Marco Antonio Araujo: Radicalização de Lula só favorece o governo Bolsonaro

Lula solto poderá trazer benefícios para a democracia. Um país sem uma boa oposição deixa de avançar na velocidade que o bom debate estimula. E todos imaginamos a felicidade de Jair Bolsonaro com a liberdade de seu maior antagonista. Não há o que fortaleça mais os aliados do presidente que uma boa polarização com os petistas.

É com esse cenário que provavelmente vamos ter de lidar nas próximas semanas. Os discursos do ex-presidente ao sair da prisão não são o melhor indicativo do tom que será adotado no dia a dia da política. Se for, ao insistir no confronto bélico, retórico, inflamado, o PT só tem a perder.

 Esse território de disputa já não é mais prerrogativa da esquerda. As eleições de 2018 e este ano que se aproxima do fim deixam bem claro que o país mudou radicalmente – é nisso não há julgamento ideológico ou de valor, apenas constatação. E quem tem a caneta na mão, pela primeira vez em décadas, é a direita.

Não se sabe ainda se haverá espaço na arena política para o retorno do Lula negociador, do político calejado que chegou ao poder quando aprendeu a conciliar interesses. Ele precisa dar algumas satisfações à militância, entoar umas palavras de ordem mais retumbantes e passar a impressão de que existe campo para uma luta de igual para igual.

Só que não há. E Lula sabe disso. Se insistir em bravatas, num discurso de enfrentamento, de se espelhar na recente revolta chilena, as bandeiras vermelhas podem ser enroladas em tempo recorde e de forma humilhante. O Brasil mudou. E radicalização, no Brasil de hoje, só fortalece um dos lados. Acertou: o de Bolsonaro.