“Tu te some daí”, diz áudio de suspeito de matar cabeleireira encontrada em porta-malas

“Tu te some daí”, diz áudio de suspeito de matar cabeleireira encontrada em porta-malas

Lourdes foi encontrada morta dentro do porta-malas do seu próprio carro às margens da BR-101, no bairro Barracão, em Içara, Santa Catarina

Christian Bueller

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Um áudio extraído de uma ligação telefônica expõe ameaças do ex-namorado de Lourdes Clenir Oliveira Melo, de 48 anos, a ela, em 23 de dezembro do ano passado. Algumas semanas depois, na última quarta-feira, a cabeleireira foi encontrada morta dentro do porta-malas do seu próprio carro às margens da BR-101, no bairro Barracão, em Içara, Santa Catarina. A moradora de Estância Velha era dada como desaparecida desde o último domingo, dia 9, derradeira vez que foi vista com vida.

“Tu pode sumir daí ou pega um segurança pra me matar, tá? (…) Eu não tenho mais nada a perder. O que eu tinha pra perder era tu, sabia?”, diz trecho do áudio dito pelo principal suspeito de matar Lourdes. Este era o tom das últimas conversas que tinha com o ex-companheiro, caminhoneiro de 56 anos. “Ou tu te some daí ou tu vai me matar”, intimidou o homem em outro momento da ligação.

Dias antes do telefonema, o suspeito havia invadido a casa de Lourdes, no bairro Rincão dos Ilhéus, onde a agrediu e, ainda, levou alguns objetos. Entre as ameaças, insistia para que ela retirasse uma acusação de estupro contra ele. “Já estraguei minha vida. Só não estraga mais”, falou, quase que ordenando, na conversa com a qual a polícia trabalha para seguir na linha de investigação de que a morte se trata de um feminicídio.

Outro elemento que auxilia o delegado de Estância Velha, Rafael Sauthier, é um vídeo de uma câmera de monitoramento em que aparecesse um homem deixando o veículo Chevrolet Corsa de Lourdes sendo abandonado em Içara. A vítima foi encontrada após denúncias de que um automóvel abandonado atrapalhava o trânsito. Os policiais catarinenses realizaram buscas no carro e localizaram o corpo enrolado em um cobertor. “As portas estavam fechadas e só o porta-malas estava destrancado, propositalmente, ao que parece. O carro estava desde segunda-feira ali”, afirma o delegado.

Uma outra câmera mostrou o Corsa saindo neste mesmo dia do pátio da residência de Lourdes. Ao que tudo indica, ela já estava sem vida dentro do veículo. Vizinhos disseram à polícia terem ouvido gritos no local um dia antes, durante tarde e noite. No interior da casa, os policiais encontraram marcas de sangue, objetos quebrados e o espelho retrovisor do Corsa caído no chão.

A cabeleireira estava com uma medida protetiva contra o caminhoneiro, mas o suspeito seguidamente quebrava as regras e se aproximava com ameaças e intimidações. “Diariamente, passava em frente à casa dela. Teve vizinho que chegou a conversar com ele, que pedia ‘olha, cara, não diz que me viu aqui’”, conta o delegado Sauthier. Após descobrir uma traição e não querendo mais seguir com a situação conturbada que vivia com o ex-companheiro, Lourdes terminou, ainda em dezembro, o relacionamento com o suspeito, que não aceitou. Ele chegou a ser preso por ameaças contra a cabeleireira, mas foi libertado no dia seguinte.

O caminhoneiro está foragido e já tem antecedentes criminais. “Ele tem parentes em Santa Catarina, mas é do Paraná e tem condenações por tráfico de drogas em Foz do Iguaçu”, diz o delegado. Lourdes era diarista em uma escola infantil, mas gostava mesmo era de ser cabeleireira. Ela juntava dinheiro para abrir um salão. Deixou três filhos.


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