Manifestação contra “ideologia de gênero” termina com cabeçada em menor de idade no Rio

Manifestação contra “ideologia de gênero” termina com cabeçada em menor de idade no Rio

Adulto não aceitou as opiniões do adolescente e agrediu o estudante

Agência Brasil

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Um protesto de pais de estudantes do Colégio Pedro II contra o que consideram “ideologia de gênero nas escolas” e por uma “escola sem partido” terminou neste sábado com um estudante agredido na Praia de Copacabana. Policiais militares testemunharam a agressão. O adolescente tentou registrar a ocorrência na 13ª Delegacia de Polícia, na zona sul do Rio de Janeiro, mas não conseguiu porque é menor de idade e não estava acompanhada dos pais.

O jovem recebeu uma cabeçada em meio a uma discussão com um adulto durante a manifestação dos pais de estudantes na orla. O protesto dos pais questionou a decisão do Colégio Pedro II de acabar com a distinção de uniformes para meninas ou meninos.

O ato foi interrompido por um grupo de estudantes do campus do colégio em Humaitá, que provocou os adultos cantando frases como: “Eu vou para escola pela minha educação. Esse meu direito Temer não vai tirar, não/ Eu vou para luta mesmo, você pode reclamar, mas a minha identidade você não pode tirar”. Muitos meninos do grupo vestiam saias, que, com a nova decisão do colégio, deixou de ser, necessariamente, parte do uniforme apenas das meninas.

Além da crítica à mudança nas regras de vestuário, pais de alunos reclamaram de outras medidas da escola. Pai de um estudante de 7 anos, Fábio Silva disse que Colégio Pedro II é permissivo com manifestações em favor de candidatos e partidos políticos considerados de esquerda.

“Cheguei essa semana para buscar meu filho e vi: estavam todos (alunos) com (adesivos) Fora Temer. Aonde que garotos de 12 anos, de 15 anos, têm condições de estar com Fora Temer?”, questionou. “O colégio tem que ensinar português, matemática e não focar outras temáticas”, criticou.

Mãe de um estudante de 6 anos, Liliane Santos Almeida Mendonça disse que o problema não é a permissão para o uso de saia pelos meninos. Segundo ela, alunos LGBT (gays, lésbicas, bissexuais e travestis) “vão até as salas dos mais novos para conquistar as crianças com a ideologia deles”, com permissão da escola. “O que uma criança de 13 anos vai poder dizer a outra de 17, de 18 anos? Não é coerente. Como uma criança de 13 anos vai combater um professor que diz que menino pode namorar menino e menina com menina?”, questionou.

Na manifestação deste sábado na orla, Liliane também protestou contra uma professora, que, segundo ela, deu uma boneca para o filho levar para casa. “A professora não pode fazer isso. Se a professora diz para um aluno que ele pode brincar de boneca, ela tem que saber se é isso que a mãe dele acredita. A educação do filho depende da família, essa responsabilidade é nossa e isso que a escola quer tirar de nós”, reclamou a mãe, que é professora.

Em resposta aos pais de alunos que participavam do ato, a estudante Luisa Seixas, 16 anos, disse que os argumentos contra as mudanças são conservadores. “No mundo todo, vanguardas nascem no movimento estudantil. Na história recente, você não pode separar o movimento estudantil da luta política. A gente tem 14 anos, 15 anos, mas temos nossa opinião e estamos aqui lutando por nosso futuro”, disse. “Ninguém é apolítico, nós temos capacidade crítica”, acrescentou outra estudante que preferiu não se identificar. Para as jovens, “não existe educação apartidária”.

Resposta

O Colégio Pedro II nega que professores façam “doutrinação ideológica”. Em nota, o chefe da seção de supervisão e orientação pedagógica, Carlos Turque, disse que a escola inclui temas sociais pertinentes em seu programa de ensino. “O colégio não trabalha com o conceito de 'ideologia de gênero' até porque o reconhece como reducionista e desqualificador de uma pauta de extrema importância. Como escola pública, laica e de qualidade, o Pedro II entende que as desigualdades de gênero estão entre os desafios a serem enfrentados em prol de uma sociedade mais justa e solidária.”

Uniformes

Em julho, a escola aboliu, por meio de portaria interna, a distinção de uniforme para alunos e alunas. A reitoria informou que não determinou o tipo de vestimenta que cada um deve usar, apenas definiu os itens permitidos, de maneira geral, após debate de dois anos que teve a participação dos jovens.

“O Colégio Pedro II não está obrigando ou induzindo os estudantes a usarem determinada vestimenta. Ne verdade, o colégio está possibilitando que os estudantes usem o tipo de uniforme de acordo com suas identidades de gênero. Isso é inclusão. E, provavelmente, a maioria dos estudantes continuará a usar o uniforme que sempre usou”, disse a escola em nota divulgada em setembro.

Procurada, a Polícia Civil não comentou o confronto entre pais e alunos.

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