Ex-presidente colombiano Álvaro Uribe depõe na Suprema Corte sobre supostos subornos

Ex-presidente colombiano Álvaro Uribe depõe na Suprema Corte sobre supostos subornos

Pela primeira vez na história do país, um antigo chefe de Estado é ouvido no alto tribunal em processo legal

Correio do Povo e AFP

Colômbia entra assim em uma tendência que marcou os países latino-americanos nos últimos anos: a de líderes populares investigados ou processados após deixar o poder e cujos casos se tornam terremotos políticos

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Álvaro Uribe, político mais popular deste século na Colômbia, foi interrogado nesta terça-feira pelo mais alto tribunal em um processo que poderá desencadear um julgamento por manipulação de testemunhas. É a primeira vez que um ex-presidente colombiano responde em inquérito à Suprema Corte, que iniciou uma investigação em 24 de julho de 2018, quando descobriu que havia elementos fortes para investigá-lo, porque, supostamente, teria tentado pressionar Juan Guillermo Monsalve a retratar as declarações sobre sua participação na criação das "Autodefensas Unidas de Colombia", uma organização paramilitar contra-insurgente e de extrema-direita.

Além desse caráter incomum, o peso político e a popularidade do também senador – chefe do partido no poder e mentor do atual presidente Iván Duque – fazem seu caso transcender a esfera jurídica e muito mais quando ainda restam dias para as eleições locais no país de 27 de outubro. Uribe, 67 anos e presidente de 2002 a 2010 com uma política de mão dura, aplaudida e criticada, enfrenta uma investigação por manipulação de testemunhas em sua qualidade de senador, que pode levá-lo a julgamento por dois crimes relacionados (suborno e fraude processual) e que são puníveis com cerca de oito anos de prisão. 

A Colômbia entra assim em uma tendência que marcou os países latino-americanos nos últimos anos: a de líderes populares investigados ou processados após deixar o poder e cujos casos se tornam terremotos políticos, dada a importância que mantêm na vida pública. Isso aconteceu com Lula no Brasil, Cristina Kirchner na Argentina, Rafael Correa no Equador, Alberto Fujimori no Peru ou Ricardo Martinelli no Panamá. Os apoiadores de Uribe convocaram marchas de apoio nesta terça, depois das que ocorreram em várias cidades no domingo.

Iván Duque duque defende Uribe

O presidente Iván Duque saiu em defesa do ex-presidente. Segundo o chefe de Estado, Uribe "trabalhou como poucos" pelo bem-estar da Colômbia "todos os dias de sua vida" e ressatlou que seu mentor pode ser resumido com a palavra "honorabilidade", destacando o trabalho realizado em favor da "população mais vulnerável do país". "Uma pessoa que durante seu governo enfrentou o crime com verticalidade e comprometimento, pessoa que também trabalhou para a população mais vulnerável do país", afirmou.

 

O caso

Em fevereiro de 2012, o senador Iván Cepeda promoveu um debate contra o ex-presidente Álvaro Uribe Vélez, no qual fez duras acusações contra ele e seu irmão Santiago Uribe Vélez, os quais, segundo ele, estavam envolvidos em ações paramilitares. Após, os denunciou criminalmente. Nesse mesmo dia, Álvaro Uribe foi à Suprema Corte e denunciou o congressista Cepeda por supostamente orquestrar um cartel de falsas testemunhas, oferecendo-lhes benefícios legais, econômicos, medidas cautelares e localização fora do país, em troca das acusações.

O Tribunal Superior levou sete anos para tomar uma decisão. PrimeiroM concluiu que Cepeda não abusou de suas funções como congressista, nem determinou os presos por suborno, além de atuar como vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e membro da Comissão de Paz. A queixa foi registrada, mas ele mudou o caso: forçou cópias a investigar o ex-presidente por suborno e fraude processual. No total, são 42 testemulhas, mas a principal é Juan Guillermo Monsalve, que mencionou a suposta relação entre o Uribe e os grupos paramilitares e gravou uma conversa sobre as supostas pressões de Diego Cadena, advogado do ex-presidente, para se retratar.

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