Câmara de SP cassa vereador Camilo Cristófaro por fala racista

Câmara de SP cassa vereador Camilo Cristófaro por fala racista

Decisão teve 47 votos favoráveis e cinco abstenções

AE

Parlamentar cassado Camilo Cristófaro

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A Câmara Municipal de São Paulo decidiu nesta terça-feira cassar o mandato do vereador Camilo Cristófaro (Avante). Por 47 votos a favor, 5 abstenções e sem nenhuma manifestação contrária, o plenário da Casa entendeu que o vereador cometeu quebra de decoro parlamentar ao proferir uma frase racista durante a CPI dos Aplicativos, em maio do ano passado. Com o afastamento, o suplente Adriano Santos (PSB) foi chamado a tomar posse. O resultado da votação será enviado à Justiça Eleitoral.

É a primeira vez na história que a Câmara Municipal cassa o mandato de um vereador que quebrou o decoro por racismo. Nas galerias da Casa, apoiadores de Cristófaro protestaram, mas gritos de "racistas não passarão" foram mais frequentes e intensos.

Na sessão, Cristófaro disse que "nunca foi chamado de racista em nenhum canto desta cidade". Seu advogado, Ronaldo Alves de Andrade, comparou o caso ao julgamento do oficial da Alemanha nazista Adolf Eichmann, considerado arquiteto do Holocausto. Eichmann foi capturado na Argentina por agentes israelenses e levado a Israel, onde foi condenado à morte em 1961. Segundo Andrade, da mesma forma que o Tribunal de Jerusalém, em sua versão, estava enviesado para condenar o nazista, o plenário da Câmara iniciou a sessão já convencido a cassar Cristófaro.

"Cassar o mandato de um parlamentar é uma decisão difícil, não é algo que os demais vereadores fazem com prazer. No entanto, é uma decisão que atesta a seriedade da Câmara Municipal de São Paulo. A mensagem que a maior Câmara Municipal da América Latina passa é de não ao racismo e não a todo tipo de preconceito. Esse tipo de atitude não pode mais ser tolerado, dentro e fora desta Casa", disse o presidente da Câmara, Milton Leite (União Brasil).

A sessão durou cerca de três horas. A representação contra Cristófaro foi apresentada pela vereadora Luana Alves (PSOL) após ele proferir uma frase racista durante uma sessão híbrida da CPI dos Aplicativos. Em áudio vazado, Cristófaro disse: "Olha só, lavando a calçada. Isso é coisa de preto". Por causa da repercussão negativa, o diretório estadual do PSB desfiliou o vereador. A decisão foi tomada pelo presidente estadual da sigla, Jonas Donizette.

Um dia depois do episódio, Cristófaro se desculpou publicamente. "Eu peço desculpas a toda população negra por esse episódio que destrói toda minha construção política na busca de garantia à cidadania dos paulistanos, principalmente aos que têm suas portas de acesso ao direito diminuídas pelo racismo estrutural. Apesar de ter tido uma fala racista, em minhas atitudes e com o tempo vocês terão a oportunidade de constatar isso", afirmou, na ocasião.

Na Justiça, Cristófaro viu seu caso ser arquivado. O juiz Fábio Munhoz Soares, da 17ª Vara Criminal de São Paulo, rejeitou a denúncia argumentando que a fala do parlamentar poderia ser considerada discriminatória, mas foi dita "sem a vontade de discriminar".


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