavam no local, bem como com pronto atendimento médico.
A segunda vítima também foi atacada pelo grupo mediante golpes de arma branca, mas conseguiu escapar e buscar abrigo dentro do bar. Por último, o terceiro jovem foi igualmente agredido, mas também conseguiu fugir para o interior de um estabelecimento. Entre os dez skinheads pronunciados no caso, sete foram julgados e condenados. Um deles, um menor de idade, já cumpriu medida socioeducativa. O único adulto que foi preso até o momento já está solto, usando tornozeleira eletrônica.