Jardel é investigado por quatro crimes, diz procurador-geral do MP

Jardel é investigado por quatro crimes, diz procurador-geral do MP

Deputado estadual retia R$ 3 mil de assessores e integrantes da bancada

Correio do Povo e AE

Deputado Jardel é alvo de investigação do MP

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* Com informações de Flávia Bemfica

O deputado estadual Mário Jardel (PSD) é investigado pelos crimes de concussão, falsidade documental, lavagem de dinheiro e peculato, informou o procurador-geral de Justiça do Ministério Público (MP) gaúcho, Marcelo Dornelles, em coletiva que detalhou a operação Gol Contra, deflagrada nesta segunda-feira. 

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A investigação do MP indicou que o deputado exigia uma parte dos salários de todos os assessores nomeados em seu gabinete e de integrantes da bancada, já que ele é o único representante do partido na AL. A quantia retida de cada um era de, no mínimo, R$ 3 mil. O MP ainda não tem o valor exato do que foi movimentado. Essa informação deve ser divulgada nos próximos dez dias.

O MP obteve na Justiça uma ordem de suspensão do exercício da função pública do deputado na Assembleia Legislativa (AL), válida por 180 dias. No pedido entregue ao Tribunal de Justiça, o procurador-geral de Justiça ressalta que as investigações demonstram o "exagerado apego" do deputado estadual Mário Jardel "a toda e qualquer possibilidade de lucrar às custas dos servidores comissionados e, de modo indireto, do erário".

O objetivo é poder ouvir os servidores subordinados ao parlamentar sem que ele interfira nas investigações. "Tem alguns CCs envolvidos, mas a maioria era vítima da coação", disse o procurador. Dornelles afirmou que a suspensão é  apenas do cargo público e não da função política, já que o órgão investiga a questão criminal e não a conduta de Jardel enquanto político. 

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) cumpriu mandados de busca e apreensão no gabinete de Jardel na AL, assim como nas residências dele, da mãe e do irmão. Também foram alvo da operação as casas do chefe de gabinete do deputado e de duas assessoras "fantasmas", seriam quatro no total. Foram apreendidos diversos celulares, já que havia muita troca de informações por telefone. Também foram localizadas duas buchas de cocaína na casa de Jardel, mas ele não foi preso porque foi considerado usuário.

As investigações do MP, coordenadas pelo promotor de Justiça Flávio Duarte, concluíram que existiria uma estrutura criminosa instalada na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, tendo Jardel como maior beneficiário. O advogado e assessor do parlamentar seria um dos mentores do esquema.

De acordo com o MP, em novembro o aluguel da casa da mãe e do irmão de Jardel atrasou cinco dias e o deputado teria ordenado que um dos assessores fizesse o pagamento imediato. Ele teria pago com cheque pré-datado e cobrado diárias fictícias para o ressarcimento do dinheiro.

Também há indícios de fraude de diárias de viagem e valores de indenização veicular. O MP citou, por exemplo, um deslocamento feito para o município de Santo Augusto, entre 30 de outubro e 2 de novembro. Os documentos apresentados para o Parlamento apontam que Jardel, acompanhado de um assessor, visitou a Apae da cidade e participou de cultos na Igreja Assembleia de Deus, além de encontros com a comunidade local para o recebimento de demandas. Para a viagem, foi destinado R$ 1.766,67 para Jardel e R$ 961,67 para o assessor. Só que ele teria retornado para Porto Alegre um dia antes.

Outro registro aponta que entre 14 e 17 de agosto, um assessor de Jardel – que é médico formado no Uruguai – viajou para Cuiabá supostamente para tratar do projeto para um banco de sangue virtual. No entanto, ele teria ido ao local para uma prova do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida), do Ministério da Educação, que valida diplomas obtidos no exterior. Além de R$ 1.433,67 de diárias fora do Estado, teriam sido pagas as passagens aéreas.

Situação semelhante ocorreu em relação a uma viagem feita à Fortaleza, terra natal de Jardel. Entre 17 e 19 de junho, o advogado e assessor Christian Vontobel Miller foi até a capital cearense para tratar de um processo ao qual o deputado responde pelo não pagamento de pensão alimentícia a uma filha. Só que a justificativa para o pagamento de diárias, no valor de R$ 1.024,05, teria sido de que ele iria tratar de projetos na área do esporte.

Histórico

Em abril, Jardel já havia causado polêmica ao exonerar seu gabinete na Assembleia Legislativa e se afastar temporariamente de suas funções, sob justificativa de uma depressão. Na época, o ex-jogador, que é o único deputado estadual do PSD, disse que estava incomodado com a atitude dos servidores ligados ao seu gabinete, que segundo ele tinham o hábito de tomar decisões sem consultá-lo. Jardel foi eleito no ano passado com 41.227 votos.

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