Ministério da Mulher pede apuração sobre aborto legal em menina de 11 anos em SC

Ministério da Mulher pede apuração sobre aborto legal em menina de 11 anos em SC

Pasta disse que encaminhar e pedir a averiguação de denúncias recebidas aos órgãos responsáveis é uma obrigação institucional

R7

Ministério disse ter recebido mais de 300 denúncias pelo Disque 100

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O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos pediu uma apuração sobre os médicos que realizaram o aborto legal na menina de 11 anos estuprada em Santa Catarina.

Segundo a pasta, os ofícios, que serão enviados à Justiça e o Conselho Regional de Medicina, pela "ampla elucidação dos fatos", como cita o ministério, se deram devido a mais de 300 denúncias registradas pela Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, por meio do Disque 100, em 23 e 24 de junho.

Na nota oficial, divulgada nesta sexta-feira (15), a pasta escreve, ainda, que encaminhar e pedir a averiguação aos órgãos responsáveis é uma obrigação institucional:

"Todos os procedimentos de apuração e investigação são prerrogativas constitucionais e democráticas para todos os envolvidos, tendo em vista ser este espaço, o da apuração, o adequado para a apresentação de evidência, expostas à ampla defesa e o contraditório."

Entenda o caso

A Justiça de Santa Catarina tentou induzir uma menina de 11 anos, grávida após ser estuprada, a não realizar um aborto. A criança foi mantida em um abrigo por mais de um mês, depois de enfrentar a resistência da juíza Joana Ribeiro Zimmer e da promotora Mirela Dutra Alberton, que argumentaram contra o procedimento e a favor da vida do feto durante a audiência judicial. As informações foram reveladas pelo site The Intercept Brasil na segunda-feira (20).

A menina foi atendida por uma equipe médica no início de maio de 2022. O hospital teria negado o aborto, já que ela estava na 22ª semana de gravidez e as regras da instituição permitiam o procedimento até a 20ª semana. O caso, então, foi parar na Justiça. O Código Penal  permite a interrupção da gravidez em caso de estupro, sem impor limitação de semanas. Além disso, laudos médicos revelavam que ela corria maior risco de vida a cada semana de gravidez.

Dias depois, a promotora do Ministério Público de Santa Catarina Mirela Dutra Alberton ajuizou uma ação cautelar para pedir o acolhimento institucional da menina em um abrigo. Em 9 de maio, a criança participou de uma audiência judicial junto com a mãe, a juíza e a promotora. Na reunião, o grupo se comprometeu a evitar que a menina fosse vítima de abuso, mas a juíza e a promotora tentaram induzi-la a não realizar o aborto.

"Você suportaria ficar mais um pouquinho?", questiona a juíza nas imagens. A promotora Alberton completa: "A gente mantinha mais uma ou duas semanas apenas a tua barriga, porque, para ele ter a chance de sobreviver mais, ele precisa tomar os medicamentos para o pulmão se formar completamente".

Ela continua e sugere que o aborto faria a criança de 11 anos ver o bebê agonizar até a morte: "Em vez de deixar ele morrer – porque já é um bebê, já é uma criança –, em vez de a gente tirar da tua barriga e ver ele morrendo e agonizando, é isso que acontece, porque o Brasil não concorda com a eutanásia, o Brasil não tem, não vai dar medicamento para ele… Ele vai nascer chorando, não [inaudível] medicamento para ele morrer".

Na audiência, a juíza defende a tese de que o aborto não pode ser realizado após a 22ª semana de gravidez. O procedimento após esse período, segundo Zimmer, "seria uma autorização para o homicídio". A juíza insiste na questão e tem o seguinte diálogo com a vítima de estupro:

"Qual é a expectativa que você tem em relação ao bebê? Você quer ver ele nascer?", pergunta ela.

"Não", responde a criança.

"Você gosta de estudar?"

"Gosto."

"Você acha que a tua condição atrapalha o teu estudo?"

"Sim."

"Você tem algum pedido especial de aniversário? Se tiver, é só pedir. Quer escolher o nome do bebê?"

"Não."

"Você acha que o pai do bebê concordaria pra entrega para adoção?", pergunta, referindo-se ao estuprador.

"Não sei", diz a menina.

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina ressaltou que o  processo está em segredo porque envolve menor de idade, "circunstância que impede sua discussão em público", e que a Corregedoria-Geral da Justiça do estado já instaurou pedido de providências na esfera administrativa para investigar os fatos.


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