Lula esteve em reunião que acertou propina na Petrobras, diz Palocci

Lula esteve em reunião que acertou propina na Petrobras, diz Palocci

Juiz federal Sérgio Moro levantou sigilo de trecho da delação do ex-ministro da Fazenda

Fernando Mellis / R7

Juiz federal Sérgio Moro levantou sigilo de trecho da delação do ex-ministro da Fazenda

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* Com informações da AE

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria participado de uma reunião no Palácio do Planalto em que foi acertado o pagamento de propina envolvendo navios-sonda da Petrobras para a campanha de Dilma Rousseff em 2010. A informação consta no acordo de delação do ex-ministro dos governo Lula e Dilma Antonio Palocci, que estava em sigilo até esta segunda-feira.

O levantamento do sigilo foi feito pelo juiz federal Sérgio Moro. Essa parte da delação de Palocci, que o ex-ministro fechou com a Polícia Federal e foi homologada pelo desembargador Gebran Neto, do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF4), está inserida nos autos de uma das ações penais da Operação Lava Jato contra Lula - em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na compra de um apartamento em São Bernardo do Campo e de um terreno supostamente destinado ao Instituto Lula.

Dos depoimentos prestados por Palocci no acordo, o Termo de Colaboração n.º 1 se refere "ao conteúdo do presente feito", assinalou Moro. "Examinando o seu conteúdo, não vislumbro riscos às investigações em outorgar-lhe publicidade." "Havendo ademais ação penal em andamento, a publicidade se impõe pelo menos no que se refere a depoimento que diz respeito ao presente caso (artigo 7.º, §3º, da Lei nº 12.850/2013.)", completou o magistrado. Moro assinalou que "caberá aos Juízos perante os quais ele (Palocci) responde a ações penais decidir acerca da concessão ou não a ele de benefícios, o que terá que ser feito, por exemplo, na presente ação penal".

Trecho da delação ao qual o R7 teve acesso fala da reunião:

"Que, inclusive, pode afirmar que participou de reunião, no início de 2010, na biblioteca do Palácio do Alvarada, com a presença também de Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e José Sérgio Gabrielli, na qual o então presidente da República foi expresso ao solicitar do então presidente da Petrobras que encomendasse a construção de 40 sondas para garantir o futuro político do país e do Partido dos Trabalhadores com a eleição de Dilma Rousseff, produzindo-se os navios para exploração do pré-sal e recursos para a campanha que se aproximava".

Palocci disse ainda ao delegado Filipe Hille Pace, da Polícia Federal no Paraná, que aquela "foi a primeira reunião realizada por Luiz Inácio Lula da Silva em que explicitamente tratou da arrecadação de valores a partir de grandes contratos da Petrobras".

Esta é a segunda vez que o encontro entre Lula, Dilma e Gabrielli volta a ser citado por Palocci. Em 2017, o ex-ministro falou sobre a reunião em depoimento ao juiz Sérgio Moro.

A delação do ex-ministro petista cita ainda outro episódio, em 2007, que envolve a nomeação de Jorge Zelada, indicado pelo MDB, para ocupar a diretoria internacional da Petrobras. Segundo o documento, o executivo fez um contrato de US$ 800 milhões com a empreiteira Odebrechet, que renderia US$ 40 milhões (5% do total) de propina.

Devido à "tamanha ilicitude revestida nele [contrato], teve logo seu valor revisado e reduzido de US$ 800 para US$ 300 milhões", complementa o documento.

Outro lado

O advogado de Antônio Palocci, Tracy Reinaldet, diz que "continuará colaborando com a Justiça, esclarecendo os fatos que são objeto do processo e apresentando suas provas de corroboração.

A defesa do ex-presidente Lula afirma que "a conduta adotada hoje pelo juiz Sérgio Moro [levantar o sigilo da delação] apenas reforça o caráter político dos processos e da condenação injusta imposta ao ex-presidente Lula".

"Moro juntou ao processo, por iniciativa própria (“de ofício”), depoimento prestado pelo Sr. Antônio Palocci na condição de delator com o nítido objetivo de tentar causar efeitos políticos para Lula e seus aliados, até porque o próprio juiz reconhece que não poderá levar tal depoimento em consideração no julgamento da ação penal. Soma-se a isso o fato de que a delação foi recusada pelo Ministério Público. Além disso, a hipótese acusatória foi destruída pelas provas constituídas nos autos, inclusive por laudos periciais", acrescenta o advogado Cristiano Zanin Martins.

O defensor de Lula ainda critica a delação de Palocci.

"Palocci, por seu turno, mentiu mais uma vez, sem apresentar nenhuma prova, sobre Lula para obter generosos benefícios que vão da redução substancial de sua pena - 2/3 com a possibilidade de “perdão judicial” - e da manutenção de parte substancial dos valores encontrados em suas contas bancárias", conclui.

O R7 tenta contato com a defesa de Dilma Rousseff.

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