Articulação política abala confiança na reforma da Previdência, apontam especialistas

Articulação política abala confiança na reforma da Previdência, apontam especialistas

Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia têm trocado farpas nos últimos dias

AE

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A rusga entre o governo Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, colocou em risco a articulação do parlamentar pela reforma da Previdência, assustou o mercado e reduziu o otimismo de analistas políticos e econômicos com a aprovação daquela que é a considerada a mais importante das reformas. Na semana passada, Maia já demonstrava insatisfação com a atitude do governo em relação à reforma. Neste sábado, o clima entre Bolsonaro e o parlamentar esquentou, com mais troca de farpas entre os dois políticos. O desgaste já tinha pesado no mercado financeiro na semana passada - após ter atingido a marca histórica de 100 mil pontos na última segunda-feira, a Bolsa caiu 3,1% na sexta-feira e o dólar atingiu R$ 3,90, recorde no ano.

"O que mais espanta é a inabilidade do presidente da República. Temos de estar prontos para o fracasso da reforma, coisa que não estava no meu radar até recentemente. Temos de aceitar que esse governo pode não ter condições de tocar um projeto tão ambicioso", diz o ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros. "Essa briga é assustadora. Não faz sentido antagonizar com o presidente da Câmara. O governo quer aprovar a reforma ou não?", questiona o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman. "O governo brinca com fogo. Se a economia for muito abaixo do R$ 1 trilhão esperado para a próxima década, o País estará em apuros."

Apesar de fundamental para a saúde fiscal do País, a reforma da Previdência fere os interesses de vários grupos que votaram em Bolsonaro, como militares e parte do funcionalismo público, diz o cientista político do Insper Carlos Melo. "O governo vive nesse estado de ambiguidade, porque é apoiado tanto por esses grupos quanto pelo mercado. Mas ele não pode operar com sinais trocados para sempre, terá de escolher um lado."

Para o também cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, a falta de coesão dos grupos que apoiam o bolsonarismo e a dificuldade que o presidente tem em aglutinar forças para criar uma base mais estável agora cobram um preço. Ele considera que o episódio deixa mais claro que o governo precisa mudar seu modo de agir. "A nova política que Bolsonaro diz ter inaugurado se dá muito mais no plano retórico. O presidente imaginar que vai conseguir mobilizar a sociedade, dizendo que a velha política está atrapalhando, é ineficiente e não vai facilitar o andamento da reforma no Congresso."

Já o economista da PUC-Rio José Marcio Camargo afirma que as rusgas na articulação da reforma são naturais e parte do processo de negociação política. "Faz parte do jogo. Maia está tentando se posicionar e ganhar um pouco mais de voz e espaço nesse momento. É fundamental que o presidente da Câmara esteja no processo de articulação e Bolsonaro sabe disso. Essa indisposição vai passar." 


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