Eduardo Leite deve tentar retorno ao governo do RS após renúncia

Eduardo Leite deve tentar retorno ao governo do RS após renúncia

PSDB gaúcho apresenta nesta segunda o destino do ex-governador, que, após idas e vindas, pode voltar a disputar o Palácio Piratini

Flávia Bemfica

Eduardo Leite deve confirmar candidatura ao governo do RS

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O PSDB gaúcho anunciará, no início da tarde desta segunda-feira, como vai se posicionar na disputa pelo governo do RS nas eleições deste ano. O partido marcou uma coletiva na sede gaúcha, que terá a participação do ex-governador Eduardo Leite e do atual ocupante do posto, Ranolfo Vieira Júnior. A ideia e que a legenda finalmente oficialize a pré-candidatura de Leite ao governo do Estado, colocando fim a um período de sete meses de especulações sobre o futuro político do ex-governador e, ainda, fazendo um movimento que resultará na definição do quadro eleitoral no Estado.

Antes da coletiva o partido realizará uma reunião da Executiva, com a presença de prefeitos e vices e das bancadas federal e estadual. O desejo de Leite e de outras lideranças do PSDB era de que a posição fosse anunciada após a amarração em definitivo de uma coalizão mais robusta, mas o tempo foi se esgotando sem que as negociações com o MDB, considerado aliado prioritário, chegassem a termo. Os emedebistas estão na base aliada do governo tucano e há um embate interno sobre entregarem os cargos, porque lançaram pré-candidatura própria, a do deputado estadual Gabriel Souza. Um racha entre os que hoje articulam para uma composição na qual Gabriel seja vice de Leite, e os que rechaçam com veemência a coligação vem corroendo a convivência interna.

Em tese, o PSDB teria ainda a opção de escolher como aliado prioritário o União Brasil, que também está na base do governo tucano, mas, apesar de seu tamanho nacionalmente, dos recursos de que dispõe, e do tempo de TV, há entraves. O primeiro é de que o União, resultado da fusão dos antigos DEM e PSL, no RS, tem forte inclinação pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), e simpatia pela pré-candidatura do PL ao governo, a do deputado federal Onyx Lorenzoni, ex-DEM. E Leite, ao contrário de 2018, quando declarou voto em Bolsonaro, agora rechaça o bolsonarismo, e se apresenta como integrante da chamada terceira via. Por fim, o União, para o qual migraram ex-membros do PTB, de acordo com articuladores tucanos, caso se tornasse a principal opção do PSDB, acabaria exigindo em troca um espaço desproporcional à capilaridade que tem para oferecer, e necessária aos tucanos. O partido tem pouco mais de 50 mil filiados no Estado, menos do que o PSDB, que possui 94 mil, e longe do MDB, com 237 mil.

Apontado por aliados e adversários como uma sigla de médio porte em solo gaúcho, apesar de ter chegado ao comando do Piratini em duas das últimas quatro eleições, o PSDB tem hoje dois deputados federais, seis estaduais e 31 prefeitos. O perfil, admitem parlamentares tucanos e o próprio ex-governador nas mesas de negociação, faz com que sua performance na corrida fique bastante vinculada ao capital político de Leite e ao estabelecimento de uma aliança com um grande partido, com bases estruturadas em todo o Estado. A estratégia e a mesma daquela adotada em 2018, quando, para viabilizar a candidatura própria, o PSDB fechou uma coalizão com o PP, em um processo tão conturbado como o que ocorre agora nas negociações com o MDB. O PP, no pleito deste ano, também tem pré-candidato ao governo, o senador Luis Carlos Heinze.

Idas e vindas de Eduardo Leite 

O ex-governador Eduardo Leite (PSDB) se elegeu em 2018, desbancando o então mandatário do Piratini, José Ivo Sartori (MDB). Desde a campanha, exaltou sua posição contrária ao instrumento da reeleição e sua decisão de não concorrer a um novo mandato para o mesmo cargo.

Nas negociações para que o MDB, derrotado no pleito, ingressasse na base aliada, a garantia de que não disputaria a reeleição foi um dos ativos utilizados pelo tucano. Na sequência, também a sinalização de que trabalharia por um candidato do MDB. À época, cresceu o entendimento entre aliados de que Leite disputaria o Senado em 2022, como forma de se ‘cacifar’ para uma corrida presidencial futura, a de 2026.

No ano passado, a divisão do PSDB nacional a respeito da eleição presidencial de 2022 ficou explícita. Lideranças contrárias a pretensão de João Doria de ser o pré-candidato da sigla, como o senador Tasso Jereissati (CE) e o deputado federal Aécio Neves (MG), incentivaram o nome de Leite para concorrer com o paulista pela indicação.

Em novembro, Leite perdeu as prévias do PSDB para Doria, que obteve então a indicação para ser o pré-candidato do partido. Mas, entre os perdedores, ganhou corpo um movimento para tirar Doria do caminho e tentar, mesmo assim, emplacar o nome de Leite. Em paralelo, no cenário local, Leite, ao mesmo tempo, incentivava tanto o deputado estadual Gabriel Souza (MDB) a disputar a indicação de seu partido para concorrer ao governo do Estado como também que seu vice, Ranolfo Vieira Júnior, se apresentasse como pré-candidato do PSDB. A ideia, na época, era garantir dois palanques no RS caso ele conseguisse entrar na corrida nacional.

Ante a resistência de Doria, em meados de março Leite tornou pública sua negociação para migrar para o PSD de Gilberto Kassab, de forma a conseguir disputar, pela sigla, a presidência da República. Aliada de primeira hora do ex-governador, a ex-senadora Ana Amélia Lemos deixou o PP e foi para o PSD. As articulações com o ex-governador, contudo, acabaram frustradas após Kassab não dar garantia explícita dos recursos esperados para custear a campanha nacional. O tucano gaúcho permaneceu no PSDB. A movimentação aumentou a insegurança entre aliados.

Em 28 de março Leite anunciou que renunciaria ao cargo de governador, o que fez no dia 31, sem, porém, especificar qual caminho pretendia seguir. O vice, Ranolfo Vieira Júnior, assumiu o cargo e intensificou os movimentos para disputar o Piratini. O tucano, por sua vez, começou a viajar pelo país, sem esconder a pretensão de se firmar como candidato da chamada terceira via. A tensão no PSDB aumentou.

Um mês depois, em 22 de abril, Leite divulgou carta reconhecendo Doria como o pré-candidato do PSDB. Menos de uma semana depois, começaram a circular as notícias de que ele disputaria a reeleição, e Leite intensificou as agendas no RS. No final de maio foi Doria quem finalmente cedeu à pressão e retirou sua pré-candidatura. Na semana passada o PSDB decidiu apoiar a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MDB/MS) à presidência da República. 


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