Aumento do ICMS nos combustíveis contradiz discurso do governo do RS

Aumento do ICMS nos combustíveis contradiz discurso do governo do RS

Mudanças vão impactar do debate político ao bolso do consumidor gaúcho

Flavia Bemfica

Decisões vão ampliar arrecadação do ICMS por litro da gasolina no RS

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Decisões tomadas nos últimos 10 dias na área econômica, envolvendo a tributação sobre combustíveis e o conjunto dos estados, vão começar a impactar em breve o debate político no RS. Foi publicado nesta quinta-feira no Diário Oficial da União (DOU) o convênio sobre o ICMS aprovado pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) no último dia 31, fixando um ICMS em valor absoluto: de R$ 1,22 por litro na gasolina e no etanol anidro. Ele é válido para todos os estados e o Distrito Federal, e passa a vigorar a partir de 1º de junho. Hoje as alíquotas de ICMS são percentuais. O Confaz é integrado pelos secretários estaduais de Fazenda, Finanças ou Tributação.

As definições vão ter impacto no bolso dos consumidores e devem pressionar o governo gaúcho a fazer uma alteração no discurso adotado até aqui sobre arrecadação, investimentos, e possibilidade de repactuação da adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). Primeiro porque, passados três meses do início de sua nova gestão, o governador Eduardo Leite (PSDB) vinha justificando que a administração estava com “o freio de mão puxado” em relação aos temas, à espera de decisões nacionais e devido às perdas decorrentes justamente da redução das alíquotas de ICMS sobre combustíveis e outros serviços promovidas por iniciativa do governo federal no ano passado.

Segundo, porque o chefe do Executivo, mesmo após defender publicamente aumento de ICMS sobre combustíveis em todos os estados, assegurou que o RS não elevaria a alíquota do tributo sobre a gasolina. O Executivo já tem pronta a argumentação de que o aumento não será sua iniciativa individual, e sim resultado de definição do colegiado nacional. Mas, na prática, o RS integra o Confaz e a fixação do tributo em R$ 1,22 por litro significa, conforme projeções do Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes no Estado do RS (Sulpetro), o retorno a um patamar próximo dos 25% de imposto praticados até 2022.

Por fim, a mudança deve ‘enterrar’ novas cobranças, por parte dos estados, de compensações de perdas para as quedas nas arrecadações ocorridas a partir da diminuição do ICMS em julho do ano passado, e turbinar a argumentação da oposição, no RS, de que o Executivo “tem dinheiro para investir”. Em negociação fechada no mês passado, União e unidades da federação acordaram que o governo federal compensará os estados e o distrito federal com R$ 26,9 bilhões até 2026, valor referente às perdas registradas em 2022. O RS, que aponta uma perda de R$ 5 bilhões, receberá R$ 3,6 bilhões a título de compensação.  

No Estado, o imposto havia baixado de 25% para 17% no ano passado, após a presidência da República sancionar a lei complementar 194/22, vedando a fixação de alíquotas sobre combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo em patamares superiores ao das operações em geral. A alíquota de 17% equivale, conforme as tabelas do Sulpetro, a um valor absoluto de R$ 0,95 por litro. Sendo assim, a partir de junho, mantidas as decisões atuais, o RS passará a recolher R$ 0,27 a mais de ICMS por litro de gasolina, o que significa uma alta de 28,42% no valor do imposto.  

“Ao regular a questão dos combustíveis, os estados estão chegando a um determinado valor para que, na média, não percam. É uma questão de conta zero. Era esperado que encontrassem uma forma de equacionar suas receitas, no caso dos combustíveis, aplicando uma alíquota uniforme, como deve ser, e em patamares que ajudem a compensar perdas”, resume o advogado e consultor tributário Luiz Antônio Bins. Auditor fiscal de carreira, ele comandou a Secretaria da Fazenda no final do governo de José Ivo Sartori (MDB), após atuar nos três primeiros anos como secretário-adjunto.

O economista Gustavo de Moraes, professor da Escola de Negócios da PUCRS, alerta para a possibilidade de impacto em cadeia em produtos e serviços. “O preço da gasolina, infelizmente, impacta boa parte dos aspectos da nossa vida. Pressiona, por exemplo, custos de empresas de transporte público”, lembra. Ele destaca que o cenário se mostra bastante ‘neutro’ para os próximos meses. É que, além do aumento no ICMS dos combustíveis, o preço do barril do petróleo, que havia caído no mercado mundial, permitindo estratégias de recomposição da arrecadação a partir de preços mais baixos, voltou a subir depois de, nesta semana, o grupo Opep + (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados) anunciar cortes adicionais de produção, a partir de maio.


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