"Mortos por exercer política pública", diz viúva de Bruno Pereira

"Mortos por exercer política pública", diz viúva de Bruno Pereira

Beatriz participou de comissão para discutir os desdobramentos das investigações da morte do marido e de jornalista

R7

Ela e o líder indígena e ex-coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Jader Marubo, foram ouvidos pela comissão

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A antropóloga Beatriz Matos, viúva do indigenista Bruno Pereira, disse, durante audiência pública da Comissão Temporária sobre a Criminalidade na Região Norte, que o marido e o jornalista Dom Phillips foram assassinados por exercerem um trabalho que deveria ser política pública do governo. Ela e o líder indígena e ex-coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Jader Marubo, foram ouvidos pela comissão na manhã desta quinta-feira, no Senado.

"Há essa falta de ação do poder público em proteger as terras indígenas e dos povos que ali vivem", afirmou. Comovida com o reconhecimento que o marido ganhou dos povos indígenas pelo seu trabalho, Beatriz ressaltou a importância da comissão acompanhar os desdobramentos da investigação.

Marubo disse que tem medo do que pode vir acontecer com ele e com a população da região por causa das ameaças. Segundo ele, a Funai não se pronunciou em relação aos últimos assassinatos. “ Não houve nem uma nota de solidariedade para quem está fazendo um trabalho efetivo.”

Sem apoio do governo federal

Mais de um mês depois do assassinato, Beatriz disse que até então nenhum plano emergencial foi executado para a proteção da região do Vale do Javali, enfatizando que os funcionários da Funai, os moradores, o movimento indígena e os próprios indígenas continuam desprotegidos.

"Ações de estímulo e incentivo deveriam ser entregues, para que as pessoas tenham alternativas de vida naqueles lugares, que possam viver normalmente sem ter medo de serem mortas", falou. A audiência pública foi para discutir sobre ações da Funai e sobre o apoio às famílias de vítimas da violência na região.

Crime não pode ficar impune

Beatriz acentuou que o crime não pode ficar impune, relembrando o assassianto de Maxciel Pereira dos Santos. Amigo e colega de trabalho de Bruno, Maxciel foi morto em setembro de 2019, com dois tiros na nuca na Avenida da Amizade (AM), e até hoje, o crime não foi esclarecido pela Polícia Federal do Amazonas. A antropóloga concluiu sua fala pedindo que o legado de seu marido seja respeitado, apesar de gerar indignação as declarações que menosprezam o trabalho de Bruno.

Relembre o caso

O indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips desapareceram no dia 5 de junho, após terem sido vistos pela última vez na comunidade São Rafael, nas proximidades da entrada da Terra Indígena Vale do Javari, região com o maior registro de povos isolados no mundo. A área sofre pressão há anos pela atuação de narcotraficantes, pescadores, garimpeiros e madeireiros ilegais que tentam expulsar povos tradicionais da região.

Bruno era servidor da Funai, mas estava licenciado desde que foi exonerado da chefia da Coordenação de Índios Isolados e de Recente Contato, em 2019. Dom morava em Salvador, na Bahia, e fazia reportagens sobre o Brasil havia 15 anos para os jornais The New York Times, The Washington Post e The Guardian.

No dia 15 de junho, a Polícia Federal localizou os restos mortais dos dois. A corporação encontrou os cadáveres depois de o pescador Amarildo da Costa confessar os assassinatos e levar policiais até o local onde havia enterrado os cadáveres.


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