Comoção e indignação ganham Brasil na despedida de Marielle
Protestos tomaram várias capitais do país e assassinato da parlamentar foi denunciado na imprensa internacional
publicidade
Em Porto Alegre, o ato foi chamado de “Somos todos Marielle! Não nos calarão” e reuniu representantes de movimentos sociais e de partidos de esquerda. Foi simultâneo a outros que ocorreram em lugares diferentes do país. O corpo da vereadora foi sepultado no fim da tarde, no Rio.
Durante a cerimônia de despedida, no cemitério do Caju, na zona norte, onde um padre fez uma oração para dezenas de familiares e amigos, na qual clamou por "justiça".
"Estou devastada, triste, sem esperança... Ela representava tudo de novo que a gente espera: uma mulher negra, periférica, que conseguiu um lugar de representatividade e pautava todas as grandes causas pelas quias a gente luta", disse, sem conseguir conter as lágrimas, Ana Paula Brandão, também negra, de 48 anos, funcionária de uma fundação. "Isto é um genocídio negro. Tantos jovens morrendo. A gente não está aqui só por ela, a gente está aqui por todos nós", comentou Marlon Eduardo, estudante de sociologia de 20 anos, morador da Baixada Fluminense.
Em frente à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), a multidão explodia em gritos de "Fora Temer". Os protestos também se espalharam para outras cidades como São Paulo.
Em São Paulo, a manifestação começou no fim da tarde, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). Toda a pista da Avenida Paulista no sentido da Rua da Consolação foi interditada a partir do museu. Em Salvador, participantes do Fórum Social Mundial saíram em passeata em protesto contra o crime. Em todas as capitais, os manifestantes pediram justiça e carregavam cartazes com a frase "Marielle, presente".
Repercussão internacional
No início da tarde, a morte de Marielle era o assunto mais comentado no Twitter, com 289 mil tuítes sobre o crime. Jornais como o inglês The Guardian, o americano The New York Times e o francês Le Monde falaram sobre o crime.
Em mensagens e comunicados, a ONU e personalidades do mundo das artes e do esporte pediram o esclarecimento do crime contra uma firme defensora dos direitos das mulheres, dos negros, dos moradores das favelas e da comunidade LGBT, grupos de referência nos quais ela mesma se inseria.
Denúncias de excessos policiais
Marielle Franco denunciou nas últimas semanas um aumento da violência policial nas favelas e se opôs à intervenção federal no Rio, decretada em fevereiro pelo presidente para tentar conter uma escalada de violência que não para de crescer desde o fim dos Jogos Olímpicos de 2016. Há duas semanas, ela havia assumido a função de relatora da Comissão da Câmara de Vereadores do Rio criada para vigiar a atuação das tropas encarregadas da intervenção, algo sem precedentes desde o retorno da democracia, em 1985.
Em 10 de março, a vereadora denunciou nas redes sociais uma operação policial na favela de Acari. "Existe uma cultura no Rio de Janeiro, uma cultura de matriz mafiosa, de eliminação de pessoas que acabam de alguma forma se opondo ou resistindo às organizações criminosas" e isso seria o que ocorreu com Marielle Franco, analisou o jurista Walter Maierovitch, ex-secretário Antidrogas (1999) e presidente do Instituto de Ciências Criminalísticas Giovanni Falcone.
Nascida e criada no complexo de favelas da Maré, uma das regiões mais violentas da cidade, formou-se em Sociologia e fez mestrado em Administração Pública. Ela entrou na Câmara Municipal do Rio nas eleições de 2016, como a quinta vereadora mais votada, com 46 mil votos.