Bolsonaro recebe no Planalto Major Curió, denunciado por repressão na Ditadura

Bolsonaro recebe no Planalto Major Curió, denunciado por repressão na Ditadura

Encontro com acusado por desaparecimento de vítimas do Regime Militar foi fora da agenda oficial

Estadão Conteúdo

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Um dia depois de participar de manifestações contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, o presidente Jair Bolsonaro recebeu, nesta segunda-feira, no Palácio do Planalto, o tenente-coronel da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o "Major Curió", de 85 anos. O agente da repressão durante a ditadura militar atuou no combate à Guerrilha do Araguaia , no sudeste paraense, nos anos 1970.  Numa foto do encontro no Palácio, que não estava previsto na agenda oficial, Bolsonaro sorri ao conversar com o militar reformado, por sua vez sentado em uma cadeira de rodas.

A informação foi publicada pelo jornalista Rubens Valente, colunista do site UOL. O relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), de 2014, relacionou o Major Curió como um dos 377 agentes do Estado brasileiro que praticaram crime contra os direitos humanos na ditadura. A CNV apontou que o militar "esteve no comando de operações em que guerrilheiros do Araguaia foram capturados, conduzidos a centros clandestinos de tortura, executados e desapareceram".

Para o Ministério Público Federal (MPF), os crimes atribuídos ao Major Curió são de lesa-humanidade. Portanto, alheios à prescrição e à anistia. Ele e outros militares discordam, e buscam enquadrar as acusações à Lei da Anistia, de 1979. Curió foi um dos primeiros agentes a serem denunciados no Brasil por crimes cometidos durante a ditadura, ainda em 2012. De lá para cá, foram outras cinco denúncias. Todas por crimes como sequestro, assassinato e ocultação de cadáver.

As últimas três foram apresentadas contra ele em dezembro de 2019, quando o MPF fez um balanço sobre as ações relacionadas à guerrilha.  "As novas ações elevam para nome o número de denúncias oferecidas desde 2012 pelo MPF por crimes na Guerrilha do Araguaia (ao todo). Foram seis denúncias pelos assassinatos de nove opositores, duas denúncias pelo sequestro e cárcere privado de seis vítimas, e uma denúncia por falsidade ideológica. Sebastião Curió foi acusado em seis denúncias, e o segundo militar com mais ações criminais contra ele é Lício Augusto Maciel, denunciado em três ações", resumiu o órgão.

Ao Estado, o militar revelou pela primeira vez, com documentos e depoimentos, detalhes das torturas e dos assassinatos praticados contra dezenas de pessoas na região do Araguaia . As vítimas foram tanto militantes do PC do B, diretamente envolvidos nos confrontos, quanto simpatizantes locais. O movimento contra a ditadura, organizado no sul do Pará e no norte do atual Tocantins, acabou massacrado pelo Exército.


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