Mesmo sem apelo popular, propaganda obrigatória pode definir eleição

Mesmo sem apelo popular, propaganda obrigatória pode definir eleição

Especialistas dizem que horário em rádio e TV é o principal recurso da campanha dos candidatos

Rafaella Fraga / Correio do Povo

publicidade

Rejeitado por parte do eleitorado brasileiro e fundamental para os candidatos. É dessa forma que analistas políticos definiram a propaganda eleitoral gratuita das eleições municipais, que começou a ser transmitida nesta terça-feira no rádio e na televisão. Segundo enquete lançada no site do Correio do Povo e respondida por 1883 internautas até a publicação desta reportagem, cerca de 78% do público disse que se recusa a acompanhar o programa eleitoral.

Com o objetivo de apresentar candidatos e propostas, o horário eleitoral pode angariar votos para prefeito e vereador, mas também pode arruinar campanhas, se a estratégia empregada não for bem recebida. “A estratégia de um candidato pode se alterar com a repercussão do horário gratuito, por exemplo. É um local tanto para o candidato que administra mostrar o que já fez, como também serve para a palavra de outros candidatos e para apresentar novos nomes”, sintetiza Silvana Krause, doutora em Ciência Política e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).

Apesar de uma parcela da população alegar que não assiste ou ouve a propaganda política, a ação tem papel decisivo no pleito. “É um recurso de apresentação de uma mercadoria. Quem melhor apresentar, ganha. Há uma série de estudos que mostram que o horário gratuito pode agir para o bem e para o mal. Se a estratégia é mal usada, pode fazer com que o candidato, tenha rejeição. O contrário também é verdade”, afirma a professora.

Com o palanque armado, o objetivo dos candidatos é fazer com que olhos e ouvidos do eleitor estejam atentos às propostas dos potenciais prefeitos e vereadores. “O programa acaba entrando em horários específicos, independente de o eleitor estar mesmo assistindo ou não. A TV está ligada antes da novela, por exemplo, enquanto a dona de casa faz o jantar. De alguma forma ou de outra, o horário eleitoral acaba chegando ao eleitor, mesmo que ele rejeite isso”, opina a jornalista Taline Oppitz, colunista do Correio do Povo.

As propostas apresentadas, o jingle utilizado durante o horário eleitoral e até mesmo os bordões eventualmente adotados tornam-se motivo de discussão e provocam comentários. Mesmo que o público não assista, parte dele acaba tomando conhecimento do que é tratado na propaganda eleitoral. “O eleitor que assiste é o responsável por reproduzir aquele conteúdo, por disseminar os fatos que são transmitidos na propaganda política. O que é veiculado acaba sendo conhecido”, explica a professora Silvana Krause.

Campanha começa agora

Embora a campanha eleitoral esteja autorizada desde o dia 6 de julho pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), especialistas consideram que a disputa "de verdade" começa com a veiculação da propaganda política no rádio e na TV. “Agora começa pra valer. Antes estava no período da divulgação das candidaturas, exposição do perfil dos candidatos. Mas a veiculação da propaganda eleitoral no rádio e TV dá início de vez à disputa pelo pleito”, destaca a professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e doutora em Ciência Política, Márcia Ribeiro Dias.

A especialista reforça ainda que em um país onde a maioria das pessoas se informa pela TV, a propaganda eleitoral é uma arma poderosa. “Existem pesquisas que comprovam que muitos brasileiros decidem o voto olhando a propaganda eleitoral. Há picos de audiência na primeira semana e na última antes da eleição em função disso. A TV é um veículo extremamente popular. Os candidatos não valorizariam tanto um recurso se ele não fosse realmente eficaz”, salienta a docente.

Inserções na programação são aliadas dos candidatos

Além do horário político, a lei brasileira prevê inserções diárias de até 60 segundos espalhadas pela programação das emissoras. O artifício é tão importante quanto o horário eleitoral. “As inserções são curtas e entram em horários comerciais. E elas acabam tendo um impacto bem maior que o horário político. Novamente, mesmo que o eleitor não esteja prestando atenção, ele não fica imune a algum candidato, alguma proposta veiculada nesse curto período. E nem dá tempo de trocar de canal”, diz Taline.

Por ser rápido e objetivo, o recurso é um forte aliado dos candidatos, que segundo a jornalista, têm investido na qualidade dos spots para fisgar o eleitor. “Essa é a principal aposta dos candidatos, pra justamente bombardear o eleitor e tentar, de alguma forma, ficar na lembrança dele”, acrescenta.

Da rua para a internet: as consequências do palanque eletrônico


Houve um período em que os comícios de rua eram a principal estratégia de campanha para conquistar o voto do eleitorado. Esse cenário foi alterado com a disseminação das redes sociais, que se tornaram um novo palanque político e um canal de interatividade quase instantânea entre candidato e eleitor, segundo Taline Oppitz. “As redes sociais são fundamentais. A propaganda de rádio e TV é de mão única, ou seja, o candidato dá a sua mensagem e deu. Na internet, no Twitter e Facebook, é diferente. As redes sociais geram demanda de crítica, elogios e perguntas dos internautas. E isso vai ter que ser respondido”.

Para determinadas situações como, por exemplo, para eleger o presidente da República, o uso do Twitter e Facebook é fundamental para atingir moradores de cidades e regiões distantes. No entanto, no pleito municipal, a internet é uma alternativa a mais para a campanha política. Para Taline Oppitz, o contato direto com o eleitor ainda fala mais alto. “Nas eleições municipais acho que o contato direto tem um peso maior. Apertar a mão do candidato, olhar no olho, tudo isso tem um impacto maior. As eleições para presidente, por exemplo, são mais distantes. No pleito municipal, o candidato está falando de uma coisa que o eleitor realmente vive diariamente, no transporte, na segurança, etc”, sustenta a jornalista.

No rádio, o horário político é veiculado das 7h às 7h30min e das 12h às 12h30min e na TV vai ao ar de segunda a sábado, das 13h às 13h30min e das 20h30min às 21h. As propagandas para prefeito sairão às segundas, quartas e sextas, ficando as terças, quintas e os sábados para os candidatos a vereador. A transmissão será encerrada no dia 4 de outubro, três dias antes da votação do primeiro turno.

Bookmark and Share

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895