Grupos favoráveis a Bolsonaro prometem sair às ruas para fortalecer o governo

Grupos favoráveis a Bolsonaro prometem sair às ruas para fortalecer o governo

Com divisão entre simpatizantes, manifestações nas ruas testam apoio ao Planalto

Correio do Povo e AE

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As manifestações deste domingo, convocadas por simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais em todo o país, serão um  teste de força para o governo federal, cujos apoiadores apresentam divergências internas não apenas pela oportunidade da realização dos atos, mas principalmente sobre a pauta de reivindicações que levarão para as ruas. Embora tenha agido, nos últimos dias, para desvincular os atos de qualquer patrocínio do Palácio do Planalto, o chefe de Estado foi alertado por aliados de que essas mobilizações viraram uma "armadilha" para sua gestão porque todos sabem como começam, mas nunca como terminam.

Por meio das redes sociais, organizadores haviam convocado até sábado atos em pelo menos 312 cidades brasileiras. Estão registradas também mobilizações em 10 municípios no exterior, sendo seis cidades nos Estados Unidos. A estimativa leva em conta eventos que têm locais e horários já definidos. São Paulo lidera o número de municípios que têm manifestações programadas, com 63 cidades. Minas Gerais é o segundo, com 39 mobilizações programadas.

Em Porto Alegre, o Escritório de Eventos da prefeitura recebeu duas solicitações de licenciamento para os atos em defesa de Bolsonaro no Parcão. Organizadores do protesto pediram o bloqueio da avenida Goethe. As manifestações estão previstas para o início da tarde. Mais cedo, durante a manhã, o Parcão vai receber a 21ª Corrida para Vencer o Diabetes.

Os que se opunham às manifestações consideravam a convocação fora de hora, por ocorrer em um momento em que o governo depende do Congresso para aprovar a Reforma da Previdência, entre outras medidas.“Não vamos conseguir aliados atacando quem pode votar conosco nos textos que são importantes para o governo", defendeu a deputada Joice Hasselmann. “A hora é de preservar a relação do governo com o Parlamento”, disse.

Quem apoia as manifestações acredita que só pressionando os parlamentares as propostas do governo serão aprovadas. Este último grupo, aparentemente, ganhou a disputa interna, trazendo consigo o apoio de empresários aliados do presidente.  Até o momento, não há indicação de problemas com a segurança nos atos, mas o Planalto monitora as redes sociais para verificar a possibilidade de participação de "infiltrados" ou ativistas "black blocs".

Há o temor de que, se houver confusão, isso possa ser debitado na conta do governo. Não foi à toa que Bolsonaro repudiou a defesa do fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) nas manifestações. Depois de dizer que o problema do Brasil é a classe política e de compartilhar uma mensagem pelo WhatsApp afirmando que o País é "ingovernável" fora dos conchavos, sem poupar nem mesmo a Justiça, o presidente afirmou que quem apoiar pautas contra o Congresso e o Judiciário "estará na manifestação errada".

Foco nas reformas

O Planalto tem pedido agora que o novo foco das manifestações seja a defesa da reforma da Previdência e da segurança pública, além da Operação Lava Jato e do pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro. Nos grupos mais significativos que estão à frente das convocações, a Previdência, o pacote anticrime, a aprovação da MP 870 e críticas a parlamentares do Centrão são temas centrais dos atos deste domingo. Apesar de Bolsonaro ter desestimulado ministros e aliados a comparecer às manifestações, parlamentares de seu partido, o PSL, continuam fazendo convocações pelas redes sociais, pedindo apoio ao governo.

"A bancada do PSL está liberada para participar dos atos. Nós deixamos claro as nossas pautas, mas, além disso, a responsabilidade é de cada parlamentar, que tem suas próprias bandeiras", resumiu o deputado Delegado Waldir (GO), líder do PSL na Câmara. "Essas passeatas podem acabar sendo um tiro pela culatra para o governo. Se forem contra o Congresso, vão explodir de vez as pontes de diálogo com o Legislativo. Se houver pouca gente, ficará claro que o presidente perdeu força", provocou o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho da Força.

Para o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), o momento é de lutar para que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) volte para o comando de Moro. Ao votar a medida provisória da reforma administrativa, na semana passada, a Câmara devolveu o controle do Coaf para o Ministério da Economia, mas o texto ainda terá de passar pelo crivo do Senado.

Convocações

O Instituto Brasil 200, movimento de empresários liderado por Flávio Rocha, dono da varejista Riachuelo, por exemplo, decidiu apoiar publicamente as manifestações em defesa do presidente. O grupo, que reúne nomes do empresariado aliados ao governo, como Luciano Hang (dono da Havan) e João Appolinário (Polishop), estava reticente em incentivar a adesão aos atos no início, mas mudou de posição, afirmou Gabriel Rocha Kanner, que é presidente do Brasil 200. “Estávamos contrários porque a manifestação surgiu de forma nebulosa, com pautas com ataques às instituições e a favor do fechamento do Congresso”, afirmou. Segundo ele, porém, as pautas “evoluíram” e as manifestações terão agora o apoio de empresários. 

Nas redes socais, apoiadores do presidente convocam usuários a aderirem às manifestações em favor do governo. O deputado Nicoletti (PSL-RR) usou o Twitter para convidar para “o grande ato em apoio ao presidente”. Carla Zambelli (PSL-SP) usou a decisão do STF de criminalizar a homofobia para convocar manifestantes. Segundo Zambelli, o STF está “legislando”, o que é “mais um motivo para irmos às ruas no domingo”. Os caminhoneiros também se engajaram nas convocações e estão chamando colegas para pararem no dia 26 e no dia 29, “pela governabilidade e também em apoio ao presidente”.

Outro grupo a chamar a manifestação é o Brasildireita. “Convocamos os brasileiros a irem às ruas para aumentar a pressão junto aos parlamentares e gerar reflexão sobre o que de fato é importante: jogo de poder ou salvar o país?” comenta Aldo Della Rosa. presidente do Movimento Brasil Direita.

Centrão é alvo de críticas

Com mais 1,5 milhão de seguidores apenas no Facebook, o Movimento Avança Brasil é um dos grupos que estarão à frente dos atos. Seus integrantes prometem sair às ruas para pedir, por exemplo, a reforma da Previdência e a aprovação do pacote anticrime apresentado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Um outro "alvo", porém, não será esquecido: o Centrão. "A gente aproveita para fazer um repúdio ao comportamento de bloqueio do Centrão, que está atrapalhando as reformas necessárias", disse o presidente do Avança Brasil, Eduardo Platon, para quem políticos do bloco "impedem os avanços do governo".

Ele não é o único a pensar dessa forma. "Estamos indo (na manifestação) contra o Centrão, acredito que eles estão chantageando o Brasil", afirmou Ana Cláudia Graf, uma das lideranças do Ativistas Independentes, que soma outros 85 mil seguidores no Facebook. Para evitar o isolamento, as pautas das manifestações são difusas: vão do pacote de Moro à Previdência, passando ainda pela defesa da CPI da Lava Toga, para investigar o "ativismo judicial". O que prevalece, porém, é uma retórica contra a classe política, que é acusada de conspirar para derrubar o presidente.

Nada mais natural que o Centrão, crucial na aprovação de projetos de interesse do governo no Congresso, tenha virado o alvo principal de parte da rede bolsonarista. O bloco, que reúne cerca de 230 deputados e tem no seu núcleo duro partidos como DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade, ensaiou na semana passada uma mudança de rumo, com receio da opinião pública. Sob pressão de aliados das redes sociais, o bloco abriu mão da cobrança para a recriação dos ministérios das Cidades e da Integração Nacional, facilitando a votação da Medida Provisória que reduziu a estrutura do Executivo para 22 ministérios.

A MP foi aprovada na quarta-feira na Câmara, mas o Centrão ainda conseguiu reunir votos suficientes para tirar da alçada da Justiça o Coaf. Considerado estratégico por Moro no combate à corrupção, o órgão voltou a ser incorporada ao Ministério da Economia. Segundo levantamento do jornal O Estado de S. Paulo, entre os grupos que participam dos atos estão ainda o Consciência Patriótica, o Direita São Paulo e o Brasil Conservador. Além deles, dezenas de outros grupos menores atuam nas redes sociais.

BML fica de fora

O Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua já avisaram que vão ficar de fora dos protestos. Com forte participação no movimento para o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, os dois grupos criticam exatamente o discurso "antipolítico" que deve marcar os discursos de parte dos manifestantes. "Existe uma retórica antipolítica que foi levantada por grupos da ala ideológica do governo. O MBL é a primeira trincheira de enfrentamento à mentalidade antipolítica", afirmou Renato Batista, coordenador do MBL. Já a coordenadora do Vem Pra Rua, Adelaide Oliveira, criticou o tom personalista dos atos, além de algumas pautas que considera antirrepublicanas. "Eu ouvi 'Fora STF'. Não posso pedir fechamento do STF. A gente acredita no diálogo e na política que defende ideias".


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