Congresso não cumpre decisão do STF, diz nota técnica do Senado

Congresso não cumpre decisão do STF, diz nota técnica do Senado

Documento elaborado por consultoria do Senado detalha que o ato divulgado pelo Congresso não atende às solicitações do STF

R7

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Uma nota técnica elaborada pela Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle do Senado Federal (Conorf) afirma que o Congresso Nacional não está cumprindo decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou transparência e publicidade na execução das emendas de relator, o chamado orçamento secreto.

O documento da Conorf diz que, ainda que o Congresso tenha divulgado informações, os dados não atendem aos "pressupostos fixados na mesma decisão para suspensão do bloqueio da execução orçamentária". O texto, ao qual o R7 teve acesso, detalha ainda que o Projeto de Resolução (PRN) 4/2021, que estabelece novas regras para as emendas de relator do Orçamento e que deve ser discutido no Congresso nesta segunda, "não atende senão em grau parcial e insuficiente aos requisitos fixados" na decisão do STF. 



A nota técnica elaborada pela Conorf trata as motivações alegadas pelos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para não divulgação dos nomes dos deputados e senadores que solicitaram as emendas de relator, como "inconsistentes e materialmente insubsistentes". O documento diz ainda que o ato conjunto "explicitamente desatende à exigência do mesmo quesito [transparência e publicidade das emendas de relator] no que se refere aos exercícios de 2020 e 2021". O relatório foi solicitado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e é assinado por um consultor legislativo do Senado.

O STF decidiu, no último dia 10, que o Congresso Nacional e o governo devem adotar medidas de transparência para realizar a distribuição do chamado orçamento secreto. Oficialmente chamadas de emendas de relator, elas tratam de recursos enviados pelo Executivo aos parlamentares para a execução de projetos nos estados. Tradicionalmente, quem apoia o governo recebe mais verba. Para os ministros do STF, não existem regras claras de publicidade e que definam como a verba pública é empregada, descrevendo, por exemplo, qual parlamentar vai recebê-la e detalhando onde os recursos serão aplicados.

Na semana passada, o Congresso chegou a publicar um ato conjunto promovendo a implementação de mecanismos para ampliar a publicidade e a transparência ativa da execução dos recursos. O texto detalha para quantos ministérios os valores foram destinados e quais municípios do país receberam emendas em 2020 e 2021, contudo, o material não informa quais parlamentares foram contemplados com a verba.

A justificativa para não dar transparência às emendas repassadas a deputados e senadores que já foram executadas é, segundo o Congresso, a "impossibilidade fática de se estabelecer retroativamente um procedimento para registro das demandas recebidas pelo relator-geral com sugestão de alocação de recursos, o que dificulta o registro dos nomes dos parlamentares que participaram do orçamento secreto."

A pauta gera debates entre os congressistas. Mesmo com as mudanças propostas no Projeto de Resolução nº 4 que vai ser discutido no Congresso, o STF deve ficar sem respostas aos nomes dos parlamentares que receberam emendas até o momento. 

Em reunião com a ministra Rosa Weber, relatora responsável pelo processo que suspendeu os repasses, Rodrigo Pacheco alegou não ser possível prestar as informações retroativas. Uma sessão do Congresso chegou a ser marcada para a última sexta-feira com o objetivo de discutir o projeto, mas a falta de consenso entre os congressistas obrigou os presidentes das Casas Legislativas a adiarem a discussão do tema. 

Quando a proposta for ao debate, senadores pretendem apresentar um substitutivo para ser apreciado. Lira e Pacheco buscam alternativas que atendam à decisão do STF e às demandas dos parlamentares.


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