Moraes vota contra liberação de missas e cultos na pandemia

Moraes vota contra liberação de missas e cultos na pandemia

Já votaram Gilmar Mendes e Kassio Nunes, que mantiveram posicionamento anterior, contra e a favor, respectivamente

R7

Já votaram os ministros Moraes e Nunes Marques, além do relator Gilmar Mendes

publicidade

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Morais, votou contra a liberação de cultos e missas durante a pandemia. Moraes defende que o que "está em jogo é a defesa da vida, da sáude de todos os brasileiros" e a finalidade dos decretos temporários é limitar aglomeração e não de atacar a liberdade religiosa. 

O STF retomou nesta quinta-feira o julgamento, com o voto do ministro Kassio Nunes Marques, a favor de realizações de cerimônias com púlbico. O ministro Gilmar Mendes havia sido o primeiro a votar na sessão de quarta, contrário à liberação de cerimônias religiosas presenciais.

Em seu voto, Moraes disse que parecia estar julgando algum decreto proibindo qualquer assistência religiosa específica. "É inacreditável isso, depois que o país bateu recorde de 4 mil mortos por dia. O mundo ficou chocado quando nos ataques às Torres Gêmeas em Nova York morreram 3 mil pessoas. Aqui estamos com 4 mil mortos por dia. É um momento gravíssimo dessa pandemia", afirmou.

Ele citou a ausência de leitos, insumos, pessoas morrendo sufocadas não só em um ou dois estados da federação, mas em vários, até mesmo no estado mais rico, em São Paulo, e as dificuldades dos profissionais de saúde que não estão dando conta do aumento de mortes no Brasil. Apontou como positivo o "isolamento completo que salvou a cidade de Araraquara", no interior de São Paulo.

"Nós não estamos na mesma situação dos demais países europeus ou dos Estados Unidos. A segunda onda mata muito mais que a primeira no Brasil. O número de mortos tem crescimento exponencial. O Brasil não se preparou. Nós não conseguimos vacinar ainda 10% da população. Essa é a discussão, não me parece momento algum que a discussão seja a liberdade regliosa, defendida por esse tribunal em todos os julgamentos que aqui chegaram."

Para ele, o foco da discussão é a saúde. "Aqueles que leram meus votos nas questões da liberdade religiosa vão perceber que concordo com todas as afirmações feitas pelo ministro Nunes Marques sobre a questão. Mas não é isso que estamos discutindo. O que está em jogo é a defesa da vida, da saúde de todos os brasileiros, independentemente da crença, da religião."

Citou líderes religiosos, sem grandes conhecimento científicos, na idade média, que defenderam fechamento de igrejas. "Em pleno século 21, com todo conhecimento histórico e científico, defendendo retrocesso de medidas temporárias e justificadas, não me parece lógico, coerente, feito em defesa de direitos fundamentais."

O julgamento acontece após decisões conflitantes sobre o tema. No sábado, o ministro Nunes Marques liberou a presença dos fiéis no país, determinando que fosse respeitado o limite de 25% da lotação de cada espaço. Ele atendeu pedido da Associação Nacional de Juristas Evangélicos. No final de semana, cerimônias já foram realizadas com público pelo país, em razão da decisão.

Na segunda-feira, porém, Gilmar Mendes concedeu decisão contrária à de Nunes Marques e julgou improcedente pedido do partido PSD contra decreto do governo de São Paulo que vetou eventos com aglomerações, - entre eles os religiosos - durante a fase emergencial do Plano São Paulo, iniciada no dia 15 de março.

Nesse cenário de decisões conflitantes, o presidente da Corte, ministro Luiz Fux, decidiu submeter a decisão de Gilmar Mendes ao plenário, para que os 11 ministros deliberem sobre o tema em busca de um entendimento que passe a ser adotado a partir de agora.

Julgamento

O julgamento começou na quarta-feira com participação do ministro da Advocacia-Geral da União, André Mendonça, que defendeu a presença de público nas igrejas, respeitando cuidados como número restrito de pessoas, e afirmou que "não existe cristianismo sem vida em comunidade".

O procurador-geral da República, Augusto Aras, também defendeu a possibilidade de público parcial nas igrejas. Ele afirmou que a "ciência salva vidas, e a fé também". Ambas caminham lado a lado em defesa da vida e da dignidade humana, sustentou Aras. O procurador-geral afirmou no sentido de que a possibilidade de frequentar cerimônias regiliosas tem impacto na saúde mental.

Gilmar Mendes votou contra esses argumentos e afirmou ser impensável qualquer ação do estado contrária à proteção coletiva da saúde. Ele fez um paralelo com o direito constitucional à vida. "A Constituição Federal de 1988 não parece tutelar um direito fundamental à morte", disse.

Gilmar afirmou ainda que a decisão do governo de São Paulo sobre fechamentos na fase emergencial vedou não só as atividades religiosas, mas também o atendimento presencial ao público em bares, restaurantes, shoppings, praias e parques, entrou outros.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895