Financiadores pagaram R$ 600 mil para levar extremistas a Brasília no 8 de Janeiro, aponta relatório

Financiadores pagaram R$ 600 mil para levar extremistas a Brasília no 8 de Janeiro, aponta relatório

Documento da Polícia Civil do DF compartilhado com CPMI revela que 119 ônibus levaram manifestantes de 15 estados para a capital

R7

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Financiadores dos atos extremistas pagaram R$ 599,9 mil para transportar manifestantes de 15 estados a Brasília no dia 8 de janeiro. Segundo relatório produzido pela Polícia Civil do Distrito Federal e compartilhado com a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do 8 de Janeiro, 119 ônibus transportaram 4,6 mil pessoas à capital federal para as manifestações que culminaram nos atos de vandalismo nas sedes dos Três Poderes. As autorizações para os ônibus entrarem em Brasília foram emitidas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) entre 1º e 8 de janeiro.

O documento, com mais de 100 páginas, detalha o valor pago para transportar os manifestantes, além de identificar os responsáveis pela contratação dos ônibus e os financiadores do transporte. A intenção da relatora da comissão, Eliziane Gama (PSD-MA), é usar as informações para rastrear uma parte dos financiadores dos atos extremistas.

O relatório havia sido entregue em junho à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, da Câmara Legislativa do Distrito Federal, e compartilhado com a CPMI na semana passada. Entre os pagamentos realizados pelos financiadores, há valores que variam de R$ 100 a R$ 28 mil.

O documento aponta, por exemplo, que Jorginho Cardoso de Azevedo, de 61 anos, foi um dos contratantes que mais gastou com transporte a Brasília. Ele pagou R$ 28 mil um ônibus que saiu de São Miguel do Iguaçu, no Paraná, em direção à capital federal, em 7 de janeiro, com 38 passageiros.

Azevedo aparece na lista de presos pelos ataques extremistas no inquérito do Supremo Tribunal Federal que apura denúncias de crimes de associação criminosa armada, abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de estado e dano qualificado. A reportagem não conseguiu contato com ele ou sua defesa. O espaço segue aberto para a manifestação de Azevedo.

O Sindicato Rural de Castro, no Paraná, também aparece como um dos financiadores do transporte de manifestantes. Segundo o relatório, a entidade rural pagou R$ 20 mil para transportar 67 passageiros do Paraná a Brasília. Três pessoas que estavam entre os passageiros foram presas por participação nos atos de vandalismo. O R7 procurou o sindicato, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

Investigação na CPMI

O relatório da Polícia Civil vai ser usado pela CPMI para alcançar uma parte dos financiadores dos atos extremistas. Na terça (11), a comissão vai ouvir o tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro. O militar está preso desde 3 de maio, acusado de fraudar cartões de vacinação dele e de familiares e do ex-presidente Jair Bosonaro e da filha dele. 

O militar recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar ser dispensado do depoimento, mas a ministra Cármen Lúcia negou o pedido. A ministra determinou, no entanto, que ele tem o direito de não produzir provas contra si, podendo não responder a perguntas que possam incriminá-lo.

Seis meses dos ataques

Os ataques criminosos às sedes dos Três Poderes, em Brasília completam seis meses neste sábado (8) com 253 suspeitos de envolvimento aguardando julgamento de dentro de presídios, sendo 186 homens e 67 mulheres. Pessoas já liberadas são monitoradas por tornozeleiras eletrônicas e se comprometeram a se apresentar à Justiça e a não deixar a área territorial de suas respectivas comarcas.

A Procuradoria-Geral da República denunciou 1.390 pessoas pelos atos que culminaram com a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes. Destes, o Supremo já transformou em réus 1.291, ao longo de oito blocos de julgamento.

Em junho, o ministro do STF Alexandre de Moraes disse que a Corte deve julgar, em até seis meses, cerca de 250 réus suspeitos de envolvimento nos atos e que respondem por crimes mais graves. A Advocacia-Geral da União já foi à Justiça pedir que as pessoas que participaram da invasão e da depredação sejam condenadas a ressarcir os danos causados ao patrimônio público. Os prejuízos estão estimados em R$ 26,2 milhões até o momento.


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