Mesmo sem resgate na China, gastos de Bolsonaro com cartão sobem

Mesmo sem resgate na China, gastos de Bolsonaro com cartão sobem

Presidente questionou responsabilidade da imprensa, mas montante subiu 59% em relação a governos anteriores

AE

Despesas seguem sob sigilo, por decisão do Planalto

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Os gastos sigilosos da Presidência da República com cartão corporativo, usado para bancar despesas do presidente Jair Bolsonaro, aumentaram nos primeiros quatro meses do ano, mesmo quando descontado o valor da operação que resgatou brasileiros em Wuhan, na China. Após reportagem do Estado de S. Paulo revelar que a fatura de janeiro a abril havia dobrado, o presidente justificou a alta com os custos da viagem, que utilizou aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB).

Segundo o presidente afirmou, foram utilizados R$ 739.598, via cartão corporativo, com os três voos enviados ao país asiático em fevereiro deste ano. Como mostrou a reportagem no domingo, as despesas sigilosas vinculadas a Bolsonaro foram de R$ 3,76 milhões neste ano, segundo informações do Portal da Transparência. O valor representa um aumento de 98% em relação à média dos últimos cinco anos no mesmo período.

Diferentemente do que diz Bolsonaro, ao abater o valor citado por ele com os voos para a China, os R$ 3 milhões relacionados a outros gastos sigilos ainda assim representam uma alta de 59% em relação à média do que gastaram Dilma Rousseff e Michel Temer, seus antecessores no cargo.

Desde domingo, quando a reportagem foi publicada, o presidente tem citado os voos para a China como justificativa para o aumento dos gastos sigilosos com cartão corporativo, mas, até então, ele não havia revelado o valor. "O que eu posso falar da China é que a imprensa, como sempre, dá licença aí, a imprensa como sempre criticando o cartão corporativo", afirmou o presidente, em frente ao Palácio da Alvorada, ao responder uma mulher que o questionou se o país asiático escondia dados sobre o coronavírus. "Parte da operação da China, três aviões da FAB, por ser avião militar, foi financiada com cartão corporativo meu. Apareceu eu usando o cartão para fazer festa. Falta de caráter e de responsabilidade dessa imprensa aí."

Os gastos com a operação que trouxe de volta ao País 34 brasileiros até então estavam em sigilo. A hashtag "MostraAFaturaBolsonaro" ficou na lista de assuntos mais comentados do Twitter nesta segunda-feira. Parlamentares de diferentes partidos - desde Kim Kataguiri (DEM-SP) a Jandira Feghali (PCdoB-RJ) - cobraram de Bolsonaro que revele como gastou o dinheiro público via cartão corporativo. Vinicius Poit (Novo-SP) apresentou um requerimento de informações para a Presidência da República.

Em resposta à reportagem na semana passada, o Palácio do Planalto deu uma versão diferente do que afirmou Bolsonaro como principal motivo do aumento. Sem dar detalhes, a assessoria de imprensa da Secretaria-Geral da Presidência - órgão responsável pela gestão dos cartões corporativos - informou que a maior parte das despesas neste ano está relacionada às viagens presidenciais em território nacional e viagens internacionais. Neste ano, o presidente esteve na Índia em janeiro, participou da posse do presidente do Uruguai, no início de março e, no mesmo mês, viajou com uma comitiva de 31 pessoas aos Estados Unidos.

O cálculo que aponta o gasto de R$ 3,76 milhões leva em conta apenas os valores vinculados à Secretaria Especial de Administração, que é responsável por despesas do presidente e de sua família, das residências oficiais e demais gastos corriqueiros - material de escritório do gabinete presidencial, por exemplo. Quando considerados outros órgãos vinculados à Presidência da República, como o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o valor salta para R$ 7,55 milhões neste início de ano - aumento de 91% em relação à média do mesmo período.

Na mesma resposta dada na semana passada, a Secretaria-Geral chegou a citar o aumento a despesas com a operação na China, mas sem detalhar qual órgão foi o responsável pelos gastos. Questionado novamente, o Palácio do Planalto não se manifestou até a conclusão desta reportagem.


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