Bolsonaro subestima importância do tema do clima no mundo, diz Celso Amorim

Bolsonaro subestima importância do tema do clima no mundo, diz Celso Amorim

Ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil criticou fala e diz que presidente alimenta “uma guerra ideológica que não tem mais nenhum sentido”

Correio do Povo

Diplomata teme represálias por fala na ONU

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O diplomata e ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil durante os governos de Itamar Franco e Lula, Celso Amorim, classificou como lamentável o discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas e afirmou que o chefe de Estado “subestima a importância que o tema do clima tem no mundo inteiro”. “Nunca vi uma coisa igual. Ele não tratou de nada, da paz no mundo, do Oriente Médio, do programa nuclear do Irã, das grandes questões dos objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que inclui clima, saúde e educação. Foi um discurso num tom extremamente agressivo, o que é pouco usual”, disse, em entrevista ao programa Esfera Pública, da Rádio Guaíba, nesta quarta-feira.

Ele ainda afirmou que Bolsonaro alimenta “uma guerra ideológica que não tem mais nenhum sentido". "Na ONU, quando se tem um conflito muito direto, você procura a paz. Lá, tem os painéis de Portinari para mostrar que se entra na guerra e se sai na paz. O discurso é belicoso, levantando fantasmas de coisas que não existem mais, dizendo que Cuba quer mudar os regimes. Quem é Cuba? Se quisesse, qual a força? Se fosse na época da União Soviética eu poderia entender, mas agora não tem lógica nenhuma", criticou, citando também a Venezuela. “É absurdo pensar que um pequeno país de 10 milhões de pessoas vai transformar um de 200 milhões. Isso sim é ter uma visão pequena do Brasil."

Amorim acusou o presidente de apresentar “uma visão muito estreita e distorcida de soberania” quando o assunto é Amazônia. “Claro que o Brasil tem que ser soberano para tratar sobre isso, mas tem que entender que o que você faz ataca os outros. A responsabilidade é nossa, a maneira de fazer é nossa, mas o problema é global. A soberania não se livra da responsabilidade, todos sabemos. Nega-se a norma internacional, os objetivos da humanidade trabalhados na ONU”, defendeu.

O ex-titular do Itamaraty afirmou que teme retaliações por conta do discurso de terça-feira. “O mais óbvio diz respeito ao acordo, que na verdade é um pré-acordo, com a União Europeia. É natural e óbvio que isso não vai para frente. Não vou defender ou criticar, mas ele saudou como uma coisa muito boa. A gente sabe que a França já tinha resistência. O Parlamento da Áustria já havia dito que era contra. Com essa atitude de ontem, apenas agrava. Isso vai contaminar outros”, afirmou, citando também às críticas às ofensas à mulher de Emmanuel Macron por membros do governo.

Bolsonaro nega agressividade

Ainda na terça, Bolsonaro disse que o discurso não foi agressivo. "Foi um discurso bastante objetivo e contundente, não foi agressivo, eu estava buscando restabelecer a verdade das questões que estamos sendo acusados no Brasil", avaliou ele, horas após a sua fala diante de outros líderes mundiais.


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